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Cresce a oferta de crédito para a compra de motos

Presidente da Abraciclo diz que a demanda continua aquecida

03 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Marcos Fermanian está no setor desde 1987 e assumiu a entidade em 2012.
Marcos Fermanian está no setor desde 1987 e assumiu a entidade em 2012. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Marcos Fermanian é presidente da Abraciclo desde 2012. O economista está no quinto mandato consecutivo à frente da associação que reúne as fabricantes de motocicletas, ciclomotores, motonetas e bicicletas instaladas no Brasil. Ele ingressou no setor em 1987, quando passou a trabalhar na Honda -- atualmente, é o presidente da divisão de serviços financeiros da companhia.

Portanto, conhece muito bem um dos aspectos que mais impactam um segmento no qual 70% das vendas são feitas por meio de pagamento parcelado. O executivo detalhou ao Estadão os avanços na produção de motocicletas em 2021, as perspectivas para 2022 e a evolução proporcionada sobretudo pela aceleração da digitalização.

Como foi o desempenho do setor de motocicletas no País em 2021?

Assim como aconteceu em 2020, por causa da primeira onda (da Covid-19), fomos duramente impactados no início de 2021 pela segunda onda. Embora a produção tenha ficado ligeiramente abaixo do nosso objetivo, que era de 1,22 milhão de unidades, chegamos a 1,195 milhão. Portanto, no ano o resultado foi bom. Sobretudo considerando as dificuldades na oferta de componentes, o aumento do custo das matérias-primas e das commodities. A alta do câmbio no Brasil também agravou a situação. Apesar disso tudo, a demanda continua aquecida. As fabricantes tiveram dificuldades pontuais ao longo do ano inteiro. Porém, 80% da nossa produção é de motocicletas de baixa cilindrada, de até 160 cm³. Esses produtos são altamente verticalizados e internacionalizados. Eles têm de 90% a 95% de índice de nacionalização. Por isso, dependem menos da importação de peças. Por isso, o impacto talvez tenha sido menor do que em outros segmentos, como o de automóveis.

Abraciclo projeta a produção de 1,29 milhão de unidades em 2022. Como o setor vai alcançar essa meta?

Atualmente, existe um desbalanceamento entre oferta e demanda. A procura continua aquecida por causa de fatores como a expansão dos serviços de entrega na esteira do crescimento do e-commerce. Nos últimos dois anos, o avanço foi exponencial. O maior uso do modal para evitar aglomeração no transporte público também foi muito importante. E, mais recentemente, a alta do preço dos combustíveis contribui para atrair mais consumidores para as motocicletas. Além disso, a oferta de crédito continua alta, sobretudo por causa da chegada dos bancos digitais. Isso gerou mais competição no mercado financeiro. Diferentemente do que acontecia há cinco, seis anos, há muito interesse dos agentes financeiros em oferecer linhas de crédito aos consumidores de motocicletas. Assim cresceu a oferta e a concessão de crédito para a compra. Por outro lado, o crescimento do número de contaminados pela Covid preocupa. Em janeiro, registramos alguma perda de produção por causa da falta de gente nas linhas. Além disso, 2022 é ano eleitoral e, como acontece sistematicamente, isso gera muito estresse no mercado. Nossa maior preocupação é manter o distanciamento social, o que diminui a quantidade de trabalhadores nas fábricas. Isso afeta inclusive os deslocamentos. Nossa indústria fica em Manaus e todo transporte de pessoal é feito por ônibus fretados. Por isso, há uma redução da capacidade de entrada e saída de funcionários. Então, o maior desafio e manter o controle sobre a pandemia. Só assim a gente vai conseguir ampliar a produção.

Como foi possível aumentar a oferta de crédito para a compra de motocicletas?

Houve um importante avanço da digitalização e do comércio eletrônico. O mercado financeiro também foi beneficiado. Com a disseminação de apps e dos bancos digitais, a forma de conceder crédito mudou muito e está mais ágil. A avaliação por parte dos agentes financeiros e dos consumidores também mudou. No Brasil, a economia informal é grande e, evidentemente, a exigência de comprovante de renda praticamente inviabilizava a concessão de crédito. Mas os agentes financeiros aprenderam e descobriram novos caminhos para atender esses consumidores. Evidentemente, nem todos conseguem aprovação.

O que o governo deveria fazer para fomentar o setor?

No nosso caso, a demanda continua bastante alta. O que a gente espera é que as políticas públicas de controle da pandemia continuem sendo implementadas e aceleradas. Essa é a única forma de ampliar nossa capacidade de produção. Além disso, como boa parte dos nossos consumidores é de baixa renda, seria muito bom se a economia voltasse a crescer. Isso ajudaria a recuperar o nível de renda e seria positivo para todo o País.

A venda de scooters cresceu mais de 40%. Essa tendência vai continuar?

Sem dúvida que sim. Aliás, o segmento de scooters é um dos que mais crescem no Brasil há anos. Eles são cada vez mais atraentes para uso em cidades grandes e médias. São uma ótima alternativa ao transporte público. O avanço da tecnologia também atrai novos usuários. Eles têm câmbio automático, freios combinados, ABS e sistema start&stop, por exemplo, que reduz ainda mais o consumo. A alta de quase 41% nas vendas equivale a mais de 100 mil unidades feitas em 2021, ou 9,3% do total. A perspectiva para 2022 é chegar a 10,4% de participação, ou 128 mil unidades. Para comparação, em 2017 a produção foi de 55 mil unidades e a participação, de 6,5%.

Como está a eletrificação das motocicletas?

A eletrificação veicular é uma realidade no mundo inteiro. Mas ela só faz sentido se a geração de energia for limpa. Evidentemente, há marcas no Brasil pensando em avançar no segmento elétrico. Seja como for, nossos associados estão mais focados no desenvolvimento e no avanço da tecnologia flex. O etanol é um dos combustíveis mais eficientes e limpos quando a gente olha todo do ciclo, do plantio da cana ao consumo no tanque da motocicleta. Também precisamos considerar as características estruturais do País. Mesmo nos grandes centros ainda não existe uma infraestrutura adequada para atender um eventual aumento na demanda. (Estadão Conteúdo)