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Bolsonaro diz que governo não comprará 'vachina' e critica Doria

21 de Outubro de 2020 às 13:02
Ana Claudia Martins [email protected]

O presidente Jair Bolsonaro durante coletiva de imprensa em Iperó. Crédito da Foto: Fábio Rogério (21/10/2020)

Atualizada às 17h06

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (21) que o governo federal não comprará a vacina CoronaVac, que está sendo desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. A declaração foi dada a jornalistas durante a visita do presidente em Iperó, no Centro Experimental de Aramar, da Marinha. Em coletiva, Bolsonaro se referiu a vacina chinesa como "vachina" e fez críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

"Nada será despendido agora para comprar uma vacina chinesa, que eu desconheço e parece que nenhum país do mundo está interessado nela. A vacina vai ter que ter uma comprovação científica, diferente da hidroxicloroquina. Tem que ter a sua eficácia. Não se pode inalar algo na pessoa e o malefício ser maior do que o possível benefício. Apenas isso: Estamos trabalhando na busca de uma vacina confiável", afirmou aos jornalistas.

O presidente afirmou que toda e qualquer vacina está descartada no momento. "Ela precisa ter uma validade no Ministério da Saúde e certificação por parte da Anvisa. Fora isso não existe qualquer dispêndio de recurso, ainda mais vultuoso como esse. Não temos comprovação científica".

Na sequência, Bolsonaro fez críticas a Doria. "Fora isso é tudo especulação. É um jogo político que lamentavelmente parece que esse governador só sabe fazer isso. Parece que é a última cartada dele na busca de popularidade ou resgatar tudo o que perdeu durante a pandemia. Em grande parte, as decisões do senhor João Doria não batiam com a que eu gostaria de tomar, caso eu não fosse tolhido pela Justiça."

Coronavac

A declaração reafirma uma publicação realizada pelo presidente em redes sociais durante a manhã. “O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem”, escreveu Bolsonaro em publicação no Twitter.

Nesta terça-feira (21), após reunião virtual com governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinou um protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, com o objetivo de ampliar a oferta de vacinação para os brasileiros. O ministério já tinha acordo com a AstraZeneca/Oxford, que previa 100 milhões de doses da vacina, e outro acordo com a iniciativa Covax, da Organização Mundial da Saúde, com mais 40 milhões de doses. Segundo o ministério, o processo de aquisição ocorreria somente após o imunizante ser aprovado e obter o registro junto à Anvisa. Para auxiliar na produção da vacina, a pasta já havia anunciado o investimento de R$ 80 milhões para ampliação da estrutura do Butantan.

Já em pronunciamento na manhã desta quarta-feira (21), o secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, informou que “houve uma interpretação equivocada da fala do ministro da Saúde” e não houve qualquer compromisso com o governo do Estado de São Paulo no sentido de aquisição de vacina contra a Covid-19. “Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, sem caráter vinculante, por se tratar de um grande parceiro do Ministério da Saúde na produção de vacinas para o Programa Nacional de Imunizações [PNI]."

Franco esclareceu que é “mais uma inciativa para tentar proporcionar vacina segura e eficaz para a nossa população, neste caso como uma vacina brasileira” e se estiver disponível antes da vacina da AztraZeneca/Oxford ou da Covax. “Não há intenção de compra de vacinas chinesas”, ressaltou.

Em nota, Secretaria de Estado da Saúde da Saúde informou ter recebido com surpresa e indignação a declaração do Governo Federal. "A postura de uma parte da União vai na contramão de todos os avanços conquistados até aqui nas negociações por representantes por ele escolhidos para o Ministério da Saúde com autoridades dos Governos Estaduais de SP e do Brasil. Com destaque para reuniões, inclusive presenciais, em Brasília, com participação do Secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, com o Ministro Eduardo Pazuello e seus assessores especiais", informa.

A pasta estadual destacou, também, a maior segurança da CoronaVac em relação a outras vacinas contra a Covid-19. Frisou, ainda, que o imunizante só será liberado após a conclusão dos estudos clínicos e de recebe a aprovação de todos órgãos regulatórios, como a Anvisa.

Além disso, a secretaria cobra que o Ministério da Saúde cumpra com o compromisso assinado publicamente na terça-feira (20) e adquira a vacina. "O próprio ministro (da Saúde) afirmou, ontem, (terça-feira), que "A vacina do Butantan será a vacina brasileira. Nós já fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantan e essa carta, ela é o compromisso da aquisição dessas vacinas". A frase é clara e sequer da margem para interpretações divergentes, sendo descabida a afirmação do Ministério de que houve "uma interpretação equivocada", completa a nota.

"Vachina"

Nesta quarta (21), ao ser questionado por jornalistas sobre as declarações de Pazuello, Bolsonaro afirmou que houve uma distorção por parte do governador. "É uma questão séria e que mexe com vidas. Já mandei cancelar o protocolo de intenções, porque não abro mão da minha autoridade. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós. Não sei se o que está envolvido nisso tudo é o preço vultoso que vai se pagar por essa 'vachina' [sic], essa vacina da China."

"Sem guerra eleitoral"

No Twitter, o governador João Doria rebateu a negativa do presidente para a compra da vacina CoronaVac. "Peço ao presidente Jair Bolsonaro que tenha grandeza. E lidere o Brasil para a saúde, a vida e a retomada de empregos. A nossa guerra não é eleitoral. É contra a pandemia. Não podemos ficar uns contra os outros. Vamos trabalhar unidos para vencer o vírus. E salvar os brasileiros." (Jomar Bellini e Ana Cláudia Martins, com informações da Agência Brasil)