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Paixão de família

O amor pelas ferrovias traduzido em miniaturas

Trabalho artesanal do ferramenteiro cria réplicas de locomotivas e perpetua paixão herdada do pai

24 de Julho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Eduardo, que levou quase um ano para construir primeira réplica, teve de criar ferramentas para fazer os detalhes como as venezianas das janelas.
Eduardo, que levou quase um ano para construir primeira réplica, teve de criar ferramentas para fazer os detalhes como as venezianas das janelas. (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (23/7/2021)

Da paixão pelas locomotivas, que vem de família, o sorocabano Eduardo de Almeida faz nascer, com as próprias mãos, réplicas em miniatura de alguns ícones da ferrovia brasileira. O ferramenteiro de 36 anos, morador do Jardim Vera Cruz, é filho de um eletricista formado pelo antigo curso de formação técnica da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), de quem herdou a identificação com o assunto.

“O meu interesse começou com o meu pai, que se formou eletricista pela Sorocabana e trabalhou na oficina de locomotivas, carros e vagões de Sorocaba por um tempo. Desde pequeno ele sempre me incentivou a gostar de ferrovia e quando eu tinha sete anos ele me deu o meu primeiro trem em miniatura”, recorda-se. Pedro Ireno de Almeida, o pai, já é falecido, e a construção dos modelos foi a forma encontrada pelo filho para perpetuar sua história e, de quebra, também a das estradas de ferro do País.

As miniaturas são construídas quase todas com chapa de aço galvanizado de 0,5 milímetro de espessura. A primeira delas, de uma locomotiva modelo AC44i da Rumo Logística -- uma das máquinas mais populares e modernas da ferrovia brasileira -- levou quase um ano para ser concluída. “Comecei pela AC44i e gostei do resultado, aí resolvi partir para as locomotivas que iniciaram minha admiração pelas ferrovias”, afirma, referindo-se às duas utilizadas no passado pela Sorocabana: a “Loba”, ou série 2000, e a “Minissaia”, série 2100.

Em seus trabalhos, Almeida conta que consegue as medidas básicas (como altura, largura, comprimento, distância entre eixos, etc) das locomotivas em consultas na internet, mas que muitas vezes alguns detalhes específicos são mais difíceis, como tampas do motor, tamanho das janelas ou portas da cabine. O primeiro modelo foi uma espécie de laboratório para os outros desafios. “A AC44i deu mais trabalho para conseguir as medidas, pois ela tem muitas portas na lateral, grades e etc. E como foi a primeira, eu fui testando vários materiais até chegar na chapa de aço galvanizado, onde eu consegui mais riqueza de detalhes e boa resistência”, relata.

O trabalho é minucioso, e as miniaturas contam com detalhes específicos das locomotivas. - FÁBIO ROGÉRIO (23/7/2021
O trabalho é minucioso, e as miniaturas contam com detalhes específicos das locomotivas. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (23/7/2021)

A miniatura da “Minissaia” -- primeira locomotiva elétrica de bitola métrica construída no Brasil, em 1968 -- também já está pronta, e o artesão afirma que foi a mais difícil. “O mais complicado de fazer são as venezianas, pois elas são feitas com a chapa de aço também, e eu tive que desenvolver uma mini-ferramenta para conseguir estampar a chapa. As dobras pequenas são as mais difíceis de fazer na chapa de aço”, observa.

Em andamento

No momento, o artesão está construindo sua terceira miniatura, a réplica da locomotiva série 2000 da Sorocabana -- que inaugurou a eletrificação da ferrovia, em 1944. A carcaça está quase pronta, faltando ainda peças como os pantógrafos e os conjuntos de rodeiros, chamados de truques. Com a experiência adquirida, o ferramenteiro vai ser ousado e fazer a locomotiva motorizada -- as duas primeiras são estáticas. “E se der certo vou converter a AC44i e a Minissaia como motorizadas também”.

 

  - FÁBIO ROGÉRIO (23/7/2021
(crédito: FÁBIO ROGÉRIO (23/7/2021)

Nesse e em vários aspectos da construção, a profissão de ferramenteiro é um ponto a seu favor para a construção das miniaturas. “Acredito que ajudou muito mesmo, pois utilizo muitas técnicas do dia a dia do trabalho, inclusive com a escala e medidas”, opina.

Terceira geração

Se a paixão pelos trens veio do berço, a próxima geração dos Almeida já está nos trilhos. O ferramenteiro tem uma filha de cinco anos e tenta incentivá-la a gostar do assunto. “Agora, sempre que ela vê algum trem, ela já comenta. Ela fala: ‘papai, o trem é igual ao seu!’. Inclusive ela já consegue distinguir a AC44i quando ela vê”, afirma.

Por sinal, quando a tração elétrica da Sorocabana completou 75 anos e uma locomotiva elétrica série 2000 foi restaurada, há dois anos, Eduardo conta que levou a garota no evento de comemoração, na Estação Paula Souza. E aproveitou para coletar medidas e fotos de detalhes necessários à construção da miniatura. “Para começar a construir, a primeira coisa é a pesquisa. Reúno todas as medidas que estão disponíveis na internet e depois começo a busca por fotos de boa qualidade”, ensina. (Eric Mantuan)

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