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Dependência química

A música e o caminho para uma segunda chance

O talento de Sizzi, 45 anos, foi descoberto nas ruas de Sorocaba e deu a ela a oportunidade de tentar de novo

26 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Sizzi ficou conhecida após um vídeo seu cantando em um bar da cidade viralizar nas redes.
Sizzi ficou conhecida após um vídeo seu cantando em um bar da cidade viralizar nas redes. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

A trajetória da vida de Sizzi, uma sorocabana de 45 anos, que é filha, mãe e avó, mostra um pouco do drama vivido por muitas vítimas da dependência química. Uma história no meio de tantas outras, mas que chamou a atenção, graças ao seu dom de cantar. Vivendo em situação de rua e sem ter contato com a família há sete meses, Sizzi foi encontrada por sua mãe e filha em um ponto de venda de drogas, quando estava negociando uma pedra de crack. O momento do reencontro também foi o de desistir da compra.

Aos 13 anos, ainda menina, costumava ouvir seu pai cantando e tocando violão pela casa onde moravam. Essa rotina despertou nela o desejo de cantar. Autodidata, Sizzi começou a dedilhar as primeiras notas em um velho violão da família. Tendo o violão como companheiro, ela começou a mostrar seu dom e o primeiro público foram os fiéis da igreja que frequentava. Mas, o caminho tortuoso das drogas acabou cruzando sua vida, uma opção que aparece em momentos de fragilidade, depressão e tristeza na vida de muitos. Difícil identificar qual o momento exato que essa porta se abre e as drogas surgem como uma ilusória saída para os problemas.

E, mesmo em meio à tanta turbulência, Sizzi conseguiu estudar e obter vários certificados de cursos profissionalizantes. Além disso, ganhou bolsa de estudos de 100% em uma faculdade, para o curso de Logística. Acabou desistindo e, tempos depois, ganhou outra bolsa de 100%, em outra instituição de ensino superior, para o curso de Administração, mas abandonou em função das drogas.

A virada

Antes de ter de lutar contra o vício das drogas, ela cantava na igreja. - DIVULGAÇÃO
Antes de ter de lutar contra o vício das drogas, ela cantava na igreja. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Quando Sizzi perdeu o controle para as drogas, resolveu também abandonar a família e morar nas ruas. Assim, as calçadas da cidade tornaram-se a morada para Sizzi. No sábado (12), em frente a um bar no Parque São Bento, uma inesperada oportunidade apareceu em sua vida, uma chance de resgatar sua identidade. Enquanto ouvia a música do estabelecimento, a vontade de cantar renasceu e ela pediu ao proprietário a permissão para cantar. O pedido foi aceito e também registrado pelo dono do estabelecimento, através da câmera do celular. Naquele momento, não eram as drogas que tomavam conta das mãos de Sizzi, mas, sim, um microfone que fez ecoar sua voz, surpreendendo a todos com seu talento. Wagner Brasil divulgou o vídeo nas redes sociais e, em pouco tempo, o conteúdo recebeu mais de 47 mil curtidas. O número de visualizações foi ainda maior.

Depois da apresentação, a cantora voltou para a realidade das ruas, mas sua voz não saiu da cabeça das pessoas que tiveram acesso ao seu vídeo, prova disso, foram os inúmeros telefonemas que o Centro de Atenção dos Dependentes Químicos, o Cadq, recebeu na manhã de terça-feira seguinte (15), e o pedido era sempre o mesmo: que o Centro localizasse a moradora e que desse a ela o apoio necessário. No mesmo dia, a equipe de resgate da instituição localizou a cantora em frente a um posto de combustíveis, no bairro Barcelona, na Zona Leste de Sorocaba.

O auxílio

Sizzi, então, aceitou o encaminhamento ao Centro de Triagem do Cadq, que fica na Avenida Afonso Vergueiro. O Cadq, diante da urgência e da necessidade de uma internação, foi contatado pelo Grasa, parceiro da Prefeitura. O Grupo de Apoio, então, assumiu o caso e deu prosseguimento ao processo de internação e tratamento da cantora.

Os primeiros procedimentos foram a administração de suplementos que auxiliam a passar pelo período mais crítico da “fissura”, que é a necessidade urgente que o dependente químico tem do uso das drogas às quais seu organismo já está acostumado. A segunda providência importante foi possibilitar sua imunização contra a Covid-19.

Agora Sizzi reencontrou a família e conta com o auxílio de programas contra a dependência química. - DIVULGAÇÃO
Agora Sizzi reencontrou a família e conta com o auxílio de programas contra a dependência química. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Agora, espera-se que, nos próximos dias, Sizzi possa se manter firme no propósito de continuar com o tratamento oferecido. Para isso, além da enorme torcida que conquistou, de forma quase instantânea, nas redes sociais, é preciso que ela demonstre ter a força de vontade necessária para persistir no desejo de mudança, algo que realmente pode fazer a diferença entre permanecer no abandono e readquirir o domínio sobre a própria vida.

Trabalho contínuo da Prefeitura de Sorocaba para a assistência às pessoas em situação de rua, muitas delas sofrendo com a dependência química, como a Sizzi, o programa “HumanizAção” realiza abordagens sociais, diariamente, no município. Durante a abordagem especializada, é ofertado atendimento social no Serviço de Obras Sociais (SOS), onde há serviço de alimentação completa, cuidados com a higiene, pernoite e, se necessário, encaminhamento para cuidados em saúde.

Durante o ano de 2021, desde que o programa “HumanizAção” foi criado, a Prefeitura já realizou um total de 10.173 abordagens sociais a pessoas em situação de rua, em todas as regiões da cidade. As ações, orientadas por assistentes sociais, tiveram início em janeiro, com 122 abordagens e alcançaram o pico de 1.491 dessas intervenções, no mês de novembro.

Ao longo do ano, 8.574 encaminhamentos foram feitos, sendo 115 ao Centro de Triagem, 8.424 ao Serviço de Obras Sociais (SOS) e 35 para o recebimento de cuidados em saúde, os quais incluem os casos de dependência química, que recebem atendimento especializado nos CAPSs (Centros de Atendimento Psicossocial de Sorocaba) ou no Grasa. Além disso, 1.106 pessoas foram reconduzidas às suas famílias de origem, contando com o suporte do Município. O retorno ao lar é providenciado sempre nas situações em que existe o desejo da pessoa e também a viabilidade para que isso se concretize. (Da Redação com Secom Sorocaba)

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