Buscar no Cruzeiro

Buscar

Prevenção

Psicóloga fala da importância do Janeiro Branco

Saúde mental e emocional é destaque neste mês, principalmente para pacientes que tratam câncer

05 de Janeiro de 2022 às 03:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
Psicóloga do IOS, Rita de Cássia Rezende Maciel
Psicóloga do IOS, Rita de Cássia Rezende Maciel (Crédito: Divulgação)

É geralmente durante o primeiro mês do ano que as pessoas costumam fazer a famosa lista de desejos, novos sonhos, projetos e ações para serem colocados em prática nos 12 meses seguintes. É também nesta época do ano que as pessoas tiram alguns dias de folga, ficando mais sujeitas a reflexões sobre suas vidas e relações sociais. Por isso mesmo, janeiro foi escolhido como mês de conscientização de assuntos relacionados à saúde mental e emocional, sendo o termo “branco” uma referência a uma página em branco, simbolizando um recomeço.

A abordagem desse tema se faz mais do que necessária neste momento: em 2020, a busca no Google por temas ligados a transtornos mentais aumentou 98% em relação à média constatada nos dez anos anteriores. A pergunta “como lidar com a ansiedade” bateu o recorde de buscas, alcançando um crescimento de 33% em relação a 2019.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ansiedade afeta 18,6 milhões de brasileiros e os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço do número de pessoas incapacitadas nas Américas. A situação é tão preocupante que, recentemente, a OMS fez um alerta à comunidade médica sobre o risco de uma epidemia paralela diante do impacto mental causado na população decorrente das dificuldades vividas durante a pandemia.

“Pesquisas mostram que a saúde mental do brasileiro piorou nos últimos tempos e a causa principal tem sido a pandemia. O isolamento social agravou o que já não estava bem. As pessoas passaram a sentir mais medo, se tornaram ansiosas (ou mais ansiosas) diante da ameaça da doença e da realidade econômica que o vírus impôs”, explica Rita de Cássia Rezende Maciel, psicóloga especializada em psico-oncologia do Instituto de Oncologia de Sorocaba (IOS), parte integrante do HUB da Hospital Care de Sorocaba e região, juntamente com o Hospital Evangélico de Sorocaba, e que esclarece as principais dúvidas sobre esse assunto nesta entrevista.

Quais são os principais problemas de saúde mental enfrentados pelos brasileiros?
Os problemas são variados e os conflitos sempre existem, em âmbito pessoal ou profissional, mas a forma como cada um enfrenta, resolve ou convive com eles faz toda diferença e é determinante para nossa saúde mental. É certo que para se viver com menos estresse é importante criar um ambiente que favoreça as boas relações no trabalho, em família e, principalmente, consigo mesmo. Em decorrência da pandemia, muitas pessoas passaram a ter seu ambiente de trabalho em casa, por exemplo. Isso pode ser bom, mas se o ambiente familiar não for favorável, tal condição passa a ser um caos, já que não há mais local para onde para essa pessoa se refugiar.

Como podemos identificar que algo não vai bem com a saúde mental?
Existem ambientes ou profissões que não são favoráveis e acarretam um grande desgaste mental. Áreas como a Saúde ou a Educação são exemplos, mas há muitas outras, como sabemos. É preciso estar atento às mudanças de comportamento pois, muitas vezes, a pessoa não se dá conta de que ela não está bem. Se o trabalho está sendo visto como um fardo ou ela própria não “se aguenta”, se mostra sinais como irritabilidade, intolerância, dificuldade de concentração, alteração no apetite ou sono, seja para mais ou para menos, desprazer em atividades que até pouco tempo eram vividas com alegria ou sentir necessidade de isolamento, é preciso avaliar o que está acontecendo, buscar ajuda. Às vezes, uma boa conversa com alguém próximo pode até resolver; caso isso não funcione é fundamental buscar por um profissional e evitar, assim, que os sinais se transformem em alguma doença. O sofrimento emocional se manifesta através de doenças.

Em que momento deve-se procurar ajuda?
Quando há alterações de humor, aumento da ansiedade, dificuldade de autocontrole ou mesmo do controle das situações. Por isso, a autopercepção é importante. Geralmente as pessoas mais próximas sinalizam essas mudanças de comportamento. Quanto antes a pessoa buscar ajuda, maiores são as chances de os sintomas não se tornarem crônicos.

A quem deve-se procurar nestes casos?
Se a pessoa tem um sintoma físico desencadeado pelo seu emocional, é comum buscar ajuda médica. Nem sempre a pessoa vai de imediato a um psiquiatra ou psicólogo. Mas é importante desmistificar a ideia de que esses profissionais só cuidam de “loucos”. Infelizmente muitas pessoas ainda se referem aos transtornos mentais e emocionais de forma pejorativa, criando uma certa resistência, não aceitando que estão com problema e se negam a buscar ajuda. Para se obter bons resultados, é importante que tanto o psiquiatra como o psicólogo trabalhem em conjunto, pois o trabalho de um complementa o trabalho do outro.

Como o descontrole emocional impacta no desenvolvimento de um câncer?
O estresse não causa câncer, isso é fato, mas o descontrole emocional, como sabemos, pode causar diversos problemas para a pessoa. No caso do câncer, ele pode ser desencadeado quando a pessoa vive uma situação de estresse intenso ou quando a saúde mental está doente, mas a pessoa se nega a reconhecer e, na maior parte das vezes, acredita que logo tudo vai passar ou que ela consegue dar conta daquilo que está sentindo. Recusar ajuda, negar-se a procurar por um profissional ou manter a crença de que poderá dar conta de tudo só faz as coisas piorarem, já que o resultado é a frustração. Forma-se um círculo vicioso que só faz aumentar a angústia.

Como o IOS está preparado para ajudar a manter a saúde mental de seus pacientes?
O IOS tem especial preocupação pela saúde mental dos seus pacientes. Viver e tratar um câncer é motivo de grande desgaste emocional não somente para a pessoa que recebe o diagnóstico como também para os seus familiares. Por isso é oferecido suporte e acompanhamento psicológico especializado desde o momento em que a pessoa tem o diagnóstico confirmado, durante o tratamento e após o seu término.

Quais são as dicas para melhorar a saúde mental?
1. Prática de atividade física compatível com a possibilidade de cada pessoa. É sempre importante passar por orientação e avaliação médica.
2. Práticas de relaxamento, meditação, yoga.
3. Uma boa leitura; dá para ler também pelo celular. Há aplicativos ótimos.
4. Ouvir uma boa música e que seja do agrado pessoal.
5. Boa noite de sono.
6. Alimentação saudável e também adequada às necessidades de cada pessoa.
7. Bater papo com os amigos e ter momentos em família para “atualizar” as conversas.
8. Ser sincero e buscar a franqueza com as pessoas, sem magoá-las. Tudo se pode falar desde que se saiba como.
9. Criar um ambiente agradável e alegre à sua volta de forma que as pessoas sintam prazer em estar em sua companhia.
10. Avaliar sempre se o que te preocupa depende de você ou de alguém ou outras pessoas para ser resolvido. Se não depende apenas de você, divida e discuta a situação com os envolvidos. Não adie aquilo que te traz paz.

Mais informações podem ser obtidas pelo site www.oncologiasorocaba.com.br ou nas redes sociais: Instagram (@institutooncologiaios) e Facebook (Instituto de Oncologia de Sorocaba Dr. Gilson Delgado). O Instituto de Oncologia de Sorocaba está localizado no Centro de Medicina e Saúde, que fica na av. Comendador Pereira Inácio, 950, térreo, Jd. Vergueiro, telefone: (15) 3334-3434.