Saúde
O frio chegou: previna-se do AVC
Mudanças de temperatura tendem a aumentar casos de acidente vascular cerebral, diz estudo
O acidente vascular cerebral (AVC) está entre as doenças que mais mata brasileiros, além de ser uma das principais causas de incapacidade no mundo. De acordo com dados do Portal de Transparência do Registro Civil, entre janeiro e outubro de 2022, foram diagnosticados 87 mil óbitos pela doença, equivalendo a 12 mortes a cada hora.
Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que variações bruscas de temperatura, indo do calor para o frio, tendem a aumentar os casos da doença, principalmente entre a população acima de 65 anos. “Nas baixas temperaturas, ocorre o aumento da pressão sanguínea sobre a parede dos vasos que estão com o calibre (diâmetro) reduzido, além de uma sobrecarga extra ao coração. Isso facilita o desprendimento de placas de gordura localizadas no interior das artérias, que podem bloquear o fluxo de sangue para o coração e para o cérebro”, explica o neurocirurgião Rodrigo Fragoso, do Hospital Evangélico de Sorocaba.
Isso, no entanto, não faz do AVC uma doença sazonal -- ou seja, ocorre em todas as estações do ano. Porém, observa-se um aumento do índice de internações hospitalares por conta da doença no inverno. Outro fato curioso refere-se à incidência de AVC isquêmico e hemorrágico. Os acidentes vasculares isquêmicos representam 85% dos casos, principalmente à noite.
O que é AVC?
O AVC ocorre através da alteração do fluxo de sangue no cérebro, o que o torna responsável pela morte das células nervosas da região cerebral acometida. A doença pode se originar de uma obstrução de vasos sanguíneos, o chamado acidente vascular isquêmico, ou de ruptura do vaso, conhecido por acidente vascular hemorrágico.
Fragoso explica que o entupimento dos vasos cerebrais pode ocorrer devido a uma trombose -- formação de placas numa artéria principal do cérebro -- ou embolia -- quando um trombo ou uma placa de gordura originária de outra parte do corpo se solta e pela rede sanguínea chega aos vasos cerebrais.
“Já o AVC hemorrágico ocorre quando há o rompimento dos vasos sanguíneos, na maioria das vezes, no interior do cérebro. Esse subtipo de AVC é mais grave e tem altos índices de mortalidade e sequelas definitivas”, diz.
Fatores de risco
Há vários fatores para o AVC, mas dentre as causas mais comuns estão o tabagismo, idade avançada, pressão alta, diabetes, elevação do colesterol e triglicérides, trombofilia, anemia falciforme, desidratação, abuso de drogas ilícitas e câncer, entre outros.
“A adequação dos hábitos de vida diária é primordial para a prevenção do AVC”, enfatiza Fragoso. Além de ficar atento para os fatores de risco -- e outros que não podem ser modificados, como idade, genética e sexo -- há atitudes que podem ser muito importantes na prevenção. As principais são não fumar, não consumir álcool, não fazer uso de drogas ilícitas, adotar alimentação saudável, manter o peso ideal, beber bastante água, praticar atividades físicas regularmente, manter a pressão arterial e a glicose sob controle.
Diagnóstico
Os sintomas mais comuns dos acidentes vasculares tanto isquêmicos quanto hemorrágicos são paralisia ou dificuldade de se movimentar, dormência nos braços e pernas (geralmente de um dos lados do corpo), dificuldade para se comunicar, perda de visão, dor de cabeça muito forte e início de mal súbito, que pode ser acompanhado de vômito.
A Escala de Cincinnati é um instrumento que padroniza a avaliação de casos suspeitos de AVC. Isso se dá a partir da análise de três manifestações clínicas comuns. Por isso, Fragoso alerta, se aparecer alguns desses sintomas, deve-se correr a um pronto atendimento. “Na escala de Cincinnati são avaliados a contração muscular involuntária dos músculos de uma metade do rosto, a debilidade dos braços e a fala anormal. Pacientes com aparecimento súbito de um destes três achados possuem 72% de probabilidade de um AVC”, alerta.
O diagnóstico de um AVC pode ser feito de diversas maneiras, com exame neurológico (exame físico) e exame de imagem. Atualmente, existem tecnologias que ajudam na identificação da doença e na tomada de conduta da equipe médica na emergência do pronto atendimento.
Após ter um AVC, o paciente passa por um acompanhamento com uma equipe multidisciplinar. Assim, se faz uma avaliação individual que determina qual será o tratamento mais adequado para cada caso. Nos AVCs isquêmicos é fundamental a identificação do tempo do início dos sintomas. O paciente com suspeita de acidente vascular é submetido aos exames de imagens e de sangue. Após isso, é realizado um exame neurológico detalhado (protocolado) conhecido como NIHSS (National Institutes of Health Stroke Scale). Pela pontuação desta escala, junto ao resto dos exames de avaliação, é feita a administração de uma medicação intravenosa conhecida como trombolítico rt-PA (Alteplase) para recanalizar a artéria cerebral obstruída.
“No caso do AVC hemorrágico, a avaliação do neurocirurgião é fundamental na indicação ou não de cirurgia para a drenagem do hematoma”, completa o neurologista. (Da Redação)