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Pesquisadores alertam para a presença de chumbo em cosméticos

O estudo considerou 23 marcas brasileiras variadas de sombras

22 de Junho de 2021 às 13:00
 Profa. Valquíria e aluna Bruna em laboratório na Uniso
Profa. Valquíria e aluna Bruna em laboratório na Uniso (Crédito: Paulo Ribeiro/Arquivo)

Uma pesquisa desenvolvida recentemente na Universidade de Sorocaba (Uniso) aponta dados preocupantes para quem está acostumado a usar sombra cosmética para ressaltar os olhos: alguns produtos de fabricação brasileira podem colocar em risco a saúde dos usuários. Os resultados foram publicados no periódico X-Ray Spectrometry, na forma de um artigo assinado pelos professores doutores José Martins de Oliveira Júnior, Waldemar Bonventi Júnior e Valquíria Miwa HanaiYoshida, além da estudante de graduação em Farmácia Bruna Vilela Santos, que concluiu o curso em 2018.

O problema, conforme explica a pesquisa, é que alguns compostos metálicos que eventualmente podem estar presentes em cosméticos, quando em contato prolongado com a pele, podem passar para a corrente sanguínea e resultar na absorção de bioacumuladores — nome dado às substâncias que o corpo humano não é capaz de eliminar e, portanto, são retidas no organismo ao longo do tempo —, como é o caso do chumbo, muito perigoso para a saúde, podendo causar danos ao sistema nervoso.

No caso desse metal pesado, há um limite estabelecido internacionalmente por agências governamentais: a cada grama de cosmético, a quantidade de chumbo não deveria passar de 20 microgramas (g). No entanto, o estudo aponta que essa não é uma regra cumprida por todos os fabricantes brasileiros. Foi constatada a presença de chumbo em quantidade superior à permitida em duas amostras de sombra, nas cores prata e cobre. “O valor médio relativo à presença do metal nessas amostras é de 40g/g, ou seja, o dobro do limite permitido, o que não pode ser ignorado, dado que essa é uma questão crítica para a saúde pública”, alertam os pesquisadores.

Para chegar a esses resultados, o estudo considerou 23 marcas variadas de sombras disponíveis no mercado brasileiro, as quais não foram divulgadas, uma vez que apenas o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) pode identificar produtos e marcas em seus resultados de pesquisa. Sobre esses produtos, foi aplicada uma técnica de análise conhecida como Fluorescência de Raios-X (XRF), por meio da qual os elétrons presentes nas amostras são estimulados por feixes de radiação. A partir da emissão de fótons, é possível identificar exatamente quais elementos químicos estão presentes nessas amostras. Assim, a partir dos resultados, os elementos e as respectivas quantidades foram comparados àqueles descritos nos rótulos.

Amostras de sombras disponíveis no mercado brasileiro - Paulo Ribeiro/Arquivo
Amostras de sombras disponíveis no mercado brasileiro (crédito: Paulo Ribeiro/Arquivo)

Outro problema registrado pela pesquisa é justamente a discrepância entre o que é descrito nas embalagens e o conteúdo efetivo dos produtos. “A denominação INCI — um acrônimo em língua inglesa que significa Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos — é que designa a nomenclatura comum utilizada para a rotulagem dos ingredientes na embalagem dos produtos cosméticos, facilitando a identificação do ingrediente pelo consumidor. Em nosso estudo, essa denominação não foi respeitada por todos os fabricantes”, afirma Santos.

Os elementos mais importantes para a determinação da cor da sombra são, em ordem decrescente, o manganês (Mn), o enxofre (S), o cloro (Cl), o cálcio (Ca) e o ferro (Fe). Mas os autores alertam: “Produtos que exibem nos rótulos exatamente a mesma composição apresentam baixa similaridade entre si, dessa forma simplesmente não é possível que essas sombras cosméticas sejam de fato compostas pelos mesmos elementos.” Um exemplo é que a mesma composição química foi declarada nas embalagens de amostras de sombras nas cores rosa, preta e marrom, mas a análise indicou elementos diferentes. Essa constatação leva a uma das conclusões da pesquisa: nem sempre o que está descrito no rótulo corresponde à verdadeira composição determinada pela técnica de XRF, o que por si só já é bastante problemático.

“Para escolher uma marca mais responsável, é necessário verificar no rótulo a presença de autorização de funcionamento do fabricante e consultar se o produto está notificado na Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária”, recomenda HanaiYoshida, a pesquisadora responsável pelo estudo.

Tal consulta pode ser feita por meio do site da agência, http://portal.anvisa.gov.br/cosmeticos/consultas, bastando que se tenha em mãos o CNPJ do fabricante. Ainda assim, podem ocorrer discrepâncias nesse processo de notificação, como a pesquisa demonstrou, o que levanta um alerta para a necessidade de um maior controle na regularização e na comercialização de produtos cosméticos.

Texto elaborado com base no artigo “Assessment of chemical elements in cosmetics’ eyeshadows by Xray fluorescence and International Nomenclature of Cosmetic Ingredients characterization”, publicado no periódico X-Ray Spectrometry, na edição de maio e junho de 2018, de autoria dos professores doutores José Martins de Oliveira Júnior, Waldemar Bonventi Júnior e Valquíria Miwa HanaiYoshida, e da estudante de graduação Bruna Vilela Santos. A pesquisa é um trabalho conjunto dos Programas de Graduação em Farmácia e Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Uniso. Acesse: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/xrs.2835

Texto: Guilherme Profeta

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