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História

Em busca das raízes e dos antepassados

Descendentes comemoram o Dia do Imigrante Italiano e falam sobre a procura pelas origens da família

19 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Local guarda informações dos que chegaram por meio da Hospedaria do Brás.
Local guarda informações dos que chegaram por meio da Hospedaria do Brás. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Archangelo Frederico não veio de tão longe para abandonar sua fé. Devoto de Santo Antônio, o imigrante italiano encontrou a imagem do santo no alto de um morro, dentro de uma gruta, e ali elegeu seu ponto de oração. Quando a esposa adoeceu gravemente, prometeu ao santo voltar ao local todos os dias caso ela ficasse curada. O “milagre” aconteceu e Archangelo cumpriu sua promessa até o fim da vida. Portando uma lamparina, a comunidade o via de longe e dizia: “Olha a luz do Archangelo”!

A história aconteceu em Botucatu/SP, mais precisamente no distrito de Rubião Júnior, no início dos anos 1900. Com a morte desse italiano, a comunidade se uniu e construiu no alto do morro a Igreja de Santo Antônio, hoje um dos principais pontos turísticos da cidade. Mais de um século depois, coube à trisneta de Archangelo, a jornalista sorocabana, mediadora de leitura e terapeuta familiar em formação, Andrea Alves, resgatar esse e tantos outros “tesouros” da sua família.

Andrea, como tantos outros descendentes italianos espalhados pelo Brasil -- estima-se mais de 30 milhões -- comemoram na segunda-feira, dia 21 de fevereiro, o Dia Nacional do Imigrante Italiano. Instituída em 2008, a data reverencia o maior fluxo migratório de estrangeiros já registrado na história do país, que deixou traços significativos na cultura e na sociedade brasileira.

Caminho de volta

Andrea pesquisa informações e documentos para reconstruir sua árvore genealógica. - DIVULGAÇÃO
Andrea pesquisa informações e documentos para reconstruir sua árvore genealógica. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Andrea Alves sempre teve interesse pela história de seus antepassados. Recentemente, iniciou a busca de informações e documentos para reconstruir sua árvore genealógica, o que fez esse sentimento aflorar ainda mais. “O resgate da história familiar me comove. Eu sempre ouvia minha mãe contar dos seus quatro avós italianos. E hoje me emociono quando vejo as dificuldades que eles enfrentaram, os desafios que superaram”, diz a jornalista.

Mas Andrea não está só. Ela faz parte de um numeroso grupo de brasileiros que cada vez mais buscam suas origens estrangeiras e fazem o caminho de volta dos seus antepassados. Seja para resgatar suas raízes e se conectar com seus familiares mais antigos, ou mesmo para tentar uma vida melhor fora do país, esse grupo não para de crescer.

Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério das Relações Exteriores mostram que o número de brasileiros morando no exterior aumentou 16% em dois anos, passando de 3,6 milhões em 2018, para 4,2 milhões em 2020. O aumento é de 36% em uma década. Quando se observa a evolução de brasileiros morando na Itália, o número quase dobrou no mesmo período, passando de 85,7 mil para 161 mil.

Outro dado que comprova a saída de brasileiros para o exterior é o aumento da validação internacional de documentos, o chamado apostilamento. Entre outras finalidades, esse serviço é usado em documentos pessoais, escolares e de dupla cidadania por quem vai morar fora do país. Segundo o Colégio Notarial do Brasil (CNB), que reúne os cartórios, esse serviço cresceu 67% no 2º semestre de 2021. De junho a novembro, foram feitos 912 mil apostilamentos, ante 544 mil no mesmo período de 2020.

Oportunidades

Rafael está no processo para dupla cidadania e pretende morar na Itália. - DIVULGAÇÃO
Rafael está no processo para dupla cidadania e pretende morar na Itália. (crédito: DIVULGAÇÃO)

O analista de sistemas, Rafael Louzada, é um dos sorocabanos que buscam a dupla cidadania, visando novas oportunidades no futuro. Descendente de italianos, ele prepara os documentos para dar entrada no processo, inclusive, tem viagem marcada para o “país da bota”. “No segundo semestre vou para a Itália e gostaria muito de visitar a cidade dos meus antepassados.”

Ele faz planos de morar naquele país, quando a vida pessoal estiver mais consolidada. “Como o meu trabalho é home office, dá para continuar trabalhando de lá”. Ele acredita que a dupla cidadania lhe trará mais facilidades e novas oportunidades. Rafael também comemora o fato de se aprofundar na história da sua família e poder resgatar valores tão preciosos. “Está sendo tudo muito gostoso.”

Quem entende muito bem do forte elo entre Brasil e Itália é a sorocabana Patrícia Mora. Ela reside no Vêneto (Itália) há 11 anos e há uma década fundou a empresa Ser Italiano, que auxilia brasileiros a obterem a cidadania europeia. Ela sempre se emociona ao lembrar do bisavô italiano Giovanni Mora, que teve a oportunidade de conhecer quando pequena. Os instrumentos de trabalho do bisavô, que era alfaiate, estão no escritório da empresária, no Campolim. “Construir um pedacinho da Itália aqui em Sorocaba, e ainda com essas lembranças familiares, é muito valioso para mim”, afirma.

Patrícia Mora mora na Itália há 11 anos e destaca aumento na busca pela dupla cidadania. - DIVULGAÇÃO
Patrícia Mora mora na Itália há 11 anos e destaca aumento na busca pela dupla cidadania. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Patrícia Mora também constatou em sua empresa o interesse crescente de brasileiros, inclusive de sorocabanos, pela dupla cidadania e pelas oportunidades que ela oferece, como morar e trabalhar no exterior. Muitos clientes, inclusive, já estão morando na Itália.

Outra modalidade de serviço que cresce a cada dia e comprova a busca do brasileiro pelas suas raízes é o turismo genealógico, em que as pessoas organizam um passeio pelas cidades e regiões em que seus antepassados viveram. Patrícia destaca que na Itália essa procura é crescente. “É uma grande emoção fazer uma viagem dessas. Eu fiz a minha e hoje me alegro de ver o reencontro de amigos e clientes com suas histórias!”

La Sofia

O Dia Nacional do Imigrante Italiano foi instituído pela lei nº 11.687, de 2008. A data foi escolhida para relembrar a chegada no navio La Sofia em Vitória (ES), em 21 de fevereiro de 1874, que marca o início do processo de migração em massa de italianos para o Brasil. A chamada Expedição Tabacchi partiu do porto de Gênova e levou ao Espírito Santo italianos do Trentino. Depois disso, o fluxo de italianos para o Brasil foi mantido por décadas. 

Museu da Imigração é fonte de pesquisa

O Museu da Imigração do Estado de São Paulo proporciona uma verdadeira viagem no tempo. Localizado na capital paulista, ele preserva a história das pessoas que chegaram ao Brasil por meio da Hospedaria de Imigrantes do Brás. Exposições de longa duração e temporárias, acervos e serviços de pesquisas (que podem ser feitas de formas presencial e virtual) estão entre as suas principais atrações.

A história do Museu da Imigração tem como ponto de partida o projeto da Hospedaria de Imigrantes do Brás. Após as primeiras leis abolicionistas, a imigração tornou-se uma saída para suprir a falta de mão de obra barata. Soma-se a esse contexto a situação de miséria e fome na Europa no fim do século 19 e início do 20.

Assim, o Brasil, e mais notadamente São Paulo, principal produtor de café, desenvolveram políticas de imigração, nas quais se insere o sistema de hospedarias, criadas para acolher imigrantes que vinham trabalhar nas lavouras e no início da indústria.

A do Brás funcionou de 1887 a 1978. Em seus 91 anos de funcionamento, a hospedaria abrigou cerca de 2,5 milhões de pessoas de mais de 70 nacionalidades, origens e etnias.

Hoje, o Museu da Imigração, que fica na rua Visconde de Parnaíba, 1.316, na Mooca, atende seus visitantes de terça a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos, das 10h às 18h. É preciso apresentar o comprovante de vacinação (digital ou físico).

Pelo site (museudaimigracao.org.br), o visitante pode conhecer um pouco mais do museu, visitar exposições virtuais e ter acesso a informações valiosas, como por exemplo, cartografias, registros de matrícula na hospedaria, jornais da época e listas de bordo dos navios com os nomes dos imigrantes que chegavam ao Brasil. (Da Redação, Fonte: Museu da Imigração do Estado de São Paulo)

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