Buscar no Cruzeiro

Buscar

Entre vales e montanhas

06 de Novembro de 2018 às 06:05

Entre vales e montanhas Luis, Francisco e Jarbas: rotas definidas e um GPS tornaram a aventura sobre duas rodas ainda melhor. Crédito da foto: Acervo Pessoal

Eles adoram viajar. De moto, principalmente. E foi pilotando três motocicletas Scooter GT 650 BMW que os casais Jarbas Machado Consentini (corretor de imóveis) e Edna Teresa Please Consentini (psicóloga); Francisco Mazon (engenheiro) e Ana Claudia Lara Mazon (empresária), e Luis Carlos de Souza e Francisca de Boni (ambos artistas plásticos) percorreram as sinuosas estradas que levam aos Alpes italianos, austríacos e suíços, em 2015, numa viagem sem precedentes na vida deles. Em 2017, a aventura sobre duas rodas, numa moto Honda nc750x teve como cenário Portugal e Espanha; este ano, a Scooter GT 650 BMW foi novamente a companheira de muitos momentos de adrenalina a mil, quando estiveram na Itália, Áustria, Suíça, Liechtenstein e Alemanha, contam Jarbas e Edna.

Entre vales e montanhas Ana Claudia, Edna e Francisca compartilhando as emoções da viagem de motocicleta pela Europa gelada. Crédito da foto: Acervo Pessoal

A viagem de 2015 foi precedida de reuniões e uma programação que levou cinco meses. Partiram no dia 16 de setembro rumo a Paris, onde ficaram até o dia 20, seguindo depois para Milão, onde teria início o percurso de moto tão aguardado. Em Milão, foram conhecer o Duomo e foi lá também que pegaram as três motos (reservadas antecipadamente do Brasil), incluindo capacete, casaco e luvas. Momento de muita emoção para os três casais na locadora H.P. Motorrrad “Fizemos, à parte, a locação de um GPS, da marca BMW, que ficou instalado na moto que foi pilotada por mim, que nos guiou com perfeição pela Itália, Áustria e Suíça. Fomos informados que o consumo médio de cada motocicleta era aproximadamente 5 litros por 100 km rodados e a capacidade do tanque de 14 litros. Ficamos atentos para não ficarmos sem combustível, pois as estradas onde iríamos rodar quase todas serpenteavam pelos Alpes e era difícil encontrar postos de abastecimento”, relata Jarbas.

Familiarizados com as motos, partiram de Milão rumo ao objetivo que era pilotar pelos Alpes (italianos, austríaco e suíço). “Naquele momento nossa adrenalina estava saindo para fora do capacete e o coração corcoviando de contentamento”, lembra Jarbas. “O primeiro abastecimento de benzina foi ainda em Milão, onde tivemos uma pequena dificuldade, a maioria dos postos de combustível é de autoatendimento, coloquei na máquina 20 euros para liberar a bomba e abasteci minha moto que levou aproximadamente 9 euros para encher o tanque, e aí descobri que a maquina não voltava troco e você fica com um crédito naquele estabelecimento. Resolvemos o problema abastecendo as outras motocicletas com aquele crédito. A partir daí só abastecemos usando o cartão de euro”.

Ao longo da rodovia para Bormio, “surpreendentemente muito bonita, fizemos uma parada na Agrícola Mauro Simonini, onde degustamos deliciosas maçãs que chegavam pesar mais de 800 gramas”, cita Jarbas.

Entre vales e montanhas Edna fez questão de levar a bandeira brasileira. Crédito da foto: Acervo Pessoal

Depois rodaram 209 quilômetros até Bormio, na região de Somdrio, onde pernoitaram. De acordo com Jarbas, a cidadezinha fica ao pé da montanha com neve nos picos e águas termais que nascem nas montanhas e são canalizadas para os locais de turismo como hotéis, onde chegam com uma temperatura bem alta. “No hotel onde ficamos, no jardim, donde se tem um visual magnífico para a montanha, há uma hidromassagem, para uso coletivo que utiliza esta água fumegante, onde pode-se tomar delicioso banho quente ao ar livre, onde a temperatura externa é bem baixa formando um contraste delicioso”, recorda-se. O local mantém construções antigas, bem típicas da Europa, com ruas estreitas, muito frio e muita neblina, segundo Jarbas e Edna. No outro dia bem cedo continuaram a aventura.

60 curvas e muitas emoções na subida de Passo Dello Stelvio

Entre vales e montanhas Jarbas e Edna no mirante de Passo Dello Stelvio, de onde pode-se ter uma vista deslumbrante do vale. Crédito da foto: Acervo Pessoal

“No dia 22 de setembro, quando demos partida nas motos estávamos iniciando o trecho mais emocionante de nossa viagem, iríamos iniciar a subida do Passo Dello Stelvio, estação de esqui no alto dos Alpes, localizado no Tirol do Sul. Uma estrada estreita, com pelo menos 60 curvas de 180 graus, que contornam os Alpes Orientais”, comenta Jarbas.

De acordo com Jarbas e Edna, a estrada atravessa o parque e foi construída em 1820, e é a mais alta da região, alcançando 2.757 metros de altitude. Também é considerada uma das 10 mais perigosas do mundo o que, para todo motociclista, a adrenalina transforma todo perigo em uma aventura inesquecível, e para eles não foi diferente. “Cada curva nos levava a centenas de metros montanha acima; a partir daí as laterais da estrada ficaram tomadas pela neve, havia apenas o leito da estrada sem neve, o que nos deu mais segurança.

Chegamos na estação de esqui, um local que parecia de outro planeta, muito lindo, com dezenas de barraquinhas vendendo roupas de frio e coisas típicas; ali também há hotéis e lanchonete. Ali tivemos um pouco de desconforto, faltava oxigênio para respirar, fiquei meio apreensivo, pois tínhamos que pilotar mais 150 quilômetros até Innsbruck, do outro lado dos Alpes”, relembra Jarbas.

Emoções do início ao fim da viagem. Aqui, o grupo de Sorocaba inicia a descida para Innsbruck. Crédito da foto: Acervo Pessoal

Ele relata que tomaram chocolate quente para aquecer o corpo, “porque a alma já estava a mil e comemos um struddel”. Segundo os viajantes, a descida em direção a Innsbruck é muito semelhante à subida, com muitas curvas e uma paisagem deslumbrante, tão bonita quanto a subida do lado da Itália. “Durante o percurso encontramos vários ciclistas que sobem e descem a montanha, e um portador de necessidades especiais, que com seus braços fortes ‘pedalava uma espécie de triciclo e subia a montanha com muita animação; muitos carros esportivos, um local muito badalado”, afirma Jarbas.

“Depois de muitas curvas montanha acima encontramos um mirante, donde se tem uma vista deslumbrante do vale, e aos nossos olhos a estrada forma imagem semelhante a uma enorme serpente. Ao lado do mirante há uma grande cachoeira, provavelmente formada por agua de degelo. Paramos para registrar o inusitado local. Ao lado encontra-se um estabelecimento cujo proprietário é um senhor austríaco que nos contemplou com informações curiosas sobre a região. O ‘bar’ chama-se Camere Zimmer e seu interior é decorado por muitas cabeças de alce empalhadas. A temperatura estava abaixo de 7ºC, mas para quem tem o couro lixado pelo vento, estava uma delicia.

Entre vales e montanhas A beleza da paisagem emoldura as estradas europeias. Crédito da foto: Acervo Pessoal

Era hora de continuar, rodamos mais um pouco e deparamos com uma capela, Chiesa Di S Ranieri, construída em 1827. Mais algumas curvas acima paramos em um recuo da estrada para nos divertirmos na neve”, relembra Jarbas.

O sonho realizado, sob chuva e neve

Jarbas continua o relato da viagem: “Finalmente chegamos ao topo da montanha: 2.760 metros de altitude. Parada obrigatória, o mais alto da estrada. A partir daí começa-se a descer em direção à Áustria. Nesta primeira etapa de nossa viagem realizamos o nosso sonho e de qualquer motociclista, de pilotar no Passo Dello Stelvio.

Entre vales e montanhas Pausa para o almoço em Resia; depois, mais surpresas. Crédito da foto: Acervo Pessoal

Nossa próxima parada foi em Resia. Ainda faltavam 120 quilômetros até Innsbruck. O frio era grande e garoava, nossas luvas estavam encharcadas e a mão começava a incomodar. Pedimos ao dono de um restaurante alguns saquinhos plásticos e colocamos por cima das luvas, o que surtiu algum resultado, pois além de não molhar mais as mãos, mantinha-as aquecidas e lá fomos nós.

Chegamos em Innsbruck ainda com o dia claro. Validamos o Innsbruckcard, comprado pela internet daqui do Brasil e que nos dava direito a andarmos de ônibus de turismo por toda a cidade, no funicular, um tipo de bonde que leva até os picos mais altos dos Alpes e ir em outro ônibus até o Swarovski Crystal World. Fomos dormir sonhando com as emoções da viagem.

No dia 23 de setembro, amanheceu chuvoso, enfiamos cabeça abaixo uma capa de chuva e tomamos um ônibus “Shuttle” até a sede da Swaroviski, a 20 km do hotel. Algo inacreditável e surpreendente. A entrada do museu fica incrustada numa parede totalmente revestida de hera representando uma esfinge. O visitante entra por onde seria a boca da esfinge. Lá dentro, somente as peças são iluminadas, há diversidade de arte, tudo feito de cristais. Deslumbrante.

De volta a Innsbruck encontramos muitos italianos trabalhando na cidade, assim ficava mais fácil a comunicação, pois como descendentes de Italianos que somos dava pra se virar e tínhamos a Edna, filha de italiano, que proseia bem no idioma.

Mais emoções

Entre vales e montanhas A arquitetura tipica encantou os viajantes sorocabanos. Crédito da foto: Acervo Pessoal

O dia 24 de setembro também amanheceu chuvoso. Fomos de ônibus até a estação onde se pega o funicular para subir as montanhas de Nordkette, no famoso Hungerburgbahn funicular, primeiro através de um túnel, passa-se uma imponente ponte sobre o rio Inn, e finalmente percorre uma inclinação de 46º para atingir o Humgerburg, a 860 metros de altitude. Neste local faz-se baldeação para um teleférico que sobe até 1.905 metros de altura “Seegrube”, onde se tem vista de todo o Central Valley Inn. Durante toda a subida tem-se visão descomunal e tivemos a sorte de ter chovido nos dias anteriores e nevou muito deixando toda a montanha congelada. Lá no alto tivemos dificuldade até para caminhar, a neve chegava até o meio da canela.

Partimos para Resia e foram 128 km de estrada pelo meio de montanhas cobertas de neve, muitas casas de madeira com telhado típico. Resia fica na região Curon Venosta, divisa com a Áustria, e apesar de ser cidade italiana todos falam austríaco e italiano, todos as placas indicativas e as fachadas de todos os comércios são escritos em austríaco. Resia é uma estação de esqui, com altitude de 1.498 metros.”

A surpresa do GPS, no ápice da aventura

“No dia 25 de setembro tínhamos 376 km pela frente até Milão, onde entregaríamos as motos. A estrada seguia quase o mesmo trajeto de um rio, suas águas eram de um cinza azulado por causa de muito cálcio, trazido pelo degelo das montanhas. Nosso trajeto inicial tinha passagem por Saint Moritz, entramos em território suíço e rodamos em direção a Saint Moritz, cruzamos com o famoso trem vermelho que faz um passeio turístico procurado por viajantes do mundo todo. Em determinado trecho do caminho, dentro de um vilarejo, meu GPS indicava uma nova rota que não passava por Saint Moritz, (eu o tinha programado para a rota de Resia até Milão), resolvemos seguir esta nova direção, foi o que de melhor podia ter acontecido.

Entre vales e montanhas No caminho para Davos, na Suíça, muitas emoções. Crédito da foto: Acervo Pessoal

O novo trajeto passava pelos Alpes Suiços, descia até Davos e seguia para Milão. Este percurso pelos Alpes Suíços, a mais de dois mil metros de altitude só tinha o filetinho preto do asfalto, o resto era tudo muita neve de um branco que doía o olho. O mais incrível é que lá em baixo passamos bastante frio mas quando atravessa-se as nuvens tem-se sol o tempo todo, a temperatura fica estabilizada e não se tem tanto frio. De repente, no meio do nada, encontramos dois lagos que ainda não estavam congelados. Este dia foi o ápice de nossa viagem, realizamos nosso desejo de pilotar nos Alpes. Chegamos em Milão, entregamos as motos. Realizamos nosso grande sonho com muita segurança.”

Galeria

Confira a galeria de fotos