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Menos de 1% dos sites passam em teste de acessibilidade
Nos sites do governo, as falhas foram identificadas em 96,7%. Crédito da foto: Arquivo/Agência Brasil
Menos de 1% dos sites passaram em um teste de acessibilidade para pessoas com deficiência feito em uma pesquisa promovida pelo movimento Web para Todos, em parceria com a empresa BigDataCorp e com Núcleo de Informação e Coordenação do .br, vinculado ao Comitê Gestor da Internet (CGI.Br). O estudo analisou pouco mais de 10 milhões de sites brasileiros.
Sites são coleções de páginas em um domínio na internet. Atualmente há cerca de 28 milhões no Brasil, embora apenas 50% estejam ativos, segundo os organizadores da pesquisa. Destes, 14 milhões, por volta de dois terços, entraram na amostra que foi examinada pelos responsáveis pela investigação.
Foram verificadas recursos importantes para garantir a acessibilidade, como a descrição de imagens, identificação para leitores de tela, apontando quando há formulários e formas de preencher os campos destes. Também são considerados os links e se estes possuem os padrões exigidos.
A pesquisa avaliou também um validador da organização W3C acerca dos sites. “Embora este não seja voltado para acessibilidade, para sua obtenção, são exigidos requisitos neste sentido, como rótulos descritivos de imagens, marcação de formulários e links de forma adequada”, explica Reinaldo Ferraz, especialista em Desenvolvimento Web do W3C Brasil e do Ceweb.br/NIC.br.
Dos sites analisados em 2020, somente 0,74% passaram em todos os testes. No ano passado, o percentual foi de 0,61%. Entre os que apresentaram pelo menos um problema, destacam-se falhas nos testes do w3c ( 97,72%) (que abrangem parte das outras categorias) e problemas nos links (93.5%), imagens (83,6%) e formulários (55%).
Nos sites do governo, as falhas foram identificadas em 96,7%, contra 99,66% no ano passado. O estudo avaliou tipos específicos de sites. Neste recorte, os que tiveram maior percentual de páginas aprovadas nos testes foram os educacionais (96.12%), corporativos (97,19%) e notícias (97,9%), de comércio eletrônico (98,7%) e blogs (98,76%).
“Não é porque o site apresentou falha nos testes que é totalmente inacessível. Não necessariamente é um impeditivo, mas é um indicador de diferença de experiência. Quando tem muito problema, pode, sim, ser um impeditivo”, avalia Thoran Rodrigues, diretor executivo da BigDataCorp, que executou a análise.
Ele registra que os números melhoraram, mas ainda são muito baixos. Para mudar isso, é preciso “ter mais conhecimento, principalmente para quem trabalha com desenvolvimento, e cobrar das pessoas que isso seja feito”. As empresas, completa, precisam entender que a falta de acessibilidade prejudica seus negócios.
Para Simone Freira, do movimento Web para Todos, um instrumento importante é a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (No 13.146 de 2015). “A LBI, que traz a obrigatoriedade da acessibilidade nos sites brasileiros, precisa definir multa em relação à não adequação da acessibilidade nos sites. Isso precisa chegar à população”, defende.
Dênis Cândido, servidor público com deficiência visual, também defende a aplicação da LBI. Ele relata que, durante a pandemia do novo coronavírus, tem encontrado dificuldades para exercer atividades cotidianas, uma vez que boa parte delas passou a ser feita necessariamente pelo telefone celular e usando smartphones.
“Estou enfrentando barreiras de acessibilidade. Não tenho familiar em São Paulo. Estou isolado e na dependência desses aplicativos para fazer mercado, pedir comida, remédios. Os aplicativos de entrega são acessíveis: às vezes, consigo fazer, mas com bastante dificuldades. Vários aplicativos não têm acessibilidade em ações cotidianas e corriqueiras que precisamos fazer”, comenta. (Agência Brasil)