Summit
Cúpula Mobilidade mostra desafios que continuam sem avanços
Evento indicou caminhos futuros da indústria automobilística brasileira
Organizada pelo jornal O Estado de São Paulo, a Summit em sua oitava edição, realizada em 5 de junho, mostrou que os caminhos para avanços da indústria automobilística brasileira dentro do tema geral de mobilidade são amplamente conhecidos, mas boa parte continua emperrada ou dependente de decisões lentas do governo.
Bem interessante foi o debate sobre perspectivas. Rogélio Golfarb, ex-vice-presidente da Ford América do Sul e atual consultor e conselheiro sênior de empresas, destacou que desde o recorde de vendas em 2012 de 3,8 milhões de unidades, chegamos a 2025 ainda bem longe de igualar aqueles números. “Há uma tempestade perfeita: a previsão para 2025 de cerca de 2,8 milhões de unidades está 26% abaixo do pico de 13 anos atrás. A carga fiscal continua muito elevada, assim como a taxa básica de juros e a inflação acima do teto da meta”, explica.
Para ele, o Programa Mover e o chamado IPI verde são eficazes, mas não resolvem tudo. “Apesar do aumento da oferta de marcas e novos modelos, em especial da China, as opções que vão desde híbridos básicos, plenos e plugáveis até os elétricos, reduzem a escala de produção. Sem crescimento mais firme da economia brasileira fica difícil. Soma-se a isso a baixa competividade em um mundo com capacidade ociosa e sobra de veículos.”
Mauro Correia, da HPE, comentou a falta de uma política industrial. Danilo Rodil, da GAC, destacou o alto investimento da marca no Brasil e, além de importar, fabricará aqui dois ou três carros já em 2026. Ricardo Bastos, da GWM, apontou que o fortalecimento da indústria passa pela escala de produção, previsibilidade, diminuição dos impostos e tecnologia.
Em outro painel se abordou a transição energética que, no Brasil, encontra mais de uma solução. Para Gastón Pérez, presidente da Bosch América Latina, não existe uma solução geral que moverá o mundo todo e aqui o biocombustível é uma possibilidade muito interessante, além dos híbridos plugáveis flex.
Na palestra magna, Henry Joseph Jr, diretor de Sustentabilidade e de Parcerias Estratégicas e Institucionais da Anfavea, chamou atenção para a frota brasileira: 42% têm mais 10 anos de fabricação e produzidos sob legislações menos restritas em emissões. No entanto, até abril deste ano, 10% das vendas de veículos leves eram de modelos híbridos e elétricos.
Projeções para 2040, ainda sem grande precisão, apontam que entre 40% e 55% das vendas poderão ser elétricos, 20%, híbridos, entre 10% e 22%, híbridos básicos, entre 9% e 14%, motores a combustão e 4% a 6% híbridos plugáveis. Em relação à frota, em 2040, de 36% a 40% serão de veículos com motor flex e apenas de 9% a 12% de elétricos.
Joseph Jr, todavia, apontou o grande desafio para alcançar as previsões: 545 a 745 mil pontos adicionais de recarga de elétricos para manter a proporção de um carregador para 10 veículos em circulação, média atual na Europa. Investimento de mais de R$ 14 bi, até 2040, embora sem certeza de que ocorrerá. (Fernando Calmon)