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Experiências sustentáveis promovem compensação de carbono dentro e fora do câmpus

Em 2019, o curso de Engenharia Ambiental da Uniso definiu que todas as atividades teriam as emissões de carbono compensadas

14 de Março de 2022 às 14:58
Estudantes realizam plantio de mudas de árvores para compensar CO2 emitido durante o semestre letivo
Estudantes realizam plantio de mudas de árvores para compensar CO2 emitido durante o semestre letivo (Crédito: Fernando Rezende/Uniso )

Sempre que você anda num veículo motorizado, você está contribuindo para a intensificação do efeito estufa e, consequentemente, para o aquecimento global. Se você faz uma viagem aérea, o seu nível de contribuição aumenta ainda mais (já que os aviões liberam muito mais CO2 do que carros ou ônibus). Mas o impacto não se restringe somente aos meios de transporte: quando você come um bife no almoço, utiliza uma embalagem plástica ou acende uma lâmpada, por exemplo, também há, na cadeia de produção da carne ou do plástico, ou no processo de fornecimento de energia, a liberação de CO2 na atmosfera, pelo qual você é parcialmente responsável.

Saber exatamente quanto CO2 cada indivíduo emite pode ser um pouco complicado, já que exige mensurar todas as atividades diárias que representam a liberação de gases à atmosfera, mesmo que indiretamente, mas essa é uma possibilidade por meio de uma metodologia conhecida como pegada de carbono.

“A pegada de carbono faz parte, sobretudo, do que se chama de pegada ecológica, um conceito que teve início na década de 1970 e inclui outras pegadas, como, por exemplo, a pegada hídrica”, explica a professora mestra Vanessa Cezar Simonetti, docente no curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Sorocaba (Uniso). “Podemos dizer que a pegada ecológica é uma metodologia que mensura a quantidade de planetas Terra que se fariam necessários para sustentar o nosso estilo de vida atual. A pegada de carbono, especificamente, calcula a quantidade de carbono e outros gases (como o dióxido de nitrogênio e o gás metano) emitidos por uma pessoa ou uma empresa. Todas as nossas atividades humanas e todas as cadeias produtivas emitem gases à atmosfera, gerando, portanto, algum impacto ao planeta, que pode ser mensurado. A pegada de carbono representa cerca de 50% da pegada ecológica e, desde a década de 1970, ela é o fator que mais cresce.”

Se você estiver interessado em medir o impacto das suas próprias atividades diárias, é possível fazê-lo por meio de calculadoras de CO2. Uma delas, disponível online gratuitamente (em português), é oferecida pela Fundação SOS Mata Atlântica, uma organização não-governamental criada com o objetivo de defender o patrimônio natural brasileiro que já atuou em parceria com a Uniso no passado para promover o plantio de 15 mil mudas no câmpus. Acesso pelo endereço: https://www.sosma.org.br/calcule-sua-emissao-de-co2.

Ter essa informação atualizada é importante por duas razões: em primeiro lugar, é possível reduzir a própria emissão de CO2, tomando atitudes mais sustentáveis (escolhendo produtos cujos fabricantes tenham programas ambientais em andamento, por exemplo); em segundo lugar, é possível compensar as nossas próprias emissões, efetivamente retirando o CO2 que já está em suspensão na atmosfera. Como isso é possível? A resposta é simples: plantando árvores.

Foram plantadas 268 mudas nativas da Mata Atlântica e do Cerrado, biomas que caracterizam a região, em evento realizado como parte do componente curricular Universidade &Transformação Social  - Fernando Rezende / Uniso
Foram plantadas 268 mudas nativas da Mata Atlântica e do Cerrado, biomas que caracterizam a região, em evento realizado como parte do componente curricular Universidade &Transformação Social (crédito: Fernando Rezende / Uniso )

“Quando falamos em compensação por emissão de carbono, normalmente nós estamos pensando no plantio de árvores, porque as árvores vivem de fazer fotossíntese. A fotossíntese é um processo por meio do qual as plantas fixam o CO2 da atmosfera nos seus tecidos vegetais. Ou seja, o carbono é retirado da atmosfera e absorvido pelos tecidos, onde ele fica imobilizado. Existe uma variação de quanto de CO2 cada árvore consegue retirar da atmosfera, mas, aqui no nosso bioma (entre a Mata Atlântica e o Cerrado), essa quantidade pode chegar a 200 kg por árvore. Essa compensação não é imediata, é claro; ela vai ocorrer ao longo do tempo. Então, se você planta uma árvore hoje e consegue mantê-la por 30 anos, ela provavelmente vai ter essa quantidade de carbono imobilizado nela. Assim, o primeiro passo é calcular a pegada de carbono (quanto de carbono as pessoas estão emitindo) e, depois, buscar uma compensação por meio do plantio de espécies adequadas a cada bioma.” Quem explica é o professor doutor Nobel Penteado de Freitas, coordenador do curso de Ciências Biológicas e do Núcleo de Estudos Ambientais (NEAS) da Uniso.

Experiências sustentáveis

No primeiro semestre de 2019, o curso de Engenharia Ambiental da Uniso, sob a coordenação do professor mestre Antonio Carlos Gonçalves, definiu que todas as suas atividades teriam as emissões de carbono compensadas. O projeto ganhou o nome de “Reverberar” e contou, em suas etapas iniciais, com a obtenção de informações sobre toda a pegada de carbono de estudantes e professores do curso. Na época, ainda pré-pandemia, praticamente todas as atividades estavam sendo realizadas presencialmente, no câmpus, de modo que o cálculo incluiu dados referentes ao consumo de energia (lâmpadas, computadores, ar condicionado e outros equipamentos) de laboratórios e salas de aula, as emissões decorrentes dos meios de transporte para chegar até a universidade (públicos ou privados, de acordo com o tipo de combustível) e a geração de resíduos sólidos.

A metodologia utilizada para o cálculo foi a mesma da calculadora de CO2 da Fundação SOS Mata Atlântica. Verificou-se, após o cômputo dos dados, que o transporte foi a atividade que mais contribuiu para elevar o nível de emissões do curso, totalizando mais de 87 toneladas, enquanto o consumo de energia elétrica foi o que menos contribuiu. Considerando-se que, para cada tonelada de CO2 gerado, são necessárias 7,14 árvores plantadas, chegou-se à conclusão de que, naquele período, o curso de Engenharia Ambiental precisaria plantar 268 novas árvores para compensar o CO2 emitido no semestre letivo. As mudas a serem plantadas foram produzidas no NEAS, sob a coordenação de Penteado, e distribuídas aos estudantes durante a I Exposição de Atividades Acadêmicas das Engenharias (EAAE), promovida pelo curso de Engenharia Ambiental no segundo semestre de 2019.

E o projeto não parou por aí: além do desenvolvimento de uma calculadora de CO2 própria da Uniso, que está em andamento e deverá se transformar num aplicativo acessível a toda a comunidade, a atividade foi expandida para outros cursos, além da Engenharia Ambiental. No primeiro semestre de 2021, já durante o isolamento social imposto pela pandemia, a experiência foi repetida como parte de um componente curricular chamado “Universidade & Transformação Social”, oferecido na modalidade EaD (ensino a distância) para toda a Universidade. Nessa segunda etapa, cerca de 60 estudantes de dois cursos diferentes (Psicologia e Análise e Desenvolvimento de Sistemas) participaram da atividade.

O professor mestre Renan Angrizani de Oliveira, também docente no curso de Engenharia Ambiental, explica que, da mesma forma que é possível calcular a pegada de carbono de um curso inteiro, é possível fazê-lo para uma disciplina específica, mesmo que ela não seja conduzida no câmpus. Assim, foi elaborado um formulário adaptado para mensurar a quantidade de emissões referentes à realização das atividades do componente a distância, por cada estudante individualmente (incluindo, por exemplo, as plataformas utilizadas para participar das aulas e o número de lâmpadas e outros equipamentos no ambiente). A atividade teve o intuito de reforçar a percepção de que, mesmo em nossas casas e mesmo que timidamente, nossas atividades têm um impacto sobre o planeta, que pode ser reduzido ou erradicado.

Posteriormente, esses dados foram transformados numa quantidade de carbono a ser compensado na forma de mudas. As novas árvores plantadas estão localizadas no próprio câmpus e, segundo os especialistas, são suficientes para compensar não apenas o impacto de uma turma de 60 alunos na modalidade EaD (Ensino a Distância), mas nada menos que 40 vezes esse impacto. O plantio foi uma das atividades de encerramento do primeiro semestre de 2021. São fotos desse plantio, realizado em 11 de junho de 2021, que ilustram esta reportagem.

Para saber mais: efeito estufa e aquecimento global

A atmosfera da Terra é composta por gases que permitem que o calor vindo do Sol seja retido no planeta, de modo que nem todo o calor que entra é dissipado novamente para o espaço. A esse fenômeno, dá-se o nome de?efeito estufa. O efeito estufa em si não é ruim (na verdade ele é um dos elementos que tornam possível a vida na Terra), desde que aconteça na medida certa. O grande problema, do ponto de vista ambiental, é a intensificação do efeito estufa, causada pelas emissões de CO2?(dióxido de carbono) e outros gases liberados a partir das atividades humanas. Em longo prazo, a intensificação do efeito estufa faz com que a temperatura média do planeta aumente, o que se dá o nome de?aquecimento global, causando uma série de consequências negativas: o derretimento das calotas polares (e, consequentemente, o aumento do nível do mar), grandes períodos de estiagem, a desertificação de determinadas áreas e a extinção de espécies. 

Para saber mais: Universidade & Transformação Social

Na Uniso, esse é um componente curricular obrigatório para todos os estudantes. O seu objetivo é gerar debates sobre o papel que a universidade comunitária, especialmente a Uniso, desempenha na sociedade do século XXI, incluindo temáticas como diversidade cultural, direitos humanos, relações étnico-raciais e indígenas e consciência ecológica.

Depoimentos 

Marcelo Lucchesi de Camargo, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas  - Fernando Rezende / Uniso
Marcelo Lucchesi de Camargo, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (crédito: Fernando Rezende / Uniso )

“Fiquei muito feliz por participar do evento. Pude plantar uma árvore, o que por si só já é muito gratificante. Além disso, estive no câmpus presencialmente e conheci brevemente outras pessoas, o que representa uma esperança de que as coisas possam finalmente voltar à normalidade. O aprendizado no semestre em que a aconteceu a disciplina Universidade & Transformação Social me deu mais bagagem para pensar sobre assuntos essenciais à nossa existência, apontando-me meios para tentar resolver questões importantes.”

Bárbara Naomi Nakase Caldeira, estudante de Psicologia - Fernando Rezende / Uniso
Bárbara Naomi Nakase Caldeira, estudante de Psicologia (crédito: Fernando Rezende / Uniso )

“Com a pandemia, eu e meus colegas — na época estudantes do primeiro semestre — estávamos empolgados pelo plantio, e também para nos conhecermos no ‘mundo real’. Estar no câmpus, tanto para fazer uma boa ação quanto para conhecer minha turma, foi uma experiência diferente e maravilhosa. A atividade foi enriquecedora! Dá muito orgulho saber que a Uniso é uma universidade reconhecida por sua sustentabilidade. Aprender mais sobre questões socioambientais nos torna profissionais melhores, sejamos nós psicólogos, engenheiros, advogados ou qualquer outra coisa.”

Texto: Guilherme Profeta

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