Ciências Humanas são essenciais para compreender o mundo contemporâneo
Múltiplas pesquisas refletem problemas do nosso tempo, com diferentes temas e abordagens
A pesquisa acadêmica deve servir a sociedade. Essa é uma das premissas norteadoras do projeto Uniso Ciência. Simples em sua essência, ela pode, no entanto, abrir margem a discussões bastante contemporâneas. Em primeiro lugar, o que é servir? A acepção mais adequada (conforme transcrita do dicionário Michaelis) é “ser útil a alguém ou a algo, auxiliando-o a realizar ou conseguir alguma coisa” — algo, neste caso particular, sendo a sociedade como um todo, a quem a pesquisa deve ser útil. É a definição de utilidade, por sua vez, que, numa universidade, pode receber diversas interpretações.
“A pesquisa acadêmica sempre serviu, serve e servirá a sociedade, independentemente de ser oriunda das Ciências Humanas, das Exatas ou das Biológicas. O problema está justamente em tratar o ‘servir a sociedade’ como a produção de algo útil, aplicável ou capaz de transformar a sociedade num curto prazo”, diz a professora doutora Maria Ogécia Drigo, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (PPGCC) da Universidade de Sorocaba (Uniso), reforçando que esse não é um assunto de controvérsia exclusivo das Ciências Humanas.
Muito pelo contrário. De fato, nem toda pesquisa das Exatas tem aplicabilidade imediata — bons exemplos são as pesquisas em Física de Partículas, que investigam a constituição e a origem do universo, e, ainda que possam levar à criação de tecnologias úteis, muitas vezes não têm nenhum outro objetivo fundamental a não ser a pura busca pelo conhecimento. “Há descobertas das Ciências Exatas que tiveram aplicabilidade séculos depois, assim como há aquelas que emergiram de necessidades postas pelas transformações do meio social”, diz Drigo.
Considerando-se o “espírito do nosso tempo”, como diz a pesquisadora, boa parte dos acadêmicos hoje em dia pode dar preferência à condução de estudos propositivos, com aplicabilidades imediatas, mas isso não significa que estudos com caráter mais reflexivo deixem de ser úteis, ou mesmo necessários, para compreender o mundo em que vivemos, o que também é essencial para ajudar a resolver os problemas próprios do nosso tempo.
Nas edições anteriores da revista Uniso Ciência (as quais podem ser acessadas neste blog), você pode conferir alguns estudos que compartilham desse ensejo. São pesquisas que estudaram, por exemplo: as mudanças na forma como a publicidade representa o idoso em comerciais, ou as mudanças nos padrões de comunicação da Igreja Católica ao longo do tempo, ou como o jornalismo vem mudando desde a introdução de novas formas de comunicação online (edição 1, junho/2018); a relação que o discurso propagado pelas mídias estabelece entre beleza feminina e realização pessoal, ou a forma como participantes de jogos narrativos transformam seus personagens em metáforas inconscientes de si mesmos, ou como as pessoas se relacionam com a tecnologia dos QR codes (edição 2, dezembro/2018); assim como a relação entre comunicação e violência no ativismo online (edição 3, junho/2019).
Todas essas pesquisas, que ajudam a compreender as transformações nos processos comunicacionais e culturais da sociedade contemporânea, são frutos do PPGCC, que hoje já soma 153 dissertações defendidas no programa de mestrado, cerca de 13 a cada ano. “São pesquisas direcionadas por perguntas que envolvem as experiências do sujeito no mundo, e exemplos de estudos que propiciam debates ativos sobre possibilidades de intervenção social, de forma refletida e embasada”, defende Drigo. Atualmente, há 33 pesquisas análogas em andamento, 21 no programa de mestrado e mais 12 no programa de doutorado.
Para saber mais: O Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (PPGCC)
O Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso existe desde 2006, estando voltado ao estudo das mídias — que são compreendidas num sentido bastante amplo, referindo-se tanto à comunicação de massa (como popularmente o termo é utilizado) quanto às relações interpessoais. A primeira das duas linhas de pesquisa disponíveis trata da análise de produtos e processos delimitados, enquanto a segunda trata dos contextos socioculturais em que esses produtos e processos acontecem. É justamente por isso que as pesquisas não apresentam necessariamente contornos distintos, podendo transitar entre as duas linhas, compreendendo o processo pelo qual a comunicação molda a cultura.
Recentemente, em 2013, o Programa passou por um processo de reformulação, o qual culminou tanto numa nova avaliação por parte do Ministério da Educação (nota 4 de 7) quanto na aprovação do curso de doutorado, a partir de setembro de 2018 (até então, o programa oferecia somente o curso de mestrado). Drigo explica que, a partir da nova proposta, o foco recaiu sobre a formação do discente, que passou a ser conduzida de forma mais orgânica. “Existe hoje uma maior flexibilização na seleção do conteúdo programático”, ela explica. “Isso resulta em disciplinas que contribuem de modo mais direto para o desenvolvimento das pesquisas que estão sendo conduzidas pelos próprios mestrandos, que têm formações bastante diversificadas.”
De modo geral, os estudantes do Programa já atuam como docentes em instituições de ensino superior de Sorocaba e região, mas a coordenadora enfatiza que, nos últimos anos, houve também um aumento no número de estudantes recém-saídos da graduação, principalmente de programas da própria Uniso, o que reforça o foco da Instituição na educação compreendida como um processo contínuo.
As disciplinas são amparadas, ainda, por grupos de pesquisa (que hoje totalizam cinco) e atividades extraclasse — com o intuito de aprimorar a capacidade de produção científica dos discentes e fomentar a troca entre pesquisadores, tanto da própria Uniso quanto de fora.
Para informações sobre o programa e o processo seletivo, acesse: http://comunicacaoecultura.uniso.br/
Reportagem: Guilherme Profeta