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Saúde em dia

Novo teste de HPV no SUS pode antecipar diagnóstico em até 10 anos

12 de Março de 2024 às 22:53
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Principal causador de câncer de colo de útero, vírus pode ser detectado com maior precisão e antecedência pelo novo teste
Principal causador de câncer de colo de útero, vírus pode ser detectado com maior precisão e antecedência pelo novo teste (Crédito: RENATO ARAÚJO / AGÊNCIA BRASIL)

O Ministério da Saúde anunciou esta semana a incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) de um teste para detecção de HPV em mulheres classificado pela própria pasta como inovador. A tecnologia utiliza testagem molecular para a detecção do vírus e o rastreamento do câncer do colo do útero. Professor e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o ginecologista Júlio César Teixeira conduz, há quase sete anos, um programa de rastreamento de HPV que utiliza o teste e que agora será disponibilizado na rede pública.

O médico confirmou o caráter inovador do teste e explicou que a proposta é de que ele passe a substituir o exame popularmente conhecido como Papanicolau. “É um teste feito por máquina, ou seja, tem um erro próximo de zero, enquanto o Papanicolau tem muitas etapas na quais há muita interferência humana”. Ainda de acordo com o ginecologista, a tecnologia permite que a testagem seja feita apenas de cinco em cinco anos, enquanto o rastreio do HPV pelo Papanicolau deve ser realizado a cada três anos.

Teixeira também detalhou a relação da infecção por HPV com alguns tipos de câncer que vão além do câncer de colo de útero, como o de boca, na vulva, no pênis e no canal anal. Para o especialista, a testagem do HPV, somada à vacinação precoce em adolescentes com até 15 anos, pode mudar o cenário de saúde pública no País.

Atualmente, 16 mil mulheres morrem por câncer de colo de útero anualmente no Brasil — uma a cada 90 minutos, com idade média de 45 anos. “Isso poderia ser evitado. Esse é o nosso foco.”

Esse teste já vinha sendo usado no Brasil na rede particular e agora passa a ser incorporado na rede pública. Teixeira destacou, no entanto, que nem todos os planos de saúde o cobrem até hoje. “O pessoal que tem acesso o utiliza porque ele tem uma facilidade e uma vantagem: de partida, ele é mais caro que o Papanicolau, mas, na verdade, acaba compensando porque você acaba prevenindo mais e, naquelas mulheres que teriam lesões, você detecta em fase bem inicial, ou seja, com tratamento bem mais barato”, comparou o especialista.

Substituto do Papanicolau

O Papanicolau também detecta as lesões no início, mas, proporcionalmente, o número de casos detectados é menor. “Então, a gente está falando em quantidade de casos, ou seja, em não deixar escapar uma mulher que tem uma lesão significativa, que pode não ser detectada e que vai ser detectada só dali três anos. Com o teste de HPV, isso tende a não acontecer. E, quanto menor a gravidade da lesão, mais fácil, inclusive, de ela se curar sem tratamento”, justifica Teixeira, acrescentando que “às vezes, a gente só acompanha e, quando existe uma lesão que precisa de tratamento, os tratamentos são os mesmos. A diferença é que realmente o teste de HPV antecipa esse diagnóstico”.

O pesquisador revelou que essa tecnologia é utilizada pelo SUS no município de Indaiatuba desde 2017. “Já estamos no sexto ano desse programa e nós identificamos que, quando a gente faz, com alta cobertura, nas mulheres de Indaiatuba, aumentamos a detecção dos cânceres que iriam aparecer nos próximos 10 anos na cidade e trouxemos esses cânceres para fase microscópica, ou seja, com tratamentos mais fáceis e próximos de 100% de cura. Essa é a vantagem do teste. Comparando teste por teste, ele tem essas vantagens pontuais. Mas só vai funcionar se ele estiver inserido em um programa organizado, no qual você tem o controle da população que está fazendo os testes de prevenção e, principalmente, daquelas que não estão fazendo, para chamar e fazer”, detalha o professor.

Sobre o HPV, Teixeira destaca que era conhecido antigamente como um tipo de doença sexualmente transmissível (DST) e hoje é classificado como uma infecção sexualmente transmissível (IST). Porém, ele ressalta que “isso é apenas uma nomenclatura”. Segundo ele, “todas as pessoas, homens mulheres, todas, até o fim da vida, 80% vão ter contato com algum dos HPV. São vários tipos, você tem aí uns 25 que acometem a região genital e alguns deles são relacionados ao câncer. Então, o que acontece? Quase todo mundo vai ter. Oitenta por cento é um número alto. Vai ter contato sim, vai ter essa IST. Só que a grande maioria, 90%, elimina em até 24 meses o vírus, por meio da resposta imunológica da pessoa. A maioria das pessoas têm uma infecção transitória e vai se curar. O problema é aquela infecção que fica persistente por anos, sem dar sintomas. Aí, vai dando lesões ali no colo do útero, por exemplo, mas pode dar também no canal anal, na vulva, no pênis, na boca. Há vários locais onde pode haver lesões pré-câncer. O colo de útero é o principal. Basicamente, ali é o foco principal porque há muitos casos e a proporção de câncer por HPV no colo do outro é de 99,9%, ou seja, praticamente não há câncer no colo do útero se não houver HPV. Aí, entra a vacinação precoce. Se a gente vacinar a população inteira abaixo dos 15 anos, esse câncer vai sumir. Só que, enquanto isso não acontece, porque demoraria de 20 a 30 anos após a vacinação nessa faixa etária para isso acontecer, a gente continua fazendo esses programas de rastreamento preventivos periódicos. Porque tem uma transição longa”.

Ainda, conforme o professor Teixeira, o objetivo da vacinação não é prevenir uma infecção sexual ou liberar um adolescente para o início da vida sexual. O objetivo é prevenir câncer. “É uma vacina que previne câncer. Eu sou da Unicamp e estou tratando gente internada, mulheres de 30 a 35 anos, com câncer avançado, em estágio bem avançado e muito ruins, que estão para morrer. Toda semana a gente vê isso. E poderia ser evitado com essas ações de vacinação e de rastreamento periódico”. Ele fez um paralelo com a hepatite B, que causa câncer de fígado e a pessoa adquire o vírus por relação sexual e por transfusão de sangue. “Na vacinação contra a hepatite B, a criança, quando nasce, já sai com a primeira dose aplicada na maternidade desde 2004 no Brasil. Com isso, nós já não estamos mais tendo câncer de fígado relacionado à hepatite B nos grupos abaixo de 20 anos no Brasil. Porque todo mundo está vacinado. E ninguém fala nada que é um vírus que se pega por relação sexual. Então, o que falta é orientação, educação do povo e conscientização”, finaliza. (DaRedação com Agência Brasil)