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A Floresta Nacional de Ipanema como espaço pedagógico

Estudo mostra que a Flona ainda é "invisível" para a prática docente

18 de Janeiro de 2022 às 15:42
A pesquisadora Adriana Teixeira de Lima apresenta propostas educativas para execução na Flona
A pesquisadora Adriana Teixeira de Lima apresenta propostas educativas para execução na Flona (Crédito: Paulo Ribeiro (Arquivo/Uniso))

Pense numa floresta enorme, com uma biodiversidade incrível, onde vivem mais de 500 espécies de animais e milhões de árvores e plantas dos mais variados tipos e cores. Rios, riachos, lagoa e cachoeira completam a paisagem. Como se não bastasse toda a sua beleza natural, esta floresta ainda guarda uma riquíssima história, com diversos sítios arqueológicos preservados. Agora imagine que esta floresta está bem pertinho de nós. Mais precisamente em Iperó. Estamos falando, é claro, da Floresta Nacional de Ipanema, um local que praticamente todos que vivem na Região Metropolitana de Sorocaba já ouviram falar. Mas que poucos já foram visitar.

“Adentrar a Floresta de Ipanema é ter acesso à história escrita e às lendas, à beleza arquitetônica das construções históricas e suas ruínas... É observar a exuberância da natureza conservada e algumas experiências institucionais fracassadas, é analisar os aspectos sociais e culturais existentes desde a sua criação. É imaginar toda pujança tecnológica de uma época próspera e deparar-se com imóveis vazios, ruindo; ecos do passado que se entrelaçam com o presente e tentam resistir ao futuro”, conta Adriana Teixeira de Lima, professora, pesquisadora, economista, artista e terapeuta, entre muitos outros rótulos que ela dispensa. “Hoje me sinto guardiã da floresta”, define.

Lima conheceu a Floresta Nacional de Ipanema em 2009, quando levou seus alunos do ensino fundamental da rede pública de Araçoiaba da Serra para visitar o local. “Fiquei impactada pela exuberância do lugar, pelo potencial histórico-cultural por mim desconhecido até então. E não conseguia entender por que esta floresta era - e ainda é - desconhecida e esquecida na educação escolar”, relata.

Dez anos depois, esta indagação foi respondida pela própria professora em sua tese de doutorado em Educação pela Universidade de Sorocaba (Uniso). A pesquisa, intitulada “Cartografias na Floresta Nacional de Ipanema: educação, ecologias e arte”, teve como orientadora a professora doutora Alda Regina Tognini Romaguera.

“No meu trabalho, procuro refletir sobre os motivos pelos quais esse espaço não é visitado pelos professores e estudantes no cotidiano de projetos escolares. E, a partir da composição de um pensamento reflexivo e da minha experiência com a floresta, a tese propõe a reversão dessa circunstância”, explica.

Gigantesca sala de aula a céu aberto

Estudar a Floresta Nacional de Ipanema não é apenas estudar o meio-ambiente ou a história da região de Sorocaba e do Brasil. Segundo Lima, há múltiplas perspectivas técnicas, educativas e artísticas a serem exploradas por professores e alunos no local. Para ela, a floresta é uma “escola-museu-a-céu-aberto”, que possibilita uma perspectiva inovadora para a prática pedagógica.

“Mas, para essa perspectiva se concretizar, é preciso reverter a invisibilidade da floresta e isso passa por uma revisão das práticas docentes. Os professores precisam valorizar as experiências educativas fora do âmbito escolar. Na minha tese, trabalho a ideia do ensino outdoor (fora da sala de aula) como alternativa para uma nova prática de ensino, que envolva os estudantes em experiências reais, que traga desafios, dificuldades, o inesperado, o inusitado, que instigue os estudantes à superação dos seus limites, que incentive a criatividade, a imaginação, a inventividade e, principalmente, a resolução de problemas. E a Floresta Nacional de Ipanema é um ótimo espaço para isso”, afirma.

Para tirar a Floresta de Ipanema da “invisibilidade”, Lima apresenta em sua tese algumas propostas, como a “Trilha Pedagógica”, elaborada como roteiro para auxiliar professores e estudantes na execução de projetos na área da educação. "Os aspectos socioambientais contidos na Floresta de Ipanema são significativos para se trabalhar dentro e fora da sala de aula", diz.

Lima também apresenta a “Trilha Artística”, fruto da sua experiência com a floresta, onde desenvolveu, ao longo da última década, produções culturais conectando as áreas da educação, ecologias e arte. A partir dessa experiência a pesquisadora propôs “A Poética em uma Trilha”, que inaugura composições autorais com técnicas mistas, e que foram catalogados na própria pesquisa, pois visa mostrar a Flona por imagens. Além desses, a autora convida o público a estrear a “Trilha Criativa”, com proposições terapêuticas, e finaliza o estudo com as contribuições da Associação FlanAr. A Associação FlanAr arte e meio ambiente desenvolve projetos para disseminar o conhecimento para o público em geral, e não só o acadêmico, assessora as pessoas sobre as questões relacionadas ao meio ambiente, além de colaborar com a gestão da Unidade de Conservação Ambiental, integrando o Conselho Consultivo.

“É preciso entender esse espaço como promotor de diversas atividades e usos. Por isso, desafio os professores a iniciar a reconfiguração do seu cotidiano escolar, com novas práticas. Desafio que tenham a coragem para se deslocar das cidades da Região Metropolitana de Sorocaba até a Floresta Nacional de Ipanema para uma aula inesquecível, tanto para os docentes como para os alunos”, clama Lima.

Ao final da tese, a pesquisadora garante que toda proposta de reestruturação didático-pedagógica e imagética, contida em seu estudo, será organizada por ela, como roteiros, postais ou catálogos de imagens, sites ou aplicativos, que poderão ser distribuídos ou utilizados pelas Secretarias de Educação, Cultura, Turismo e Meio Ambiente dos municípios da Região Metropolitana de Sorocaba e pelo público em geral.

Com base na tese “Cartografias na Floresta Nacional de Ipanema: educação, ecologias e arte”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação da professora doutora Alda Regina Tognini Romaguera e aprovada em 18 de fevereiro de 2019. A tese pode ser encontrada e baixada no site: https://bityli.com/nccRq

Texto: Marcel Stefano