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Namorar não é mais como antigamente

13 de Junho de 2020 às 00:01

Namorar não é mais como antigamente

A pandemia e o distanciamento social imposto por ela mudou a forma de relacionamentos de casais de namorados. Crédito da foto: pixabay.com

Que nos desculpem os Tribalistas, mas essa coisa de “já sei namorar” tem soado um tanto pretensiosa. Será que sabemos mesmo? Com cada um na sua casa, dentro do seu quadrado, gastando horas no WhatsApp ou brigando com a conexão de internet (que insiste em travar durante as videochamadas), namorar não é mais como era antigamente. Nesse Dia dos Namorados pandêmico, muitas histórias de amor estão chegando em uma espécie de ápice dramático. A distância pode esfriar o amor? Ficar em casa ou furar a quarentena, eis a questão?

Para o psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir, que trabalha há 40 anos com casais, a pandemia revelou uma parte da vida a dois que nem eles sabiam que existia. “Casais que não tinham a oportunidade de convívio tão longo e diário passam a enxergar maneiras diferentes de estar juntos”, diz. “Se esse novo estado provocar os melhores sentimentos de cada um para com o outro, pode, sim, haver um resgate de paixão que tinha sido esquecida ou misturada com o excesso de atividades que tinham de cumprir. A revalorização do vínculo amoroso, além de curar feridas, redimensiona o sentido da vida de estarem juntos.”

A história de Leonardo e Natália, que se conheceram em novembro de 2016, parece ter sido feita para ser narrada neste momento das nossas vidas. Por isso, vamos rebobinar a fita e acessar o Tinder (sim, o aplicativo de paquera).

A técnica de enfermagem Natália Santos Melo Pereira, de 23 anos, foi quem deu o primeiro passo. O trader Leonardo Del Coral Rodrigues Alves, de 24 anos, contou que o “match” aconteceu em um momento em que ele estava fragilizado e fazendo terapia. Mas a história de amor de Natália e Leonardo encontrou a pandemia do coronavírus.

Natália é técnica de enfermagem e está trabalhando na linha de frente do combate ao vírus. Portanto, exposta aos riscos da doença. Já Leonardo está dentro do grupo de risco por ter escoliose congênita, que é uma malformação da coluna. Ou seja, os dois precisam estar isolados um do outro. “Estamos separados por mais de dois meses e meio. Cortamos total o contato físico. Não é fácil. A gente se via dia sim, dia não. Agora, trocamos mensagens o dia inteiro, todos os dias fazemos ligações por vídeo. É assim que nos olhamos olho no olho, que eu vejo o sorriso dela e nos sentimos juntos”, contou Alves.

Para o Dia dos Namorados, o casal manteve a rotina de conversas por vídeo e mensagens. “O mais difícil é não poder sentir o abraço dele. Eu sempre me sinto segura no abraço dele”, disse Natália.

Mais amor, por favor

Namorar não é mais como antigamente

A tecnologia une casais separados pelo período de isolamento. Crédito da foto: pixabay.com

Paula Cleveland, de 25 anos, e Renan Tenca, de 27, dividem a mesma profissão. Eles são dançarinos e o amor nasceu, justamente, durante o trabalho, dentro de um navio. Aí a pandemia também chegou para mudar a rotina de Paula e Renan Os pais dele moram em Itajaí, Santa Catarina. Quando a pandemia explodiu, e a quarentena foi decretada em muitas cidades, Renan estava visitando os pais. “A gente tinha uma viagem marcada para Nova York. Fui visitar meus pais antes de viajar. Quando cheguei à cidade, fechou tudo. Fiquei por aqui com os meus pais”, contou Tenca.

Assim, pela primeira vez desde o início do namoro, o casal passaria a data longe um do outro. Até por isso, os dois estão preparando surpresas significativas para o Dia dos Namorados. “Namoramos há 4 anos. Cada ano, eu escrevo um capítulo de um livro sobre a nossa história. Vou escrever o quarto capítulo e enviar pelo correio”, contou Paula.

Reencontro

O Dia dos Namorados também marcou o reencontro de casais. É o caso do comerciante Vitor Carone, de 32 anos, e a analista financeira Rebeca Quaresma, de 29. Depois de cumprir um longo período de distanciamento, os dois decidiram marcar o reencontro para um dia especial. “Com pais idosos, fizemos tudo direitinho, passamos esse tempo nos falando por WhatsApp, sem arriscar um pulinho”, disse Carone. Quando tudo isso acabar, o casal já planeja morar junto.

Um relacionamento vivido como em um parque de diversões. Essa é a definição de namoro de Ricardo Assumpção Fernandes, de 47 anos, com a jornalista Lídice Leão, de 50. Eles estão juntos há três anos. ‘Começamos a namorar em outubro de 2017, mais precisamente no dia 12. Na primeira vez que nos vimos, a conversa foi tão leve e gostosa como uma brincadeira de criança. Desde então, vivemos num parque de diversões. Vemos paisagens na roda-gigante, o circo é uma festa de cores, na montanha-russa seguramos as mãos um do outro e atravessamos os altos e baixos‘, descreve Ricardo.

Há mais de dois meses, eles estão separados por causa da pandemia do novo coronavírus. “Quando começou a pandemia, logo decidimos que ficaríamos fisicamente separados, cada um na sua casa, já que ele precisava preservar os pais idosos e eu precisava ficar com a minha mãe, também idosa. A decisão foi lúcida e consensual, pois cada um entendeu o lado do outro, de cuidar e proteger a saúde dos pais”, afirma Lídice.

Apesar da distância imposta, Ricardo conta que eles mantêm contato diário: “A saudade é grande. Mas, embora não nos encontremos fisicamente, nos falamos umas seis ou sete vezes ao dia, por telefone ou chamada de vídeo. Não sobra tempo para a solidão, a não ser à noite, na hora de dormir”. Lídice concorda: “É claro que a falta do contato físico pesa, à noite a saudade aperta. É a parte mais difícil. Mas decidimos focar nas coisas boas, na presença possível e não na falta”.

Nos fins de semana, os dois “bebem juntos”, cada um na sua casa, e frequentemente leem trechos de livros um para o outro. “Como passávamos muito tempo juntos, antes da pandemia, e líamos muito, comentávamos sobre livros pessoalmente, mantivemos esse hábito gostoso.”

União antecipada

Namorar não é mais como antigamente

Para alguns casais, a pandemia antecipou a decisão de morar juntos. Crédito da foto: pixabay.com

Para alguns casais, a quarentena serviu para adiantar planos de união. Foi assim com Anamaria Cristina Souza Conde, de 36 anos, e André Cremasco Alves, de 39, que moram em Valinhos, no interior paulista. Eles namoram desde novembro de 2018 e não tinham planos de se casar rapidamente, mas a pandemia acelerou as coisas. “Essa questão de a gente morar junto aconteceu por causa da pandemia. A gente nem decidiu, a coisa foi acontecendo. E uniu mais a gente por conta disso mesmo: ele passar mais tempo em casa e eu também em home office desde 23 de março”, explica Anamaria.

Ela relata que os pais de André estão no grupo de risco e, como ele teve de continuar trabalhando, dividir a casa com Anamaria seria uma forma de protegê-los. “Os pais dele têm mais de 60 anos, são hipertensos e estão super cumprindo a quarentena desde o primeiro dia. Como o André continuou trabalhando, porque o ramo dele não fechou, ficou com medo de continuar indo para a casa dele”, afirma.

Anamaria conta que ela e André se conheceram na adolescência, pois ele é irmão de um amigo: “A gente se reencontrou em rede social. Estudei minha infância toda com o irmão dele. Eu o reconheci por causa do apelido, Pompeu. E aí começamos a conversar, fomos ao cinema, conversamos e não rolou nada. Ele havia acabado de romper um namoro. Depois, ele ainda conheceu uma outra pessoa e me afastei por uns quatro meses. E então a gente se reaproximou”. O que a pandemia uniu, o homem não separa. (Gilberto Amendola e Camila Tuchlinski - Estadão Conteúdo)

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