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Editorial

Vácuo de poder na Câmara dos EUA

Biden está preocupado. Sabe que não terá vida fácil na Câmara na reta final de mandato

05 de Outubro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Presidente dos EUA, Joe Biden
Presidente dos EUA, Joe Biden (Crédito: Drew Angerer / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

Em alguns países, a ideologia dos partidos políticos é quase sempre respeitada pelos políticos eleitos.

No Reino Unido, por exemplo, dificilmente você vai ver um Conservador votando em teses Trabalhistas.

O mesmo ocorre nos Estados Unidos, entre Republicanos e Democratas.

Aqui, no Brasil, essa fidelidade partidária é mais rara, principalmente no Congresso Nacional.

Deputados e senadores nem se preocupam com a opinião dos eleitores e viram a casaca sem vergonha alguma.

Basta a sua agremiação receber uns afagos do governante de plantão para mudar de lado e esquecer todo o discurso do período eleitoral. Uma pena!

Sem partidos fortes, com atitudes coerentes com seus programas, vai ser difícil chegarmos ao mais alto nível da democracia.

Claro que essa fidelidade partidária, às vezes, provoca situações inusitadas.

Nos Estados Unidos, é difícil entender como os próprios Republicanos decidiram destituir o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, do mesmo partido.

A manobra controversa está provocando sérias discussões internas e não se sabe ainda que rumo esse processo vai tomar.

A luta agora é para escolher-se um novo presidente para a Câmara, que está com seus trabalhos paralisados pela falta de um comandante.

McCarthy nunca foi o preferido das alas mais radicais do partido Republicano.

Foram necessárias dez votações, e muitas concessões, para que os apoiadores mais próximos do ex-presidente Donald Trump aceitassem elegê-lo.

A situação dele piorou depois que fechou um acordo, fechado no último fim de semana, para salvar o governo de Joe Biden.

Sem esse acordo, boa parte dos serviços públicos ligados à Casa Branca seriam interrompidos pela falta de dinheiro.

O acordo de McCarthy foi considerado uma traição e custou-lhe o cargo.

Biden está preocupado. Sabe que não terá vida fácil na Câmara na reta final de mandato. O apoio à Ucrânia também está ameaçado.

Sem liberação de novos créditos, vai ser difícil ajudar o país de Zelensky a enfrentar a Rússia.

O presidente dos Estados Unidos prometeu discursar à Nação na tentativa de melhorar a sua imagem.

O que ninguém esperava é que uma brecha na legislação americana pudesse piorar ainda mais a situação de Biden.

O presidente da Câmara, normalmente, é escolhido entre os deputados eleitos, aqueles que estão em pleno exercício do mandato, mas a regra não está escrita na Constituição americana.

E é por causa dessa falha que alguns deputados republicanos têm sonhado com a possibilidade de eleger o próprio Donald Trump para substituir Kevin McCarthy.

A chance de isso acontecer é remota. O próprio Trump já teria avisado seus mais ferrenhos aliados que não tem interesse no cargo e que quer estar livre para trabalhar por sua candidatura à Casa Branca nas eleições do ano que vem.

Mesmo assim, para atazanar a vida de Biden, a hipótese não pode ser desconsiderada.

A primeira tentativa de eleger um novo presidente da Câmara deve ocorrer semana que vem, provavelmente no dia 10; até lá, os republicanos têm muito a discutir internamente.

A falta de união nesse momento pode demonstrar fraqueza para as eleições de 2024.
As brigas internas podem produzir cicatrizes que atrapalhem o objetivo principal, voltar ao comando da Casa Branca.

Para piorar o cenário, os parlamentares dos EUA têm até meados de novembro para aprovar o orçamento do ano que vem enviado pelo governo.

A proposta apresenta vários pontos controversos que vão gerar muito debate.

A paralisação da Câmara pode atrapalhar, e muito, o trâmite do projeto.

O próprio Biden reconhece que a ‘atmosfera venenosa em Washington‘ dificulta bastante a aprovação de seus programas.

Os próximos dias serão vitais para saber a situação real dos Estados Unidos.

Nesse momento, a população assiste de perto à queda inédita de um presidente da Câmara.

Foi a primeira vez, na história, que a Casa ficou acéfala.

Até que um substituto seja escolhido, todos os trabalhos ficam paralisados.

E os Republicanos aparentam não ter pressa alguma em resolver esse ‘imbróglio‘.