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‘Cemitério’ de pás eólicas continua a existir em Sorocaba

12 de Setembro de 2020 às 00:01
Marcel Scinocca [email protected]

‘Cemitério’ de pás eólicas continua a existir O terreno fica na zona industrial, entre o Éden e Aparecidinha. Crédito da foto: Marcel Scinocca (11/9/2020)

As pás eólicas estocadas em um terreno na zona industrial de Sorocaba, entre o Éden e o bairro Aparecidinha, mostradas em reportagem exclusiva do jornal Cruzeiro do Sul há exatos dois anos, continuam no local. A área, chamada de “cemitério” de pás, foi usada pela Tecsis Tecnologia e Sistemas Avançados. O material remete à primeira fase de atuação da empresa em Sorocaba, até 2017. A Tecsis diz que não há riscos e que o caso está sendo devidamente tratado, incluindo a venda do material.

Em setembro de 2018, a estimativa era que restavam, nos terrenos, quantidades que ultrapassavam 1,3 mil toneladas -- ou mais de 1,3 milhão de quilos dos itens. Cada objeto pesa, em média, 13 toneladas cada. Naquela ocasião, o material estava concentrado em pelo menos três áreas. Na primeira delas, próximo a um dos córregos que abastece a represa do Ferraz, do Éden, dezenas de pás se concentravam em duas pilhas. Parte dessas pás estava se decompondo, escondida na vegetação.

Ao menos dois incêndios foram registrados no local, sendo que um deles, o mais grave, mobilizou o Corpo de Bombeiros e a Secretaria de Meio Ambiente de Sorocaba (Sema). Em 22 de agosto de 2019, a empresa Tecsis foi multada em quase R$ 300 mil. Segundo a Prefeitura, o motivo seria o depósito irregular de pás eólicas no terreno privado. Um “inventário” foi feito e apontou que o local possuía 95 pás eólicas, e outras 14 foram queimadas no incêndio.

As pás eólicas, ao menos as inteiras, ainda podem ser observadas de terrenos vizinhos ao local. Aparentemente, á área está limpa -- diferentemente de quando o material foi observado há dois anos. Entretanto, há outro ponto onde estavam várias toneladas de pedaços (ou refugos) de pás. Esse local só pode ser observado de dentro do terreno, em virtude da vegetação. Com isso, não é possível afirmar com certeza se os objetos ainda estão lá. O mesmo ocorre em outro ponto, onde haviam restos de pás ou materiais usados na fabricação, que estavam praticamente embaixo da linha de transmissão de energia elétrica.

Na sexta-feira (11), o promotor Jorge Alberto Marum, que abriu um inquérito para investigar o caso, disse que o procedimento está em compasso de espera pelas providências que estão sendo tomadas pela empresa. “Há indícios de que os incêndios foram criminosos”, diz Marum. “A vigilância foi reforçada. Não há sentido em retirar as pás do local”, pondera. “É uma operação cara e complicada. A empresa teve problemas financeiros, mas está em retomada das atividades. As pás serão aproveitadas na produção”, completa.

A Tecsis se manifestou por intermédio de seu advogado, Márcio Leme. “A Tecsis foi fundada em 1995, sempre investiu na cidade de Sorocaba e contribuiu para o progresso e valorização da região. Nossa empresa continua acreditando nesta cidade para desenvolver os seus negócios e lamenta os ataques injustificados que tem sofrido, tal qual a denominação de seu estoque como ‘cemitério’. Na realidade, a Tecsis possui imóvel destinado ao armazenamento de pás para aerogeradores, o qual possui autorizações dos órgãos competentes para funcionamento”, afirma.

Leme lembrou que no local há pás armazenadas passíveis de negociação, inclusive algumas atualmente em curso, consistindo os objetos “em um importante ativo da empresa”. “Em linha com a prática de mercado, este estoque é periodicamente revisado. Em uma destas revisões identificaram-se pás com maior dificuldade de venda. Estas foram fracionadas para descarte. Mencionado descarte iniciou-se ano passado e seguiu continuamente até a pandemia”, justifica.

“Com a retomada gradual das atividades em Sorocaba, já foi contratada a empresa que retomará a retirada das pás que serão descartadas. A Tecsis também informa ter sido vítima de incêndio criminoso no local, inclusive com relatos de testemunhas que visualizaram o suspeito. As autoridades competentes foram devidamente comunicadas pela empresa à época”, explica o advogado.

Por fim, o advogado destacou que as pás eólicas são produzidas para ficar expostas ao ar livre e não representam, per si, danos ao meio ambiente. “Caso contrário, os parques eólicos em funcionamento no Brasil e no mundo não poderiam operar ao ar livre. Além disso, a cidade de Sorocaba não poderia usufruir da pá para aerogerador doada pela Tecsis e que está exposta na Praça da Biodiversidade”, conclui.

Riscos

Na ocasião da reportagem, o engenheiro e professor da faculdade Esamc, Carim Miguel Toubia, mestre em ciência e tecnologia de materiais com MBA em gestão financeira e projetos, e que também foi funcionário da Tecsis por dez anos, avaliou o caso. Toubia explicou que pás eólicas em estado de decomposição e abandono é uma situação nova e que suas consequências ainda estão no campo das hipóteses. Mas afirma que havia alguns riscos potenciais envolvidos na questão. Um deles estaria relacionado aos componentes das pás, como fibra de vidro e resina epóxi. (Marcel Scinocca)