Sustentabilidade
Estudo mostra que a qualidade do solo não pode ser definida apenas pela aparência do lugar
Resultados de pesquisa oferecem referências para manutenção ou recuperação de áreas verdes
Assim como nosso corpo, o solo tem um monte de bactérias e outros micróbios “do bem”, que desempenham funções importantes para manter a saúde do organismo. Esses serezinhos que habitam e beneficiam um ecossistema são chamados de microbiota (que, aliás, também é o nome correto da nossa flora intestinal). Mas, voltando à terra: como será a microbiota do solo em áreas tão diferentes como a de uma floresta, de uma plantação agrícola e de um pasto abandonado? O pesquisador Ivan de Maria, da Universidade de Sorocaba (Uniso), foi atrás da resposta e se surpreendeu com o que encontrou.
“Os resultados obtidos no estudo mostram que o solo em áreas distintas pode ser semelhante em sua microbiota. O mais surpreendente foi o resultado das análises do pasto abandonado, uma área com paisagem visivelmente afetada, sem vegetação e com erosões. O pasto apresentou seus níveis equilibrados, tanto os elementos químicos como os microbiológicos, principalmente a concentração da matéria orgânica, que está em nível ideal, com grande diversidade microbiológica”, explica o Ivan na pesquisa, feita como dissertação no Mestrado em Processos Tecnológicos e Ambientais pela Uniso.
O trabalho, cujo título é “Avaliação da Microbiota do Solo em Áreas com Diferentes Tipos de Uso e Ocupação”, foi orientado pela professora doutora Renata Lima e aprovado em 2018. As três áreas tão diferentes que tiveram seu solo avaliado por Ivan – a floresta, a plantação e o pasto abandonado -, ficam todas dentro da própria Cidade Universitária da Uniso, na rodovia Raposo Tavares, mais precisamente no Centro de Estudos e Práticas Agrícolas.
A diversidade das paisagens
Na pesquisa de mestrado, Ivan descreve e apresenta fotos dos três locais estudados, que, embora próximos, têm as paisagens bem diferentes.
A área preservada de floresta possui uma vegetação de Mata Atlântica com muitas espécies de árvores nativas, bromélias, orquídeas e até nascentes de água. Não há no local qualquer elemento degradante, como lixo e entulhos. “Coletamos duas amostras do solo em áreas distintas dessa floresta. Fizemos as análises químicas das amostras e a avaliação molecular da microbiota do solo. Os resultados serviram de base para comparação com as amostras do solo da plantação e do solo do pasto abandonado”, conta o pesquisador.
Já na área com agricultura, a paisagem encontrada por Ivan foi de pós-colheita do milheto, uma gramínea rústica com grande variedade de uso. “O local estava sendo preparado para outro cultivar. Isso demonstra que a área passa por diversas pressões e experimentos agrícolas, o que condiz com sua qualidade ambiental, resultando em um solo desequilibrado em seus elementos”, diz ele. “Como se trata de uma área altamente ativa, onde durante o ano pode ser sujeita a até duas culturas diferentes e manejos intensos, o solo é bastante desgastado, com níveis baixos de nutrientes”, completa. Por fim, o pasto desativado e abandonado apresentava indicadores visuais de degradação, como exposição do solo, ausência de vegetação e pequenas erosões laminares. “A área era utilizada para a atividade de pastagem antes de pertencer à Uniso. Depois que a Universidade comprou, o terreno ficou sem atividades, permanecendo isolado desde 1998”, detalha o pesquisador.
Resultado surpreendente
As amostras das áreas de floresta apresentaram níveis equilibrados dos elementos químicos e microbiológicos, o que condiz com o tipo da ocupação (área com vegetação nativa preservada e sem interferência humana). A amostra da área agricultável, também como previsto, apresentou uma baixa quantidade de microrganismo e desiquilíbrio dos elementos químicos.
“O destaque, inesperado, foi a amostra do pasto isolado e desativado. Embora seja uma área com indícios da paisagem afetada, os elementos químicos apresentaram níveis aceitáveis, com mais microrganismos do que a área de agricultura. O que indica um resultado positivo, demonstrando que estratos isolados, sem atividades ou pressões, e em descanso, podem obter uma microbiota ativa. Outro fator relevante para a microbiologia presente no pasto é a proximidade da área com floresta semidecidual, que tem como característica o desprendimento das folhas em determinada época do ano. Essas folhas são levadas pelo vento até o pasto, e acabam alimentando o solo e mantendo os níveis nutricionais”, explica.
A pesquisa de Ivan contribui com o entendimento dos ecossistemas e dos processos para a recuperação do solo, dando ênfase a métodos de baixo impacto, custo mínimo e resultados eficazes. “Espero que os resultados do estudo possam auxiliar no conhecimento e na compreensão de que as interações dos estratos podem ser a chave do equilíbrio e da qualidade ambiental dos solos”, comenta. Além de ajudar futuros pesquisadores, a dissertação de Ivan também dá seus conselhos para que a Uniso cuide bem das áreas estudadas. “Na região de floresta, é só manter as espécies nativas, evitar as espécies invasoras e controlar a intervenção humana. Na área de agricultura, é preciso dar um descanso para o solo, praticar o plantio direto e fazer um rodízio de culturas para corrigir o solo. Já o pasto deve ser mantido isolado, fazendo um controle das espécies invasoras e conduzindo uma regeneração natural, com o plantio de mudas ou sementes de espécies nativas. A área do antigo pasto tem todas as condições de ser reflorestada”, garante o pesquisador.
Texto elaborado com base na dissertação “Avaliação da Microbiota do solo em áreas com diferentes tipos de uso e ocupação”, do Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso), elaborada sob orientação da professora doutora Renata Lima e aprovada em 23 de novembro de 2018. A dissertação pode ser encontrada e baixada no site: https://uniso.br/mestrado-doutorado/pta/dissertacoes/2018/ivan-de-maria.pdf
Texto: Marcel Stefan
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