Buscar no Cruzeiro

Buscar

Pesquisa faz um raio-X do comércio de sucata ferrosa em Sorocaba e propõe melhorias

Reúso de materiais na construção civil é alternativa

20 de Janeiro de 2022 às 12:00
Edson Ribeiro, pesquisador
Edson Ribeiro, pesquisador (Crédito: Paulo Ribeiro – Arquivo/Uniso)

A cada edificação construída em todo o mundo, diversos materiais acabam sendo descartados e gerando entulho por erros no projeto e na execução, pela má qualidade dos materiais ou pela falta de qualificação da mão de obra. Por conta disso, cada vez mais pesquisadores têm se atentado ao tema.

Para combater o desperdício e diminuir custos nas construções, várias frentes de trabalho vêm sendo pesquisadas e implementadas. Mas são poucas as pesquisas que abordam o aproveitamento de resíduos de outros sistemas produtivos, como metais, minérios, polímeros, vidros e madeiras. Foi para ampliar este debate que o pesquisador Edson Ribeiro, da Universidade de Sorocaba (Uniso), decidiu estudar os aspectos técnicos do reúso de sucata ferrosa na construção civil.

Na pesquisa, feita para conclusão de seu mestrado em Processos Tecnológicos Ambientais pela Uniso, Ribeiro fez um raio-X detalhado do comércio de sucata ferrosa em Sorocaba e desenvolveu uma série de recomendações técnicas e organizacionais para o reúso destes materiais, tanto nos sistemas construtivos tradicionais quanto em sistemas alternativos.

“O ferro é um componente essencial para as edificações e exerce grande pressão sobre os recursos naturais não renováveis. No geral, o destino da maior parte da sucata ferrosa é a reciclagem pela siderurgia. Apesar de ser considerada ambientalmente adequada, a reciclagem de materiais com potencial de reúso representa uma perda energética considerável. Por isso, o reúso de materiais normalmente encontrados no comércio de sucatas, como vigas, barras de aço, arames, perfis estruturais, malhas pop, telhas galvanizadas, chapas, treliças, vergalhões, estribos nervurados, entre outros, têm potencial de reduzir os impactos ambientais e os custos das construções”, explica Ribeiro, no trabalho intitulado “Comércio de Sucata Ferrosa e Possibilidade de Reúso no Município de Sorocaba”, concluído em 2019, sob a orientação do professor doutor Daniel Bertoli Gonçalves.

Muita sucata

Ribeiro visita um comércio de sucata - Paulo Ribeiro – Arquivo/Uniso
Ribeiro visita um comércio de sucata (crédito: Paulo Ribeiro – Arquivo/Uniso)

A pesquisa de Ribeiro revelou que Sorocaba tem cerca de 200 estabelecimentos comerciais de sucata ferrosa, sendo que a maior parte ainda trabalha na informalidade. Após uma intensa consulta, o pesquisador identificou 70 estabelecimentos com registros. “Visitei 52 comércios de sucata e coletei informações para identificar e caracterizar tipos e quantidades de materiais, forma de classificação e comercialização”, conta o pesquisador.

Ribeiro constatou que a sucata ferrosa é encontrada em abundância e com facilidade em Sorocaba, em razão do vasto e crescente parque metalúrgico e dos vários estabelecimentos comerciais que trabalham com o material no município. “A pesquisa nos estabelecimentos, no entanto, constatou que os comércios de sucata carecem de melhor organização e treinamento de mão de obra. Mas, ainda assim, possuem materiais de muita utilidade para a construção civil”, afirma.

Entre os materiais encontrados que chamaram a atenção de Ribeiro estão os pilares ou vigas “H”; no Brasil a estrutura metálica ainda é empregada de forma tímida. O pesquisador também destacou a quantidade de treliças metálicas encontradas, prontas para o reúso em coberturas, telhados, fechamentos, escadas, e chapas de ferro, e com grande potencial para a confecção de portas, portões, fechamentos em geral e tampas de caixas de inspeção, por exemplo.

“Por se tratar de materiais de grande dimensão e uso específico, eles acabam recebendo um valor muito inferior aos demais no comércio sucateiro. Esses tipos de materiais são vendidos geralmente abaixo da metade do preço de mercado de um material novo”. Quando isso não acontece, são dimensionados em pedaços menores para serem destinados ao mercado da siderurgia, conta Ribeiro.

Vamos reciclar

Apesar do grande número de estabelecimentos que trabalham com sucata ferrosa, e da boa qualidade e variedade de materiais encontrados nestes estabelecimentos, seu reúso na construção civil ainda é pequeno e limitado, segundo Ribeiro. Isso acontece pela falta de informações técnicas e de preparo da mão de obra empregada no setor. Na perspectiva de melhorar a sustentabilidade da construção civil, o estudo sugere ações para maior aproximação dos profissionais da construção civil com o comércio de sucata ferrosa, conscientização da mão de obra e treinamentos técnicos para o reaproveitamento desse resíduo como matéria-prima nos projetos e construções.

Para exemplificar as possibilidades do reúso de sucata ferrosa nas construções civis, Ribeiro cita os exemplos dos contêineres marítimos (que têm se tornado muito presentes nos atuais projetos arquitetônicos) e o projeto de um portão que envolveu apenas sucata metálica, executado pelo próprio pesquisador.

“O potencial do reúso da sucata ferrosa na construção civil é grande, assim como se deu com a madeira de demolição, que passou a ser usada no madeiramento de coberturas e na fabricação de móveis rústicos, e com o entulho ou caliça, que têm sido utilizados para substituir parte da brita no concreto. No caso dos metais, as edificações acabam empregando materiais novos, muitos dos quais poderiam ser substituídos por materiais provenientes do comércio sucateiro, como é o caso de vergalhões, vigas, malhas, tubulações... que podem ser usados de diversas formas, da estrutura à ornamentação. O comércio sucateiro tem apostado nessa tendência de reúso e já começou a responder com o desmonte, classificação, estocagem e a organização. O grande desafio está em conscientizar os profissionais sobre a necessidade do reúso destes materiais enquanto alternativa para melhorar a sustentabilidade das construções”, conclui Ribeiro.

Com base na dissertação “Comércio de Sucata Ferrosa e Possibilidade de Reúso no Município de Sorocaba – SP”, do Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação do professor doutor Daniel Bertoli Gonçalves e aprovada em 28 de fevereiro de 2019.

Texto: Marcel Stefano

Galeria

Confira a galeria de fotos