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Pesquisa aponta vários caminhos para melhorar os cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil

21 de Outubro de 2020 às 13:16

Estudo foi realizado pelo arquiteto e professor Alex Renato Couri Domingos. Foto: Paulo Ribeiro

“A escola não é fundamental, não é indispensável à formação do arquiteto. O arquiteto é como o pintor, o que mais importa é a criatividade, a imaginação!”. A frase, acredite, é de Oscar Niemeyer, o mais importante arquiteto do Brasil, que colocava em xeque a necessidade de cursos para formação de arquitetos.

Para Niemeyer, o ensino não deveria se limitar à Arquitetura propriamente dita, “mas invadir todos os setores de cultura que se entrelaçam e completam”. Na prática, ele defendia que o ensino fosse mais voltado a questões humanistas e de cultura geral, essas sim importantes na formação de um bom profissional.

Se o mais famoso arquiteto do Brasil tinha severas críticas ao ensino de arquitetura no país, o que pensam os demais arquitetos hoje? E o Conselho Profissional? E os professores das faculdades de Arquitetura? E os estudantes? E o Governo?

O arquiteto e professor Alex Renato Couri Domingos foi atrás das respostas para descobrir as “Visões, confluências e conflitos sobre o ensino de Arquitetura e Urbanismo”. A pesquisa foi feita para seu mestrado em Educação, cuja dissertação foi defendida na Uniso em setembro de 2017, com orientação da professora doutora Maria Alzira Pimenta.

A pesquisa analisa as diversas visões na formação em Arquitetura e Urbanismo, discutindo o currículo, a formação dos professores, o descontentamento dos estudantes, o aumento do número de cursos e a qualidade do ensino. Mais do que analisar os dados e confrontar as diferentes visões, a pesquisa de Domingos aponta uma série de caminhos para melhorar as faculdades de Arquitetura e Urbanismo no Brasil.

“Como profissional graduado em Arquitetura e Urbanismo e professor no ensino desta atividade, busquei direcionar meus estudos no Programa da Pós-Graduação em Educação para responder alguns questionamentos que me ocorreram tanto no período de estudante como de professor. Questões como: a pertinência de certas disciplinas, práticas didáticas, atividades extraclasse de pesquisa e extensão, relação entre estudantes e professores, autodidatismo e a preocupação com uma educação cultural e intelectual ampla”, conta.

Domingos ressalta que a formação insuficiente de um profissional de Arquitetura e Urbanismo pode ter como consequências cidades com baixa qualidade do espaço arquitetônico e urbanístico e com obras irrelevantes cultural e esteticamente, configurações urbanas inadequadas e ineficientes, insustentabilidade ambiental, mobilidade urbana deficiente, dentre outros problemas.

Duzentos anos de ensino

O ensino de Arquitetura no Brasil já tem mais de duzentos anos. Ele teve início no Rio de Janeiro, por volta de 1816, com o curso da Academia Imperial de Belas Artes. Em 1933, ano da regulamentação da profissão de arquiteto no Brasil, existiam quatro escolas de Arquitetura. Em 1966, já eram 12 escolas; em 1974, 28; em 1994, 72; e, em 2002, eram 147 escolas.

Segundo dados da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura (Abea), atualmente existem 466 cursos, com 40 mil alunos matriculados, sendo a grande maioria em instituições particulares e concentradas no Sudeste.

Melhorar o ensino

A pesquisa de Domingos traçou um panorama completo da visão que os envolvidos têm sobre o ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. “A pesquisa identificou que as visões vão desde não ser fundamental a existência de escolas para formação de arquitetos até a necessidade de aplicação de exames de habilitação profissional após a graduação. Ou seja, uma grande variedade de entendimentos que podem contribuir significativamente para mudanças visando melhorias e superação de problemas inerentes a este ensino”, explica o pesquisador.

No entanto, mudanças qualitativas no ensino de arquitetura e urbanismo dependem, segundo o autor, de interesses convergentes dos atores envolvidos. “Se para a sociedade interessa a formação de bons profissionais, o Estado precisaria agir com maior rigidez em relação a instituições de ensino superior desqualificadas. Se os profissionais desejam um mercado de trabalho com mais oportunidades, mais ético e sem concorrência predatória, precisam participar de debates sobre questões ligadas ao ensino e a políticas de Estado para educação. Se professores e estudantes desejam um ensino mais conectado com a realidade profissional, precisam dialogar com o Conselho Profissional e aproximar-se da sociedade.”

Ao final da pesquisa, Domingos aponta algumas diretrizes e desafios para o ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil. Entre elas, a maior aproximação entre teoria e prática durante o curso, a capacitação dos professores e a maior aproximação com questões da realidade do país através de estímulo a projetos de extensão com cunho social. Assim como Oscar Niemeyer, Domingos também defende a inserção de debates de caráter multidisciplinar com temas de abrangência geral, visando não só à formação técnica, mas à formação intelectual, ética e cidadã dos futuros profissionais.

“Cada uma destas diretrizes sugere desdobramentos desta pesquisa com objetivo de encontrar as melhores formas de viabilizá-las. Do ponto de vista pessoal, a pesquisa me revelou uma visão mais abrangente da própria profissão de arquiteto, com potenciais a serem explorados. Também me levou a valorizar as tentativas, nem sempre bem-sucedidas, de meus antigos professores e minhas próprias, de proporcionar significação deste ensino para os estudantes", avalia Domingos.

Com base na dissertação “Visões, confluências e conflitos sobre o ensino de Arquitetura no Brasil”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação da professora doutora Maria Alzira Pimenta e aprovada em 26 de setembro de 2017. A dissertação pode ser encontrada e baixada no site: http://educacao.uniso.br/producao-discente/dissertacoes/2017/alex-domingos.pdf

Texto: Marcel Stefano

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