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Felinos

Deitou, perdeu!

29 de Junho de 2019 às 00:01

Deitou, perdeu!

Crédito da foto: Neusa Gatto

Neusa Gatto

Hei, hei, hei... Ouço aquele chamado bem nas minhas costas já quase na sala. Me viro e dou de cara com ele: Chiconauta. Com aqueles olhos meio estranhos, fixados em mim, orelhas em alerta já sei que nada de bom tá pra chegar. Mas, arrumo coragem e encaro ele. O que foi? Não me diga que vai correr pro colo dela, diz ele meio enfezado. Olho pra sala e lá está ela conversando com alguém no celular. E ri muito. Sim, digo, vou lá.

Não vai não! Retruca Chico. Ele dá uma volta inteira em mim, tipo me bancando. E, eu quieto. Num momento de distração meu ele me dá uma leve patada na orelha. Viro um bicho. Parto pra cima dele e, surpresa, ele se deita. Hãããnhãnnnn... é isso, né? Penso. Não bato em quem está no chão. Regra número um entre nós, gatos. Deitou, perdeu.

Da sala, vem o grito: Fite! O que você está fazendo? Já escuto sua voz e os passos apressados. Eu? Reflito. Não fiz nada. Mas quê o quê o estrago tá feito. Ralha, ralha, ralha comigo. E não é que ela levanta o Chico do chão e o acarinha no colo? E lá vai o Chico com aquele sorrisinho vencedor estampado na cara. Viro-me e saio. Vou curtir outra coisa. Se eu queria o lugar dele ali? Claro. Era o que eu ia fazer quando esse abilolado apareceu no meu caminho.

Vou pro quintal. No caminho, o Mestre, no esquema de sempre pensador... tranquilo... Então, vejo um vulto passar rápido pelo telhado. Nem pisco. Subo na árvore e num pulo tou lá. Ora, ora, ora sibilo pro sujeitinho sujo e magro à minha frente. Fico até com dó desse companheiro. Mas aqui, não. Este lugar tem dono. E, então, sem piedade da minha parte, exerço todos os meus atributos felinos, arrepio os pelos e faço a cara mais medonha que posso. Ele não fica atrás. Mostra os dentes. Mas, começa a sair de ré todo arqueado. Devagar me aproximo. Rápido, sai igual a um foguete. Salta do telhado. Sem piscar parto atrás dele. Voo. E, então... me espatifo lá em baixo por cima de um monte de papelão, sacos plásticos. Afundo na bagunça.

Atordoado, ouço minha dona desesperada a gritar longe, do quintal: Fite, Fite! O que você fez? Em instantes, lá está ela a me procurar no vizinho. Desenxabido boto a cara pra fora. Vejo bronca a caminho. Me escondo. Em minutos, sou pego pelo cangote. Só faltava essa, né Fite? Deixa ver se não tá todo quebrado! Ralha ela.

Ahhhh.... aconchegado não sinto dor. Então, vamos pra casa. Já na porta, o Mestre, desbaratinado, se dá um banho nos pelos. Nem olha. Viro de lado e, como sempre, Chiconauta! Com aquele ar esquisito. Olho pra ele. Ronrono um pouco. E, ao som de uma música tranquila, lá estou eu, cercado de carinhos. Como devia ser, desde o começo, se o Chiconauta não fosse um abelhudo!