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Saúde

Pandemia causa queda de 69% nas cirurgias para varizes

30 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
As dores nas pernas são o primeiro sintoma de quem sofre com as varizes.
As dores nas pernas são o primeiro sintoma de quem sofre com as varizes. (Crédito: DIVULGAÇÃO / SBACV)

As varizes são dilatações tortuosas de veias, sobretudo nos membros inferiores. O problema interfere no chamado retorno venoso, fazendo com que o sangue circule mais lentamente. Isso pode provocar vários outros problemas sérios, como trombose e embolia pulmonar -- fatal em 30% dos casos.

No entanto, o Brasil registrou uma queda de 69% nas cirurgias para varizes durante a pandemia de Covid-19, de acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). A emergência epidemiológica provocou um apagão no atendimento na rede pública aos pacientes da doença -- que já era considerado precário.

Isso aconteceu porque boa parte dos procedimentos eletivos foi postergado para dar prioridade ao atendimento dos doentes de Covid-19 e também pelo medo da população de ir ao hospital em meio a uma pandemia.

É o caso de Thaianne Souza da Conceição. Com apenas 25 anos, ela começou a sentir dores intensas nas pernas. Uma ida ao médico revelou que a jovem sofria de varizes, deflagradas por uma gravidez na adolescência, e precisaria de uma cirurgia vascular. Isso foi em 2017. Mas só dois anos depois, ela conseguiu fazer um ultrassom -- exame necessário para ser operada.

Com a pandemia e a paralisação de praticamente todo atendimento que não fosse a pacientes de Covid-19, Thaianne só conseguiu ser atendida por um cirurgião na semana passada. O ultrassom de 2019, claro, não tem mais validade. Ela terá que fazer outro exame antes de poder marcar a data do procedimento.

“Quando a pandemia começou, eu já estava com o exame pronto, mas parou tudo, não se fez mais nada, nem um retorno ao médico”, contou. “Agora que eu consegui ir ao médico, o exame não vale mais e vou ter que fazer outro. E esse gasto está saindo de algum lugar, né? Nesse meio tempo, continuo sentindo dores.”

Doença comum

As varizes costumam ter origem genética -- 70% das filhas de mães que tiveram varizes têm chances de também ter --, e podem ser deflagradas por situações como gravidez, obesidade, sedentarismo, uso contínuo de pílulas anticoncepcionais, entre outros. “Trata-se de uma doença altamente prevalente, que afasta muitas pessoas do trabalho e que pode até matar”, afirmou o presidente da SBACV, Julio Peclat.

“Essa queda de 69% é realmente preocupante, demanda uma resposta urgente do governo para que esses pacientes não sejam negligenciados. Onde estão essas pessoas? O que aconteceu com elas? O que já não era muito bom, agora fugiu totalmente do controle, precisamos de uma campanha séria de informação e busca de pacientes ou vai ter muita gente morrendo.”

“Muita gente acha que é apenas um problema estético”, disse Peclat. “Mas é uma condição séria, que quando não é tratada gera muitas complicações.”

Há dois anos, a rede pública realizou 68.743 cirurgias para varizes. Em 2020, quando a pandemia se instalou no País, o número de procedimentos caiu 59% para 28.354. No ano seguinte, foram 21.604 cirurgias. O fenômeno foi registrado em todas as regiões do País, sendo a pior situação na região Norte, com uma queda de 72% no número de cirurgias. Logo atrás vêm o Sul (com -71%), o Sudeste (-70%), o Nordeste (-63%) e o Centro-Oeste (-51%). (Estadão Conteúdo)