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Saúde

Ansiedade é um dos fatores que podem levar à infertilidade

13 de Julho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
As causas podem ser tanto femininas quanto masculinas.
As causas podem ser tanto femininas quanto masculinas. (Crédito: PEDRO FIGUERAS / PIXABAY)

Estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que de 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo podem ser inférteis. No Brasil, esse número chega a cerca de 8 milhões. As causas da infertilidade são diversas e podem ser femininas, masculinas ou devido à associação de dificuldades dos dois componentes do casal.

Estima-se que, atualmente, cerca de 35% dos casos de infertilidade estão relacionados à mulher, cerca de 35% estão relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% são provocados por causas desconhecidas, que podem estar associadas a aspectos emocionais.

Ainda segundo a OMS, o Brasil tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. No primeiro ano da pandemia, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%, de acordo com um estudo recente da OMS.

Para mulheres que estão tentando engravidar, a ansiedade é um grande obstáculo. Segundo o ginecologista Carlos Moraes, obstetra pela Santa Casa/SP e especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, a relação entre patologias somáticas e psíquicas vem sendo estudada há décadas e estão cada vez mais atreladas.

Mas, como o emocional impacta a fertilidade? “Inúmeros são os fatores que podem alterá-la. No entanto, de 5% a 15% dos diagnósticos são denominados ‘infertilidade sem causa aparente’ (ISCA), em que não encontramos uma causa orgânica associada. No universo da psicologia, por muito tempo, alguns casos sem causa aparente foram associados a conflitos inconscientes em relação à gestação e à maternidade, principalmente, relacionados à figura materna e ao medo de reproduzir um modelo tido como ruim. Considerando a interação corpo-psiquismo, supõe-se que a infertilidade tem causa combinada, onde o psíquico influencia no corpo biológico, assim como o sofrimento do corpo influencia na mente”, explica o ginecologista.

Diversos estudos relatam que o estresse e a ansiedade, como no momento atual, podem alterar certas funções fisiológicas relacionadas à fertilidade, formando um ciclo vicioso que se retroalimenta, pois a infertilidade e seus tratamentos podem causar graves danos psicológicos ao casal.

Segundo Carlos Moraes, o núcleo arqueado, localizado no hipotálamo (região do cérebro), é o principal local de produção do hormônio GnRH, essencial no funcionamento do eixo hipotálamo-hipofise-ovário, que induz a ovulação e, assim, o ciclo menstrual. O núcleo arqueado recebe vários circuitos neuronais do sistema límbico, responsável pelas emoções, que podem modificar a intensidade e a frequência dos pulsos de GnRH.

“A alteração desses pulsos leva à inibição do eixo hormonal que estimula o ovário, explicando as várias formas de alterações menstruais observadas em mulheres submetidas a fortes impactos emocionais. Na dependência da intensidade e duração desses estímulos, as mulheres podem, inclusive, desenvolver amenorreia (ausência de menstruação) hipotalâmica funcional ou anovulação (ausência de ovulação) crônica hipotalâmica”, diz o especialista.

Outros estudos observaram que estressores físicos ou emocionais atuam sobre o hipotálamo, alterando a secreção de fatores liberadores ou inibidores de hormônios hipofisários. Em estudo realizado em 2011, com mulheres que estavam começando a tentar engravidar, utilizou-se os biomarcadores cortisol e alfa-amilase salivar como medida de estresse dessas mulheres, que foram acompanhadas por um período de 12 meses.

“O resultado revelou que mulheres que apresentaram níveis de estresse mais elevados (evidenciados através do exame de alfa-amilase salivar) acabaram reduzindo sua fecundidade em 29%, comparado ao grupo de mulheres com menor nível de estresse, além de apresentarem duas vezes mais riscos de infertilidade”, revela Carlos Moraes.

Ainda de acordo com o ginecologista, nos homens também foram encontrados prejuízos na fertilidade em função da ansiedade, uma vez que níveis mais altos desse transtorno, bem como de estresse, podem mudar a função testicular por alteração na produção de testosterona e pelo menor volume seminal e contagem, concentração e motilidade dos espermatozoides. (Da Redação)