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Um bom semestre para a literatura

12 de Setembro de 2020 às 00:01

Um bom semestre para a literatura

Crédito da foto: pixabay.com

Este ano, não vai ter cerveja na Vila Madalena, caipirinha no centro histórico de Paraty ou chimarrão na Praça da Alfândega. Mas vai ter, sim, Balada Literária, Flip e Feira do Livro de Porto Alegre. Em casa, pelo computador e possivelmente com um público maior do que se esses eventos fossem realizados presencialmente.

Um dos mais simpáticos e inclusivos festivais literários do País, capaz de tirar de casa o recluso Raduan Nassar, como fez em 2012, a Balada Literária teve sua 15ª edição, em homenagem a Geni Guimarães. “A Balada perde aquele abraço apertado, aquela fraternidade que é sua marca. Perde o bar, o bater perna, de um espaço para o outro. Perde o toque no ombro que o leitor dá em seu autor preferido, ali coladinho a ele. A Balada quis perder a esperança, mas a gente não deixou. Está emocionante esta edição. É uma edição propositiva. Difícil de fazer, porque estamos atravessados por uma pandemia e por uma peste de desgoverno. Estamos baqueados, sofrendo com a morte de muita gente. Vai ser uma Balada que, mesmo abalada, não se conforma, vai e parte para a ação, para a afirmação, para o enfrentamento”, diz o curador Marcelino Freire, que vê o evento que criou se espalhando pelo Brasil -- em 3 de setembro teve início a de Salvador.

Outra coisa boa é que as atrações ficarão gravadas e poderão ser vistas depois -- antes, pelos custos, não era possível esse registro. “A Balada não perderá o sentimento por causa dessas novas ferramentas. Ela só estará transmitindo o sentimento. A Balada é de verdade. Basta entrar no site e assistir com a gente Essa é uma resposta que damos a esse tempo que requer respostas assim: efetivas. Sinceras, urgentes”, finaliza Marcelino.

Redes sociais

A Balada acaba, começa o Festival Literário de Iguape. Se antes ele era frequentado pelos moradores do Vale do Ribeira, agora qualquer pessoa poderá acompanhar, até o dia 20, a programação pelas redes sociais do festival. Entre os convidados, Ailton Krenak, Ana Maria Gonçalves, Marcelo D’Salete, Amara Moira, Emicida e, no encerramento, Gilberto Gil.

Um bom semestre para a literatura

As atrações da Balada Literária, que foi toda on-line, estão disponíveis nos canais do evento. Crédito da foto: Reprodução Youtube

O Arte da Palavra, projeto do Sesc que leva autores para diversas cidades do País, também vai para a internet, com a mesma vasta programação. Até o dia 12 de dezembro, pelas redes sociais, ele promove 186 atividades, gratuitas e quase diariamente, realizadas por 40 artistas de 24 Estados. Tudo ficará gravado, algo que, assim como acontecia com a Balada Literária, era difícil de fazer. Ailton Krenak também está na agenda do Sesc, bem como Itamar Vieira, Rogério Pereira, Mailson Furtado, Aline Bei e Carlos Eduardo Pereira, entre outros.

“Neste ano de tantos cancelamentos de projetos e eventos literários, ficamos muito felizes de poder adaptar o Arte da Palavra para o formato online. É importante que tenhamos acesso às manifestações literárias em todas as diversidades possíveis, seja de gênero, geográfica, étnica, etária e estética”, comenta Henrique Rodrigues, escritor e analista de Cultura do Sesc.

Facilidades e dificuldades

A tradicional Feira do Livro de Porto Alegre ganha a curadoria da jornalista Lu Thomé em sua 66ª edição, que será totalmente on-line. Por um lado, isso facilita a logística da agenda cultural e permite, por exemplo, que a escritora chilena Isabel Allende faça a abertura do evento, no dia 30 de outubro. Mas, por outro, impõe um desafio aos livreiros e editores que, há anos, montam suas barraquinhas na Praça da Alfândega. Tito Montenegro, editor e um dos diretores da Câmara Rio-Grandense do Livro, explica que as vendas serão feitas a partir do próprio site dos associados, com o link divulgado na página da feira. E aqui talvez esteja o principal legado desta edição. “Para os associados que ainda não tinham comércio eletrônico, a entidade firmou parceria com uma empresa que desenvolve lojas virtuais para que os expositores possam criar seus sites de vendas em condições especiais. Fizemos também uma parceria com a Metabooks, para uma degustação gratuita de seu banco de metadados de livros. E, por fim, estamos oferecendo, com o Sebrae-RS, uma consultoria para os livreiros qualificarem seus negócios para enfrentar os novos tempos, com ênfase na recuperação pós-pandemia e na crescente digitalização da divulgação e da venda de livros”, explica Montenegro.

Quanto à programação de lives diárias, que ainda será divulgada, Lu Thomé ressalta que a ideia é debater, a partir do universo do livro, temas essenciais. “Os eixos serão valorização da cultura (liberdade de expressão), diversidade (feminismo, antirracismo, inclusão), pandemia (reflexos nas relações e na sociedade), sustentabilidade e ciência (importância da divulgação científica). E o objetivo é trazer nomes de destaque que possam colaborar neste debate.”

Eventos híbridos

Um bom semestre para a literatura

A Flip segue sem curador e ainda não definiu como será o formado do evento este ano. Crédito da foto: Divulgação

Alguns eventos não perderam a esperança de fazer um encontro presencial este ano. A Bienal da Bahia está programada para acontecer no Centro de Convenções de Salvador, entre 27 de novembro e 7 de dezembro. O Fliaraxá está, neste momento, submetendo o protocolo de realização às autoridades de Araxá na tentativa de reunir leitores e escritores no Grande Hotel, entre 28 de outubro e 1º de novembro, numa edição que se pretende híbrida. “Mesmo se o Fliaraxá for 100% digital, o que estamos fazendo de tudo para evitar, ele partirá do Grande Hotel de Araxá”, garante o curador Afonso Borges.

Enquanto isso, a Flip, que não quis falar com a reportagem, segue às voltas com uma edição conturbada. Sem curador desde a saída de Fernanda Diamant, mês passado, e depois de desistir da homenagem a Elizabeth Bishop, escolha que gerou polêmica por seu apoio ao golpe militar, ela deve anunciar “em breve”, segundo nota enviada pelos organizadores, data e formato (Maria Fernanda Rodrigues - Estadão Conteúdo)

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