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Maternidade e mercado de trabalho, uma relação cada vez mais harmônica

Mulheres relatam experiências positivas conciliando vida profissional e o cuidado com os filhos

19 de Março de 2022 às 00:01
Jéssica Nascimento [email protected]
A possibilidade de home office é uma realidade que facilitou a vida profissional de muitas mães.
A possibilidade de home office é uma realidade que facilitou a vida profissional de muitas mães. (Crédito: PIXABAY.COM)

Na contramão do tabu existente no mundo corporativo, de que as mulheres grávidas e com filhos pequenos são menos produtivas, muitas empresas tem contratado e promovido essas profissionais. Afinal, a maternidade não pode ser um impeditivo para as mulheres se manterem no mercado de trabalho. Hoje, trazer grávidas e mães para o quadro de funcionários de uma companhia já não é tão raro. Ao seguir essa tendência e respeitar as mulheres em todas as fases da vida, as empresas mostram que essas barreiras são exemplos de preconceito e incompreensão.

“Parabéns pela gravidez”. Essa foi a frase que a engenheira mecatrônica Mariana Caos ouviu, em fevereiro de 2020, ao contar para seu diretor que estava grávida, duas semanas após iniciar em um novo trabalho, no cargo de assistente de vendas na ABB. “Eu fiz todo o processo seletivo, fiquei muito feliz por ser aprovada. Já estava com a carteira assinada. E na fase de integração na empresa, descobri que estava grávida”, lembra ao dizer que nesse período chegou a pensar na possibilidade de ser demitida. “Tinha acabado de ser contratada. Passaram vários medos pela minha cabeça. Foi um dos momentos mais tensos da minha vida, pois não era algo que estava esperando”.

Na empresa, Mariana foi parabenizada pela gravidez. - ACERVO PESSOAL
Na empresa, Mariana foi parabenizada pela gravidez. (crédito: ACERVO PESSOAL)

Mas na prática, noticiar a gestação foi bem diferente de como Mariana havia imaginado. “Quando ele teve a reação de logo me parabenizar, foi muito legal. Fiquei aliviada. Foi a partir desse momento que eu realmente comecei a curtir a gravidez”. Antes disso, Mariana estava alimentando um sentimento de culpa, mesmo a maternidade sendo algo natural da vida. “Eu pensava que o emprego iria me deixar, mas vivi totalmente o contrário”, comemora ao dizer que a empresa respeitou seu momento de vida, inclusive após a licença maternidade.

“Quando voltei, em setembro do ano passado, tive muito apoio. O meu emprego estava lá e eu sigo trabalhando”. Hoje, a filha de Mariana está com um ano e cinco meses. Para a engenheira, essa aprovação foi importante para que ela conseguisse aproveitar cada minuto da maternidade. No início, Mariana pensou que seria preciso mostrar ainda mais seu trabalho pelo fato de estar grávida. E não foi assim. “A empresa leva isso como algo natural. E quando você tem um feedback positivo de algo que está acontecendo na sua vida, você quer dar algo em troca, não por cobrança, mas por trabalhar em um ambiente agradável e inspirador”, conta ao dizer que se reconectar com seu lado profissional após a licença maternidade foi importante para o psicológico.

Até porque a maternidade não é um impeditivo para o público feminino estar presente no mercado de trabalho. Muitas empresas já estão adotando essa postura. E para respeitar esse momento, até optam por esperar para contratar uma profissional. É o que aconteceu com a engenheira química Joana Bercht Canozzi, que atua como diretora de engenharia na multinacional norte-americana Emerson. A executiva recebeu o convite para se candidatar ao processo seletivo quando atuava em outra empresa e estava no primeiro mês de licença maternidade. Depois de informar que gostaria de concluir seu período de dedicação à filha, Joana recebeu a informação de que não seria preciso começar a trabalhar imediatamente, pois a empresa respeita a licença maternidade.

Joana passou pelo processo seletivo logo após o nascimento da filha. - ACERVO PESSOAL
Joana passou pelo processo seletivo logo após o nascimento da filha. (crédito: ACERVO PESSOAL)

E assim foi. Joana participou do processo seletivo, foi selecionada e um mês antes de acabar a licença maternidade recebeu uma proposta para ingressar na empresa assim que seu tempo de afastamento terminasse. No fim, Joana acabou tento um problema de saúde e precisou ficar por mais dois meses afastada. Recuperada e após quatro meses de espera, ela passou a fazer parte do quadro de colaboradores da Emerson. “Todo esse processo foi muito especial para mim. Senti que era uma empresa que realmente levava a sério as questões de diversidade e inclusão feminina. Me senti muito respeitada e, de certa forma, valorizada”, afirma ao dizer que a empresa também aceitou que ela trabalhasse em home office.

Para a executiva, essa experiência tem sido muito importante em sua carreira, principalmente por poder conciliar a maternidade e a vida profissional. “Sempre tive medo de ter que parar a minha vida profissional para maternar. Então, estou me sentindo preenchida por poder me dedicar a maternidade e também conduzir mais um desafio em minha carreira profissional, da forma que sempre sonhei”. Joana ainda reforça que gerar uma vida faz parte do ciclo da mulher e do homem. “Entendo que esse momento precisa ser valorizado e respeitado. Nada mais justo do que aprender com esse processo”, reforça ao destacar que as pessoas também desenvolvem competências durante a maternidade.

Com essa mudança de paradigmas, crescem os casos de mulheres que são promovidas assim que retornam da licença maternidade, comprovando a competência das profissionais, independente de se tornarem mães. A psicóloga pós-graduada em gestão empresarial Marília Murasaki viveu essa experiência assim que voltou para a empresa em que trabalha há 10 anos, a Emerson. A executiva se afastou para cuidar da bebê - que hoje tem um ano -, ocupando o cargo de gerente de Recursos Humanos e, quando voltou, foi promovida à diretora do departamento. “Eu me senti duplamente feliz, primeiro pelo reconhecimento pessoal, pois é para isso que nos esforçamos e trabalhamos, e, segundo, por ser do RH e saber de todo esse esforço que a empresa vem tendo para promover as mulheres”.

Marília destaca a mudança da cultura no mercado corporativo. - ACERVO PESSOAL
Marília destaca a mudança da cultura no mercado corporativo. (crédito: ACERVO PESSOAL)

“Estamos trabalhando para tornar um ambiente mais acolhedor para as mulheres”, aponta ao destacar as ações adotadas pela empresa, baseadas em três frentes: atrair, desenvolver e reter as mulheres na companhia. Uma das metas globais, segundo Marília, é dobrar o número de mulheres na liderança até 2030.

E as ações adotadas pela empresa já apresentam resultados positivos. “Em 2017, tínhamos 8% das mulheres em cargos de liderança. Em 2021, aumentamos esse número para 13%. Estamos caminhando devagar, mas não queremos parar por aí”.

Depois de presenciar atitudes preconceituosas e machistas no passado, em outras empresas em que trabalhou, Marília comemora essa mudança de paradigma sobre a maternidade e o mercado de trabalho. “Eu atuo no RH há bastante tempo. Já vi gestores dizendo que não contratariam uma profissional por ser mulher ou por estar em época de engravidar”. Depois de muita luta e conscientização, esse cenário tem mudado com o passar do tempo. “É gratificante ver que as gerações não toleram mais esse tipo de comportamento”, completa.

Com esses exemplos, Marília acredita ser possível mostrar para outras mulheres que é possível conciliar a maternidade e o mercado de trabalho. “O mundo já mudou, temos bons exemplos, assim como o meu e o da Joana, de que as empresas passaram a entender que o momento da maternidade faz parte do ciclo humano, como também passaram a valorizar, respeitar e dar espaço às mulheres em todas as fases da vida”, aponta ao dizer que o período da licença maternidade não vai, e nem pode, anular o que uma profissional conquistou nos últimos anos de trabalho.

Para Joana, respeitar e valorizar as mulheres é uma tendência no mercado de trabalho. Esse novo paradigma, segundo ela, tem se fortalecido à medida que homens também reconhecem a causa e se esforçam para ajudar a quebrar esse tabu. “Passamos para um momento em que os homens estão começando a ter empatia em relação a causa e nos ajudando a mudar essa perspectiva. Agora é o momento de nos unirmos como seres humanos para fazer essa revolução acontecer”, finaliza. (Jéssica Nascimento)

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