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Uniso Ciência

Pesquisador estuda se as máquinas já atingiram o nível da inteligência humana

A cada dia, a IA ganha mais espaço em nossas vidas, nos mais diversos ramos

06 de Abril de 2022 às 12:02
Para Luís Roberto Albano Bueno da Silva, apesar da Inteligência Artificial ganhar cada vez mais espaço em nossas vidas, ainda há uma grande lacuna entre os processos de aprendizagem da mente humana e de uma Inteligência Artificial
Para Luís Roberto Albano Bueno da Silva, apesar da Inteligência Artificial ganhar cada vez mais espaço em nossas vidas, ainda há uma grande lacuna entre os processos de aprendizagem da mente humana e de uma Inteligência Artificial (Crédito: Paulo Ribeiro/Arquivo-Uniso)

Qual é o melhor caminho para eu chegar ao trabalho? Vai chover hoje à tarde? Qual é a raiz quadrada de 64? Por que o céu é azul? Não importa a pergunta, basta você pegar o celular e questioná-lo para que seu assistente virtual lhe responda prontamente, com uma voz doce e agradável. Se você abrir o aplicativo do seu banco, também haverá um assistente virtual lá para tirar as suas dúvidas, sugerir investimentos, fazer transações e até mesmo resolver problemas que você nem tinha conhecimento.

A cada dia, a Inteligência Artificial (IA) ganha mais espaço em nossas vidas, nos mais diversos ramos: da medicina à agropecuária, do Judiciário à sala de aula. E, a cada dia, a máquina aprende um pouco mais sobre as nossas necessidades para entregar respostas mais rápidas, precisas e personalizadas, por meio da computação cognitiva.

“A Inteligência Artificial são sistemas que simulam e tomam ações que lembram a inteligência humana”, explica o pesquisador Luís Roberto Albano Bueno da Silva, especialista em Inteligência Artificial, com atuação em grandes empresas, como Nestlé, Mahle e Ypê. Segundo ele, cada parte do sistema de IA partilha o esforço de fazer o computador pensar, ou seja, “de transformar o computador em mente”.

Mas será que as máquinas já atingiram o complexo nível mental da inteligência humana? Em que medida a aprendizagem dos sistemas inteligentes aproxima-se da forma como a mente humana produz significados ao mundo à nossa volta? Essas e outras perguntas são respondidas por Silva na pesquisa “Comunicação e cognição: aproximação entre máquina semiótica e inteligência artificial”, feita para o Mestrado em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba (Uniso). O trabalho, orientado pela professora doutora Maria Ogécia Drigo, foi apresentado e aprovado em dezembro de 2018.

Inteligência Humana x Inteligência Artificial

Segundo os dicionários, cognição é o processo ou faculdade de adquirir um conhecimento. Entre as muitas áreas que estudam a cognição está a semiótica peirciana, ciência que busca entender como o ser humano consegue interpretar as coisas que estão ao seu redor, por meio dos signos.

Um dos pioneiros desta ciência é Charles Sanders Peirce (1839-1914), um filósofo americano especialista em lógica. “Peirce dedicou parte de sua obra à compreensão do modo como o pensamento trabalha através de signos. Foram suas teorias, chamadas de semiótica ou lógica peirceana, que guiaram a minha pesquisa”, conta o pesquisador.

Para Peirce, o ser humano dá significado a tudo que o cerca por meio de uma tripla concepção, que ele chama de primeiridade, secundidade e terceiridade. “A primeiridade é algo que se apresenta à mente e liga à secundidade, que é aquilo que o signo indica, se refere ou representa. Já a terceiridade é o efeito que o signo irá provocar no intérprete. Segundo Peirce, estes são os três principais elementos formais e universais em todos os fenômenos que se apresentam à percepção e à mente”, explica o pesquisador.

Na teoria peirceana, o interpretante final é absoluto e nele residem todos os efeitos possíveis de um signo em determinada trilha semiótica. Segundo Peirce, há três tipos de raciocínios envolvidos ou inerentes a este processo de interpretação: dedução, indução e abdução. Enquanto a dedução é a capacidade lógica que leva a estabelecer premissas para se chegar a uma conclusão, na indução, ao contrário, prevalece a experiência, pois a conclusão se dá pelo conhecimento anterior.

Já a abdução é o processo de formação de uma hipótese explanatória. É a única operação lógica que apresenta uma ideia nova, pois a indução nada faz além de determinar um valor e a dedução meramente desenvolve as consequências necessárias de uma hipótese pura. “O que faz do ser humano uma máquina semiótica especial é o fato de que ele processa símbolos argumentativos e gera não só pensamentos originais como também pode tomar decisões sem ter todas as informações necessárias, valendo-se da abdução”, explica Silva.

A pesquisa feita na Uniso conclui que sistemas sintéticos, hoje, ainda são incapazes de tomar ações que não sejam dedutivas ou indutivas e que não conseguem agir frente a adversidades e atuar de forma criativa, gerando hipóteses. “Redes neurais artificias de aprendizagem por reforço conseguem agir apenas identificando padrões ou previsões de eventos, porém dentro de regras pré-estabelecidas. Por se tratar de uma máquina determinista, seus processos são dedutivos/indutivos, que não produzem o novo e também não são passíveis de produção crítica", afirma o pesquisador.

Silva diz que ainda há uma grande lacuna entre os processos de aprendizagem da mente humana e de uma Inteligência Artificial. “Minha pesquisa contribui para um melhor entendimento de atores sintéticos inteligentes que servem de interface comunicacional e informacional entre homem/máquina. Objetiva-se, assim, o desenvolvimento de um sistema sintético em que as comunicações presentes nos processos cognitivos seja o mais próximo da experiência humana, utilizando as bases teóricas peirceanas introduzidas na minha pesquisa, verificando quais pontos ainda se instauram lacunas de desenvolvimento para que sistemas de Inteligência Artificial atendam condições mais próximas ao pensamento na mente humana”, finaliza.

Texto elaborado com base na dissertação “Comunicação e cognição: aproximação entre máquina semiótica e inteligência artificial”, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso), elaborada sob orientação da professora doutora Maria Ogécia Drigo e aprovada em 6 de dezembro de 2018. A dissertação pode ser encontrada e baixada no site: http://comunicacaoecultura.uniso.br/producao-discente/2018/pdf/luis-roberto-albano-bueno-silva.pdf

Texto: Marcel Stefano