Buscar no Cruzeiro

Buscar

Contaminação por febre hemorrágica não ocorreu em Sorocaba, afirma SES

21 de Janeiro de 2020 às 12:12
Ana Claudia Martins [email protected]

A médica infectologista Priscila Helena dos Santos e secretário da Saúde de Sorocaba, Ademir Watanabe. Crédito da foto: Alexandre Lombardi / Secom Sorocaba

O morador de Sorocaba, de 52 anos, que morreu em decorrência de febre hemorrágica brasileira, no último dia 11, residia na Vila Carvalho, na zona norte da cidade, com uma companheira, de 53 anos. A mulher está sendo monitorada pela Secretaria de Saúde (SES). O acompanhamento dela será feito até o dia 3 de fevereiro próximo. Como a mulher teve contato com o paciente, conforme a SES, ela precisa ser monitorada até passar o risco de contaminação pelo arenavírus.

A informação foi confirmada na manhã desta terça-feira (21) pelo secretário da Saúde de Sorocaba, Ademir Watanabe, e pela médica infectologista Priscila Helena dos Santos, coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Sorocaba.

Eles concederam entrevista coletiva à imprensa, no 4º andar do Paço Municipal, para falar sobre o caso, que é o primeiro da doença, em todo o Brasil, em mais de 20 anos. O último registro ocorreu em 1999, segundo informações do Ministério da Saúde.

[irp posts="209627" ]

 

Ainda de acordo com a SES, o morador de Sorocaba estava internado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), inicialmente com suspeita de febre amarela. A pasta não divulgou o nome dele.

Segundo a médica infectologista da SES, o local exato e a cidade onde o morador se contaminou ainda estão em investigação, mas é praticamente nula a possibilidade de ele ter sido infectado em Sorocaba.

Priscila Helena disse que tudo indica que a contaminação tenha ocorrido em área de zona rural em alguma das cidades onde o morador esteve na região de Itapeva e do Vale do Ribeira. “A transmissão pode ter ocorrido por meio de alimentos contaminados com fezes de roedores silvestres ou ainda por inalação em local com a presença de roedores”, diz.

Conforme investigação feita pela SES, o paciente viajou para cidades da região de Itapeva e do Vale do Ribeira para visitar parentes. O deslocamento dele começou, segundo a SES, no dia 5 de dezembro do ano passado quando ele foi para o município de Eldorado, onde ele ficou até o dia 15 e retornou para Sorocaba.

Paciente teve último atendimento no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Crédito da foto: Reprodução / Google Street View

 

Já no dia 21 ele foi para a cidade de Itapeva, e retornou para Sorocaba no dia 22. E do dia 22 a 26 de dezembro o homem ficou em Itaporanga, retornando para Sorocaba, onde permaneceu até o dia 29. Em seguida ele foi novamente para a região do Vale do Ribeira.

Segundo o boletim epidemiológico, o homem começou a apresentar os sintomas no dia 30 de dezembro e morreu no dia 11 de janeiro. Nesse período, foi atendido em ao menos três hospitais em Eldorado, Pariquera-Açú e São Paulo, sendo o último o Hospital das Clínicas. Não houve histórico de viagem internacional.

Conforme o Ministério da Saúde, foram realizados exames para identificação de doenças como febre amarela, hepatites virais, leptospirose, dengue e zika, mas os resultados foram negativos.

Foram realizados exames complementares no Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Albert Einstein que identificou o arenavírus, causador da febre hemorrágica brasileira. Esse resultado foi confirmado pelo Laboratório de Investigação Médica do Instituto de Medicina Tropical do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Instituto Adolfo Lutz.

O Ministério da Saúde comunicou o fato à Organização Mundial de Saúde (OMS) e à Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), conforme protocolos internacionais estabelecidos.

A doença

A febre hemorrágica brasileira é uma doença rara e de alta taxa de letalidade causada pelo arenavírus. O que se sabe é que as pessoas contraem a doença possivelmente por meio da inalação de partículas formadas a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados.

A transmissão dos arenavírus de pessoa a pessoa pode ocorrer quando há contato muito próximo e prolongado ou em ambientes hospitalares, quando não utilizados equipamentos de proteção, por meio de contato com sangue, urina, fezes, saliva, vômito, sêmen e outras secreções ou excreções.

O período de incubação da doença é longo (em média de 7 a 21 dias) e se inicia com febre, mal-estar, dores musculares, manchas vermelhas no corpo, dor de garganta, no estômago e atrás dos olhos, dor de cabeça, tonturas, sensibilidade à luz, constipação e sangramento de mucosas, como boca e nariz. Com a evolução da doença pode haver comprometimento neurológico (sonolência, confusão mental, alteração de comportamento e convulsão).

Último caso

O último relato de caso de febre hemorrágica brasileira foi há mais de 20 anos. Nesse período, foram quatro casos em humanos, sendo três casos adquiridos em ambiente silvestre no estado de São Paulo e um por infecção em ambiente laboratorial, no Pará.

Situação atual

De acordo com o Ministério da Saúde, a origem da contaminação do paciente ainda não foi confirmada. Os funcionários dos hospitais por onde o paciente passou estão sendo monitorados, e avaliados, assim como os familiares do caso confirmado em São Paulo.

Medidas

Nesta segunda-feira (20), o Ministério da Saúde convocou reunião com representantes de todas as partes envolvidas no caso: Secretaria de São Paulo, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Hospital Israelita Albert Einstein e os Conselhos Nacional e Estaduais de Saúde (Conass e Conasems).

O objetivo da reunião foi verificar o atual cenário e as ações de busca e monitoramento das pessoas que tiveram contato direto com o paciente.

O Ministério da Saúde informou que também ofereceu apoio a Secretaria de Saúde de São Paulo, com o envio de equipe de técnicos, para realizar a busca ativa de pessoas que tiveram contato com o paciente e para a investigação ambiental.