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Felinos

Gato punk apaixonado depois de um cochilo vespertino renovador

05 de Abril de 2019 às 22:06

Gato punk apaixonado

Crédito da foto: Divulgação

Hoje, estou um tanto nostálgico depois do cochilo da tarde. Talvez porque acordei ao som de uma música suave que vem da minha casa. Aqui, na escadaria do quintal, me espreguiço e olho o céu. Logo, logo deve escurecer. Divago um pouco. Em meu pensamento, uma figurinha que cruzei noite dessas na rua. Que miou pra mim. Um som sussurrante que bateu fundo. Crush total!

Quem? O Cicinho apaixonado? Aquele gato punk? O que morde e arranha? Sim, eu mesmo. Rajadão de amarelo. Igual meu pai. Sou gato sem raça. Mas isso não me incomoda. Como podem ver na foto, além de olhos verdes, tenho um belo porte. Não, não me critiquem pela falta de modéstia, mas sou lindo. Na flor da idade e vitalidade, eh, eh, eh...

E, temperamento não se discute, não é? Sim sou meio temperamental. Prevenido e alerta, eu diria. Também com começo de vida na rua, poderia ser de outro jeito?

Dei sorte. Andei muito por aí antes de chegar aqui. Dias varado de fome. Molhado de chuva. Escapulindo dos carros, motos. De uns sujeitos esquisitos. Mal-encarados. Malvados. E, então, vim pra cá. Casa com quintal. Árvores. Plantas. Escadas sombreadas. Caixas, trecos, feixes de coisas para arranhar. E, tardes inteiras de sonecas na rede da varanda. E, pra maior tranquilidade, só um humano na casa. Um hippie cinquentão, cabeludo e grisalho, boa gente. O único que sacou meu miado de fome. Nossas vibrações bateram. E então, passou a me dar almoço e janta. Com tamanha gentileza, decidi morar com ele.

Não posso me queixar de falta de liberdade. Saio e volto quando quero. Perambulo por muros, jardins, telhados, quintais, terrenos vazios. Faço amigos nas portas dos bares, farmácias, escolas, bancas de jornal, igrejas e até nas rodinhas da galera da rua. Observo, ouço tudo que dizem. Amplio minha cultura geral.

Toda noite também dou um “salve” no beco, onde a turma se reúne pruma farra. O Fumaça, Grafite, Estopa, Tigre, Chiconauta, Morgana, a Teca...e quem mais vier na boa....

Mas hoje não vou pra lá não. A noite tá descendo. Subo no muro e faço minha toalete pra gata ronronante que me espera. Banho no pelos. Patas. Olhos. Vou pro portão. Desço a rua ligado na malandragem dos chegados. Aperto o passo. E, lá está ela. No jardim. Chego mais. A gente se olha. E ela vem pro meu lado. E mia, mia de novo daquele jeito pra mim...a noite promete! (Neusa Gatto Pereira)