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Cultura do compartilhamento é vantajosa para o usuário, mas exige educação para a cidadania

16 de Setembro de 2019 às 21:53

Cultura do compartilhamento é vantajosa para o usuário, mas exige educação para a cidadania

A economia do compartilhamento está normalmente centrada em plataformas on-line. Crédito da foto: Pxhere

O que vale é o uso, não a posse. Essa é a base de uma tendência contemporânea que vem sendo chamada de cultura do compartilhamento, e que modifica tanto o comportamento — especialmente nos grandes centros urbanos — quanto a economia. Você faz parte dela, por exemplo, ao contratar uma corrida por um app de caronas compartilhadas, ou o apartamento de um desconhecido para passar as férias na praia, em vez de um hotel.

Segundo um artigo de Stefan Hall e James Pennington para o Fórum Econômico Mundial, a economia do compartilhamento está normalmente “centrada em plataformas on-line, com base no compartilhamento de ativos ou serviços subutilizados, de graça ou mediante pagamento de taxa, de usuário para usuário.” Em comparação às relações comerciais tradicionais, o que vem chamando a atenção dos especialistas é o potencial de crescimento: os autores apontam, por exemplo, que o app de reserva de acomodações Airbnb já acumulava cerca de 600 mil quartos em 2016, depois de apenas quatro anos de existência, enquanto a rede de hotéis Hilton levou mais de 90 anos para chegar à mesma quantidade de acomodações.

“O maior objetivo da economia do compartilhamento, que tem todo o potencial para ganhar terreno em muitas outras áreas das nossas vidas, é fazer uso dos recursos que existem na sociedade o máximo possível, reduzindo o custo para o usuário”, explica o professor Renato Vaz Garcia, coordenador da graduação em Ciências Econômicas da Universidade de Sorocaba (Uniso). Os apps de corrida e hospedagem, promovendo facilidade e preços mais acessíveis aos consumidores — além de renda extra para motoristas e locadores —, são os exemplos mais comuns, mas eles estão longe de ser os únicos.

No campus Cidade Universitária da Uniso, desde agosto, é possível encontrar jovens pedalando em bicicletas ao redor dos blocos de salas de aula e laboratórios. Em dias de chuva, são os guarda-chuvas amarelos que colorem a universidade. Nem as bikes nem os guarda-chuvas pertencem aos alunos, mas são parte de um novo projeto institucional chamado Umove, que é baseado na cultura do compartilhamento: qualquer usuário pode fazer uso dos itens dentro do campus, de graça, devolvendo-os em qualquer ponto, sem a necessidade de qualquer registro ou controle, a não ser regras simples baseadas no bom senso e no bem-estar coletivo.

Para o reitor da Uniso, o professor Rogério Augusto Profeta, esse tipo de iniciativa só é possível numa sociedade suficientemente madura: “Quando a sociedade não está madura, o bem comum sofre, mas quando ela já está madura, esse bem comum é preservado. As pessoas só conseguem respeitar o bem comum quando elas entendem que ele pertence a todos, e não a ninguém. É claro que a gente nunca vai estar totalmente livre do vandalismo; é romantismo achar que ninguém vai se insurgir contra a sociedade, ou que não existem desvios de personalidade, mas nós apostamos que, em Sorocaba, nós temos uma sociedade madura para receber bem essas inovações.” Além da comodidade, permitindo um deslocamento mais confortável dentro do campus, ele defende que o projeto tem, também, um componente educacional, voltado à educação para a cidadania.

“O compartilhamento agrega muito à sociedade”, diz Caio José, estudante do 2º período de Engenharia Mecânica e um dos usuários ativos das bicicletas. “Atitudes como essa fazem com que a iniciativa se espalhe, fazendo com que as pessoas se sintam como parte dessa cultura, que, além de sustentável, promove harmonia na comunidade.” Geovana Alba, no 4º período da graduação em Nutrição, concorda. “O fato de as pessoas estarem sendo estimuladas a cuidar de algo que não é delas, sabendo que, se estragarem, não vão mais poder usar, ajuda a ter mais zelo pelas coisas”, ela conclui. (Ana Carolina Santos e Daniele Gonzales - Agência Focs / Jornalismo Uniso)