Entenda
Há 50 anos, o homem pisava na Lua
Naquele 20 de julho de 1969, Neil Armstrong pronunciou a célebre frase: “Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Crédito da foto: NASA / AFP
Há exatos 50 anos, os astronautas norte-americanos Edwin Aldrin Jr. (também chamado Buzz Aldrin), Neil Armstrong e Michel Collins foram os três homens que se distinguiram por realizar o feito histórico de pisar na Lua pela primeira vez. Entraram para a galeria dos pioneiros em registros que repercutem pelas gerações futuras. Com efeito, a extraordinária missão espacial dos três astronautas se converteu em um dos maiores acontecimentos da humanidade.
De inspiradora de poetas e moduladora das marés e dos eclipses, a conquista da Lua passou a ser também a celebração de uma experiência de grande valor científico. Foi essa compreensão que levou Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, a pronunciar a célebre frase assim que deixou a marca de uma pegada em solo lunar: “Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade.”
A epopeia foi transmitida pela televisão para o mundo inteiro. O 20 de julho de 1969 foi um dia para ser recordado em detalhes pelas gerações futuras, como acontece em outras datas marcantes. Foi daqueles episódios que fazem as pessoas lembrarem onde estavam e o que faziam na hora do registro histórico. Em Sorocaba, pessoas atualmente com mais de 60 anos eram crianças e adolescentes na época e muitos se recordam da data. Outros guardam lembranças vagas. E também há quem não tenha preservado nenhum registro de memória daquele dia.
As controvérsias permanecem. Há quem admita que a missão espacial que levou o homem à Lua é mesmo digna de comemoração. Mas há quem discorde. E parte das pessoas ainda não acredita na realização do feito. Citam teorias de conspirações que, segundo as desconfianças, podem ter levado a Nasa -- agência espacial norte-americana -- a manipular as imagens transmitidas ao mundo.
Era a época da “Guerra Fria”, assim chamado o período que se sucedeu à Segunda Guerra Mundial. Foi marcado por grande tensão e disputa de influência e domínio entre os blocos de países liderados pelos EUA, de um lado, e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), atual Rússia, de outro.
João Brotas lembra dos muitos comentários sobre a conquista. Crédito da foto: Fábio Rogério
Em Sorocaba, João Francisco Rodrigues Brotas tinha 17 anos e era aluno do antigo Ginásio Industrial Fernando Prestes. “Houve muitos comentários nas escolas”, ele recorda. A televisão, por meio da qual assistiu às imagens do homem na Lua, era uma antiga TV Colorado RQ (de reserva de qualidade), com transmissões em preto e branco. Era um aparelho de tamanho grande. Naquele tempo, as tevês tinham tubos de imagem envoltos em caixas, como móveis: “Eram necessárias duas pessoas para carregar.”
Agora, aos 66 anos, presidente do Gabinete de Leitura Sorocabano, Brotas não poupa nostalgia ao informar que, no Ginásio Industrial, os professores Osvaldo Casale e Flávio de Souza Nogueira coordenaram trabalhos escolares para os alunos sobre a conquista da Lua.
Ele lembra o nome de Aldrin, um dos astronautas, mas esquece como se chamavam os outros dois. Consulta o Google e em instantes encontra a resposta -- uma prova de que, passados 50 anos do 20 de julho de 1969, o homem também atingiu na Terra níveis de alcance tecnológico até então jamais imaginados. A revolução da internet é uma prova de que outros saltos gigantescos continuaram a ser dados pela humanidade.
Detalhes não são nítidos nas lembranças
Os detalhes sobre a conquista da Lua não são nítidos nas lembranças e muitos só recordam o clima do impacto causado pela aventura da Apollo 11. “Muitos não acreditavam que o homem tinha ido à Lua, falavam que o homem tinha ido para o Japão e usado imagens manipuladas”, diz o pedreiro Milton Alves dos Santos, de 58 anos. Essa incredulidade de parte do público era uma tentativa na época de avaliar o acontecimento como uma espécie de fake news -- para citar um termo atual. Mas Santos prefere acreditar que a viagem foi um fato verídico e extraordinário como notícia. Perguntado se recorda os nomes dos três astronautas da missão Apollo 11 -- Aldrin, Armstrong e Collins --, a resposta é negativa.
O aposentado Antonio João Dias, de 75 anos, está entre os que criticam a viagem à Lua: “Acho que é errado. O que os caras querem lá em cima? Eles têm que ver o que acontece aqui na Terra, não tem nada lá (na Lua).” O também aposentado João Batista Jardim, de 67 anos, tinha 17 anos em julho de 1969 e acredita que assistiu às imagens do homem na Lua no período da noite, em casa, no “Jornal Nacional” da Rede Globo. “Não foi de dia, porque nessa época eu já trabalhava em fábrica.” Ele trabalhava na antiga fábrica de tecidos Santo Antônio, localizada onde atualmente funciona o Shopping Pátio Cianê.
Jardim dá todo o crédito ao fato histórico: “Não tem nada de armação, acho que foi um acontecimento real.” Para ele, a efeméride dos 50 anos é digna de celebração. O nome de um dos astronautas, Aldrin, vem à memória no momento em que é perguntado sobre quem eram os três homens que ocupavam o módulo que fez a viagem espacial.
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O aposentado Ginez Lopes Perico, de 67 anos, recorda que assistiu à transmissão do pouso na Lua na casa de um amigo que morava próximo ao cemitério da Consolação, no bairro da Árvore Grande. Foi um acontecimento que, na sua definição, “causou curiosidade, impressionou”. Lembra que um dos astronautas era Armstrong. E confessa: “Na época nem eu acreditei, até hoje eu fico pensando.
Perico admite desconfianças relacionadas às teorias conspiratórias: “Os EUA são muito de teatro, fazem muita ficção.” E leva em conta projetos atuais dos EUA para retomar viagens espaciais tripuladas: “Só que eles não iam gastar tanto dinheiro para brincadeira.” Como ressalva, ousa dizer: “E não é longe, são 400 mil quilômetros da Terra à Lua.”
Até mesmo para quem nasceu após o 20 de julho de 1969 o tema é controvertido. O vendedor Reginaldo Antonio dos Santos, de 46 anos, nascido em 1972, vê relações do acontecimento com o clima da Guerra Fria protagonizada por EUA e a antiga União Soviética. “Os EUA quiseram dar um passo maior, mostrando superioridade”, compara. Antes disso, em 1961, a União Soviética tinha enviado ao espaço o astronauta Iuri Gagarin, que ficou na órbita da Terra e esse episódio também foi uma revolução científica. Na sua opinião, os EUA quiseram demonstrar que podiam fazer algo maior em alcance e dimensão.
Reginaldo Antonio dos Santos acrescenta que assim como hoje há a “teoria da terra plana”, a conquista da Apollo 11 também despertou as teorias da conspiração em torno da conquista da Lua. E fica impressionado com a façanha realizada numa época em que a tecnologia era mais limitada na comparação com os níveis alcançados nos últimos 50 anos. “E mesmo com a tecnologia limitada da época, conseguiram um feito até então inédito”, ele analisa.
Astronautas coletaram 21,5 kg de material
Foi em 1961 que o então presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy anunciou o plano de levar o homem à Lua antes de acabar a década de 1960. Kennedy não viveu o suficiente, pois foi assassinado em 22 de novembro de 1963, mas a meta foi cumprida às 20h17 de 20 de julho de 1969. Os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin usaram o módulo Eagle para atingir o solo lunar.
Enquanto isso, o companheiro de missão Michael Collins assumiu a direção do módulo de comando e serviço Columbia, que ficou na órbita da Lua à espera do momento de retorno da equipe à Terra. Armstrong e Aldrin passaram por volta de duas horas e quinze minutos fora da espaçonave e coletaram 21,5 quilos de material para a viagem de retorno.
O fato foi acompanhado por cerca de 850 jornalistas de 55 países. A transmissão foi realizada ao vivo mundialmente pela televisão. Estima-se que a audiência atraiu entre 600 milhões e 1 bilhão de pessoas -- o equivalente na época a um a cada quatro seres humanos. (Carlos Araújo)
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