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Aves

Muito além da beleza dos voos

08 de Setembro de 2018 às 11:51

Saíra-amarela Crédito da foto: Marcos Antônio Leonetti

Sorocaba tem atraído espécies de pássaros que há 20 anos não eram vistas na cidade. Visitar os locais onde as aves se aglomeram, como os parques e filões de mata atlântica, percorrer as margens do rio Sorocaba e se deparar com bandos ou revoadas de pássaros, é uma surpresa que faz bem aos sentidos. As cenas vão muito além da beleza dos voos e de cenários para selfies. A presença das aves é um bom indicador da importância das árvores frutíferas e de como o meio ambiente tem capacidade contínua de renovação.

O músico, ornitólogo e observador de aves Marcos Antônio Leonetti, 72 anos, informa que Sorocaba tem 284 espécies de aves, sendo 100 delas na área urbana e pelo menos 71 no Parque das Águas. Ele lembra que há 20 anos não se avistava em Sorocaba -- ou era muito raro -- o periquitico-maracanã (maritaca), a avoante (ou pomba-de-bando) e a asa branca. Esta última, também chamada de pombão, inspirou o rei do baião, Luiz Gonzaga, a criar a canção com o título que dá nome ao pássaro e que se tornou um clássico da MPB. Há 20 anos esses pássaros não eram encontrados em Sorocaba ou eram raros. E agora são vistos com frequência, entre muitas outras espécies.

Bem-te-vi Crédito da foto: Marcos Antônio Leonetti

Segundo Leonetti, entre os pássaros mais comuns da cidade estão o bem-te-vi, algumas espécies de sanhaços, papagaio verdadeiro, periquitão-maracanã, periquito-verde, tuim, canário-da-terra, curruíra. A presença deles e o crescimento do número e variedade de espécies se devem a vários fatores, na avaliação de Leonetti. Entre eles, enumera mudanças de comportamento que levaram garotos a substituírem o estilingue e a espingarda de pressão, instrumentos antigos usados na caça ao passarinho, pelo celular.

“Por um lado é bom: a pessoa ficou muito apegada à tecnologia e deixa de sair mais pra rua”, compara Leonetti. Outro fator de atração são os alimentos, encontrados nas árvores frutíferas e nos insetos, e os parques, fechados e abertos. “Sorocaba é a cidade do interior que mais áreas verdes tem, mais de 20 parques, e parques abertos, como o do Campolim”, diz Leonetti. Segundo ele, a presença de pássaros é indicador de cidade arborizada. “E Sorocaba não peca nisso.”

Lavadeira-mascarada Crédito da foto: Marcos Antônio Leonetti

Migração

Entre outros fatores, há os desmatamentos, que provocam migração de aves. Leonetti conta que toda vez que uma empresa loteia uma área, a intervenção da terraplenagem, a especulação imobiliária e crescimento da construção civil, tudo isso transforma o ambiente que antes tinha características rurais e as aves se adaptam migrando para áreas urbanas que contenham filões de vegetação.

Nesse contexto entra a importância da função dos parques e dos filões de mata atlântica ainda preservados, como o existente na área do Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros“. “Já cheguei a catalogar no parque do Campolim mais de 60 espécies de aves.”, informa Leonetti. Na década de 1990, quando o parque foi criado, não havia essa quantidade. Toda catalogação das aves requer quatro a cinco idas de visita em cada parque.

Casal de martim-pescador-pequeno Crédito da foto: Marcos Antônio Leonetti

A função das árvores frutíferas é fundamental para atrair os pássaros. Leonetti informa que somente a figueira brava atrai mais de 20 espécies. E a magnólia atrai mais de 15 espécies. Entre as árvores que exercem essa atração ele conta, além da figueira brava e da magnólia, a embaúba, chifreira, arrueira pimenteira, amoreira, ameixeira e a magnólia. O beija-flor, por exemplo, gosta de se empoleirar na gravilha-anã e nos malvaviscos (arbustos), nos ipiscos e nos ipês.

Nem toda árvore atrai pássaros. Leonetti descreve: “Não adianta plantar bananeira ou mangueira. “É fruta, mas qual ave consegue furar a casca da banana para poder ser alimentar? A mangueira atrai na hora em que está florindo, mas a fruta em si não tem muito atrativo. É o caso da laranja também. O que atrai são essas frutas miúdas tipo ameixa, pitanga, magnólia, porque é o alimento delas.”

Leia mais: Revoadas ecoam como orquestras da natureza

 

Periquito-rei Crédito da foto: Marcos Antônio Leonetti

 

Vivi Crédito ds foto: Marcos Antônio Leonetti

"Há 20 anos não se avistava em Sorocaba - ou era muito raro - o periquito - maracanã (maritaca), a avoante (ou pomba-de-bando) e a asa branca", Marcos Antônio Leonetti, músico, ornitólogo e observador de aves Crédito da foto: Emídio Marques

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