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Sustentabilidade

Estudo mostra que a qualidade do solo não pode ser definida apenas pela aparência do lugar

Resultados de pesquisa oferecem referências para manutenção ou recuperação de áreas verdes

23 de Maio de 2023 às 09:33
Área do Centro de Estudos e Práticas Agrícolas da Uniso
Área do Centro de Estudos e Práticas Agrícolas da Uniso (Crédito: Divulgação)

Assim como nosso corpo, o solo tem um monte de bactérias e outros micróbios “do bem”, que desempenham funções importantes para manter a saúde do organismo. Esses serezinhos que habitam e beneficiam um ecossistema são chamados de microbiota (que, aliás, também é o nome correto da nossa flora intestinal). Mas, voltando à terra: como será a microbiota do solo em áreas tão diferentes como a de uma floresta, de uma plantação agrícola e de um pasto abandonado? O pesquisador Ivan de Maria, da Universidade de Sorocaba (Uniso), foi atrás da resposta e se surpreendeu com o que encontrou.

“Os resultados obtidos no estudo mostram que o solo em áreas distintas pode ser semelhante em sua microbiota. O mais surpreendente foi o resultado das análises do pasto abandonado, uma área com paisagem visivelmente afetada, sem vegetação e com erosões. O pasto apresentou seus níveis equilibrados, tanto os elementos químicos como os microbiológicos, principalmente a concentração da matéria orgânica, que está em nível ideal, com grande diversidade microbiológica”, explica o Ivan na pesquisa, feita como dissertação no Mestrado em Processos Tecnológicos e Ambientais pela Uniso.

Pesquisador Ivan de Maria comparou três tipos diferentes de solo, quanto ao uso e ocupação - Divulgação
Pesquisador Ivan de Maria comparou três tipos diferentes de solo, quanto ao uso e ocupação (crédito: Divulgação)

O trabalho, cujo título é “Avaliação da Microbiota do Solo em Áreas com Diferentes Tipos de Uso e Ocupação”, foi orientado pela professora doutora Renata Lima e aprovado em 2018. As três áreas tão diferentes que tiveram seu solo avaliado por Ivan – a floresta, a plantação e o pasto abandonado -, ficam todas dentro da própria Cidade Universitária da Uniso, na rodovia Raposo Tavares, mais precisamente no Centro de Estudos e Práticas Agrícolas.

A diversidade das paisagens

Na pesquisa de mestrado, Ivan descreve e apresenta fotos dos três locais estudados, que, embora próximos, têm as paisagens bem diferentes.

A área preservada de floresta possui uma vegetação de Mata Atlântica com muitas espécies de árvores nativas, bromélias, orquídeas e até nascentes de água. Não há no local qualquer elemento degradante, como lixo e entulhos. “Coletamos duas amostras do solo em áreas distintas dessa floresta. Fizemos as análises químicas das amostras e a avaliação molecular da microbiota do solo. Os resultados serviram de base para comparação com as amostras do solo da plantação e do solo do pasto abandonado”, conta o pesquisador.

Já na área com agricultura, a paisagem encontrada por Ivan foi de pós-colheita do milheto, uma gramínea rústica com grande variedade de uso. “O local estava sendo preparado para outro cultivar. Isso demonstra que a área passa por diversas pressões e experimentos agrícolas, o que condiz com sua qualidade ambiental, resultando em um solo desequilibrado em seus elementos”, diz ele. “Como se trata de uma área altamente ativa, onde durante o ano pode ser sujeita a até duas culturas diferentes e manejos intensos, o solo é bastante desgastado, com níveis baixos de nutrientes”, completa. Por fim, o pasto desativado e abandonado apresentava indicadores visuais de degradação, como exposição do solo, ausência de vegetação e pequenas erosões laminares. “A área era utilizada para a atividade de pastagem antes de pertencer à Uniso. Depois que a Universidade comprou, o terreno ficou sem atividades, permanecendo isolado desde 1998”, detalha o pesquisador.

Resultado surpreendente

As amostras das áreas de floresta apresentaram níveis equilibrados dos elementos químicos e microbiológicos, o que condiz com o tipo da ocupação (área com vegetação nativa preservada e sem interferência humana). A amostra da área agricultável, também como previsto, apresentou uma baixa quantidade de microrganismo e desiquilíbrio dos elementos químicos.

“O destaque, inesperado, foi a amostra do pasto isolado e desativado. Embora seja uma área com indícios da paisagem afetada, os elementos químicos apresentaram níveis aceitáveis, com mais microrganismos do que a área de agricultura. O que indica um resultado positivo, demonstrando que estratos isolados, sem atividades ou pressões, e em descanso, podem obter uma microbiota ativa. Outro fator relevante para a microbiologia presente no pasto é a proximidade da área com floresta semidecidual, que tem como característica o desprendimento das folhas em determinada época do ano. Essas folhas são levadas pelo vento até o pasto, e acabam alimentando o solo e mantendo os níveis nutricionais”, explica.

A pesquisa de Ivan contribui com o entendimento dos ecossistemas e dos processos para a recuperação do solo, dando ênfase a métodos de baixo impacto, custo mínimo e resultados eficazes. “Espero que os resultados do estudo possam auxiliar no conhecimento e na compreensão de que as interações dos estratos podem ser a chave do equilíbrio e da qualidade ambiental dos solos”, comenta. Além de ajudar futuros pesquisadores, a dissertação de Ivan também dá seus conselhos para que a Uniso cuide bem das áreas estudadas. “Na região de floresta, é só manter as espécies nativas, evitar as espécies invasoras e controlar a intervenção humana. Na área de agricultura, é preciso dar um descanso para o solo, praticar o plantio direto e fazer um rodízio de culturas para corrigir o solo. Já o pasto deve ser mantido isolado, fazendo um controle das espécies invasoras e conduzindo uma regeneração natural, com o plantio de mudas ou sementes de espécies nativas. A área do antigo pasto tem todas as condições de ser reflorestada”, garante o pesquisador.

Texto elaborado com base na dissertação “Avaliação da Microbiota do solo em áreas com diferentes tipos de uso e ocupação”, do Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso), elaborada sob orientação da professora doutora Renata Lima e aprovada em 23 de novembro de 2018. A dissertação pode ser encontrada e baixada no site: https://uniso.br/mestrado-doutorado/pta/dissertacoes/2018/ivan-de-maria.pdf

Texto: Marcel Stefan

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