Saúde
Entenda por que crianças devem ser imunizadas contra HPV

Incorporada de forma escalonada ao Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 2014, a vacina que protege contra o Papilomavírus Humano (HPV) é aplicada mesmo antes da adolescência porque é mais favorável que a imunização seja feita antes do início da vida sexual. É utilizada em mais de cem países, incluindo o Brasil, como estratégia de prevenção e redução de doenças ocasionadas pelo vírus, como cânceres do colo do útero, vulva, vagina, região anal, pênis, boca e garganta. Outro benefício é diminuir a ocorrência de verrugas genitais, conhecidas como condiloma.
Em 13 de setembro, o governo federal ampliou o grupo que pode tomar o imunizante. Até então, a vacina só estava disponível para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Com a mudança, a vacinação passa a ser aplicada permanentemente no público-alvo entre 9 e 14 anos de idade, independentemente do sexo.
A ampliação da faixa etária foi divulgada pelo governo federal em 13 de setembro deste ano, sendo posteriormente adotada por Estados e municípios brasileiros. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a cobertura vacinal no ano passado da população masculina foi de 57,67% e da feminina de 68,41%. Ambos os índices abaixo do que preconiza o Programa Nacional de Imunizações (PNI), cuja meta é 80% de cobertura vacinal.
Transmitido pela relação sexual ou pelo contato direto com pele ou mucosas infectadas, o HPV é um vírus responsável pela quase totalidade dos casos de câncer do colo do útero, por mais de 90% dos casos de câncer anal e por 63% dos cânceres de pênis, além de parte de outros tipos de tumores, como os de garganta, vulva e vagina.
A vacina está disponível em duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda aplicação. No entanto, a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) continua recomendando a aplicação de três doses. “A primeira dose aos 9 anos, a segunda dose depois de dois meses e a terceira deve ser aplicada seis meses após a primeira dose. O Programa Nacional de Imunizações recomenda apenas duas doses na rede pública, com a dose inicial e a segunda dose após seis meses, baseando-se em estudos de efetividade e eficácia com esquema reduzido de doses”, explica Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Porque tão jovens?
“A vacina contra o HPV deve ser aplicada idealmente o mais cedo possível para uma produção maior de anticorpos que protegerão, aqueles que tomarem, de cânceres que poderiam ocorrer futuramente”, afirma Melissa Palmieri, médica da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
Segundo a Lorena de Castro Diniz, a vacina é recomendada para crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos porque está comprovado que nesta faixa etária há uma maior imunogenicidade, ou seja, uma ampliação de formação de produção de anticorpos neutralizantes contra esse vírus. “Além de que há chance de que ainda essas crianças não tenham tido o contato com o vírus, propiciando prevenção prévia contra ele”, acrescenta.
Gustavo Adolpho de Oliveira, especialista em ginecologia oncológica do Hospital Leforte, reforça que a vacinação é fundamental. “Desta forma, vamos conseguir aumentar a gama de pacientes vacinados e, com isso, as lesões causadas pelo HPV vão ter impacto menor na incidência. Quanto maior a quantidade de vacinação, menos casos de câncer de colo de útero, por exemplo, vamos ver no futuro, que é o mais importante. Na Brasil, é o segundo tipo de câncer ginecológico, somente perde para o câncer de mama”, afirmou ele.
A vacina contra o HPV é segura e apresenta poucos efeitos colaterais. Pode dar um pouco de febre e dor no local de aplicação. A eficácia chega a 98% de proteção para crianças que tenham recebido o esquema de vacinação completo segundo a faixa etária.
Oliveira acrescenta que pacientes que já tiveram contato com o HPV têm solicitado o uso da vacina. “Temos prescritos no último ano para pacientes mais velhos já com vida sexual e que tenham HPV positivo ou até lesões de HPV. O que temos observado é que esses pacientes -- entre 25 e 35 anos -- que tomam a vacina têm os níveis de HPV diminuídos. Prescrevo e tomam na rede particular”, reforça. (Estadão Conteúdo)