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Atropelado na contramão por motorista sem carta, ciclista fala sobre acidente: 'Tentativa de homicídio'

Vítima passou por duas cirurgias de reconstrução da face e ainda fará uma terceira; motorista segue em liberdade

26 de Janeiro de 2022 às 15:30
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Ciclista foi atropelado na avenida Washington Luís na noite do último domingo (26)
Ciclista foi atropelado na avenida Washington Luís na noite do último domingo (26) (Crédito: Reprodução)

O ciclista J.Y.S, 28 anos, atropelado pelo motorista G.C.S, de 20 anos, que fugiu sem prestar socorro, em 26 de dezembro de 2021, na avenida Washington Luís, concedeu sua primeira entrevista ontem (25) ao jornal Cruzeiro do Sul. Após passar por duas cirurgias e relatar por meio de um familiar como aconteceu o acidente, desta vez a vítima conta o que sentiu no dia do atropelamento, as sequelas, o dia a dia após o acidente e o que espera da Justiça.

Ainda sem conseguir se comunicar direito devido aos pontos e pinos no rosto, ele diz que tinha o costume de andar de bike ao menos três vezes na semana, ir à academia e depois voltar para casa de bike, na zona oeste da cidade. No domingo (26) -- dia do atropelamento -- J.Y.S resolveu mudar o trajeto e, em vez de voltar pela Av. Afondo Vergueiro, optou pela Av. Washington Luís.

“Estava andando pela direita como de costume, com todos os equipamentos de segurança, roupa, capacete, luzes na frente e atrás. Quando estava me aproximando do Deck (bar localizado na Av. Washington Luís), foi tudo muito rápido. Escutei um veículo vindo e acelerando forte na contramão. Tentei até desviar, mas acabei colidindo e minha bike foi arremessada para o outro lado da avenida. Eu caí na frente do carro. Só me lembro do carro acelerando e passando por cima de mim. Fiquei caído, olhando para o veículo, que não parou e fugiu do local”.

Neste momento, J.Y.S diz ter tentado se levantar e colocou a mão no rosto. Foi quando percebeu que havia muito sangue no nariz e boca. Ficou assustado e caiu novamente no chão em uma poça de sangue. Em seguida, foi socorrido por duas mulheres que estavam no local. “Elas prestaram os primeiros socorros. O Samu chegou rápido, me colocaram na maca, daí eu apaguei e não lembro de mais nada. Fui acordar cinco dias depois, no coma”.

O atropelamento deixou fraturas na cavidade do olho, maxilar e dentes. Desde o acidente, já foram duas cirurgias de reconstrução de face. “É um tratamento que leva tempo e paciência para a recuperação. Coloquei uns ferrinhos na boca para fixar o maxilar, isso é muito doloroso. De alimentação, só consigo ingerir líquido e algumas comidas”.

A terceira cirurgia ainda não foi agendada. “Após essa terceira cirurgia, vou começar o tratamento dos dentes. Também terei de fazer fisioterapia”. O trauma, segundo ele, não foi apenas físico. “Trauma emocional eu tive bastante. Tanto pelo fato do acidente e também pelo fato de ficar internado no hospital”. Ele conta também que tudo foi afetado pelo acidente. “Na verdade mudou totalmente minha rotina”.

Para J.Y.S, se não fosse o capacete de fibra de carbono, não estaria vivo para contar sua história. “Creio que o capacete salvou minha vida, porque tinha marcas de pneu. A parte de trás chegou a quebrar”.

Sobre o motorista do veículo que causou o atropelamento e fugiu sem prestar socorro, o ciclista espera que ele pague pela irresponsabilidade que cometeu. “Não sei como um ser humano tem a capacidade de passar por cima de uma pessoa e fugir sem prestar socorro, sem expressar nenhum tipo de arrependimento, sem prestar nenhum tipo de apoio”.

Ele diz também que gostaria de acreditar na Justiça. “Eu fui o maior prejudicado nesse acidente, por conta de uma pessoa irresponsável. Por conta de uma pessoa que nem habilitação tinha. Então espero que a justiça seja feita para que essa pessoa não fique impune, colocando a vida de outras pessoas em risco. Me sinto fraco perante a lei do nosso País, em que o criminoso entra e sai pela porta da frente da delegacia após prestar depoimento uma semana depois do acidente, acompanhado de advogado. Penso na futura geração do nosso País, penso nos meus filhos e filhos deles. Espero que até lá a Justiça do nosso País tenha melhorado”.

“Percebo que nossa Constituição ainda é muito atrasada, em outros países essa pessoa estaria no mínimo presa. Vejo isso como uma tentativa de homicídio”.

E finaliza: “Que seja feita a vontade de Deus. Neste momento estou apenas concentrado em minha recuperação, afinal, quero minha vida de volta ao normal”.

Relembre o caso

O atropelamento aconteceu quando o motorista G.C.S, de 20 anos, que dirigia sem habilitação, brigou dentro do bar localizado na avenida Washington Luís, entrou em seu veículo e dirigiu na contramão, atropelando o ciclista J.Y.S que estava pedalando sentido Campolim.

Segundo a vítima e testemunhas, o motorista fugiu sem prestar socorro. Em seguida, amigos do motorista voltaram ao local com o intuito de pegar o para-choque com a placa do veículo que havia caído, mas funcionários do bar já haviam guardado.

No vídeo abaixo, é possível ver o momento em que o motorista atropela o ciclista e passa com o veículo por cima do corpo do rapaz.

Comanda de consumo do bar

No dia da ocorrência, o motorista, que se apresentou à polícia na terça-feira (4), estava em um bar e pagou R$ 204 em gastos com bebida alcoólica. Na comanda estava anotada a compra de duas cervejas long neck e três baldes de cervejas.

Ela será usada pela polícia como prova da possível embriaguez do motorista.

Como segue o caso

O prazo para concluir o inquérito é de 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período . O caso será enviado ao Judiciário como lesão corporal culposa, com pena de 6 meses a 2 anos; omissão de socorro, de 1 a 6 meses e fuga do local do acidente, de 6 meses a um ano de prisão.

 

Nota da Redação: De acordo com a legislação, o jornal Cruzeiro do Sul não identifica personagens de matérias enquanto eles ainda estão na condição de suspeitos

 

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