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Dia do Médico

Atendimento humanizado ainda faz a diferença para uma medicina eficiente

Médicos são unânimes ao afirmar que tecnologia não substitui carinho e atenção ao paciente

24 de Outubro de 2021 às 00:01
Ana Claudia Martins [email protected]
Os médicos são, muitas vezes, a última esperança que o paciente tem. Nesse contexto, o contato direto e o
Os médicos são, muitas vezes, a última esperança que o paciente tem. Nesse contexto, o contato direto e o "olho no olho" fazem toda a diferença. (Crédito: EVARISTO SA / ARQUIVO AFP (20/6/2020))

Apesar dos avanços da tecnologia, os médicos destacam a paixão pela profissão e a humanização como primordiais para a evolução da medicina. No último dia 18 de outubro foi celebrado o Dia do Médico e, para celebrar a data, o Cruzeiro do Sul entrevistou alguns profissionais sobre a importância da profissão.

O médico oncologista André Viu Mateus, vice-diretor clínico do Hospital do Gpaci de Sorocaba, atua há 19 anos na instituição e, apesar de tratar pacientes com doenças graves (como crianças e adolescentes com câncer), afirma que não se imagina trabalhando em outro local.

André Viu Mateus quer resgatar a figura do "médico da família, que se importa com o paciente". - DIVULGAÇÃO
André Viu Mateus quer resgatar a figura do "médico da família, que se importa com o paciente". (crédito: DIVULGAÇÃO)

O oncologista mora com sua família na cidade de Ribeirão Preto, distante cerca de 320 quilômetros de Sorocaba. Mas é tamanha a sua dedicação pelos pacientes que nem a longa distância o faz pensar em trabalhar no município onde reside.

“Viajo toda semana há 19 anos. Deixo minha família lá e venho sozinho para cá. Mas eu digo para você que não saberia viver sem esse lugar, sem essas crianças, sem essas famílias. Isso faz parte da minha vida e eu me sinto extremamente realizado de estar aqui. Espero estar no Gpaci ainda por muitos anos”, diz André Viu Mateus.

O médico destaca, ainda, que apesar dos avanços da tecnologia na área da medicina e nos tratamentos disponibilizados aos pacientes, sobretudo na área da oncologia, a medicina não pode perder sua humanização. “Eu espero que o profissional médico resgate realmente o ‘médico da família’, o médico do passado, o médico que se importa com o doente. A gente faz medicina para fazer a diferença, a gente faz medicina pensando no doente. Muitas vezes somos a última esperança que aquele paciente tem. Então, não podemos falhar, no sentido de não dar tudo aquilo que a gente pode dar. Nós temos de nos desdobrar, pois a medicina é uma profissão de abnegação e de doação extrema ao próximo”, afirma o médico.

O oncologista disse ainda que a profissão de médico existe para minimizar a dor do paciente. “A profissão é sofrida. Se ganha bem, mas também se trabalha muito e se tem muitas responsabilidades. Então, não se tem noite, sono tranquilo, mas tem aquilo que é mais importante, que é o reconhecimento de cada criança, um sorriso de uma criança por uma dor que você consegue minimizar o sofrimento. Então, isso é o que a gente ganha na vida e não tem dinheiro, não tem nada que pague essa sensação”, afirma o “doutor André”.

Humanização

O médico e pediatra Edgard Steffen tem 90 anos, sendo 65 deles dedicados à carreira -- e ainda à docência em parasitologia médica. Ele entende que, atualmente, a profissão está mais técnica e eficiente. No entanto, admite que o relacionamento afetivo médico/paciente ficou para trás.

Em 65 anos de carreira, o pediatra Edgard Steffen enfrentou todo tipo de pandemia. - DIVULGAÇÃO
Em 65 anos de carreira, o pediatra Edgard Steffen enfrentou todo tipo de pandemia. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Edgard Steffen, inclusive, diz que a pandemia foi capaz de contrariar o que chama de “medicina anônima” praticada atualmente e trouxe um relacionamento muito afetivo entre pacientes e equipes que atuam no controle e combate à Covid-19.

“Eu serei médico até o último dia da minha vida. Sabe por quê? Tivemos de aprender atuando. Depois de oito dias de formado, já estava trabalhando no serviço público e, logo após, com consultório aberto”, recorda Edgard. “Enfrentei pandemia de varíola, gripe espanhola, sarampo, difteria e muitos males infantis que foram desaparecendo ou sendo controlados”, conta.

O obstetra Sérgio Borges Balsamo lamenta a pouca atenção dispensada ao paciente atualmente. - DIVULGAÇÃO
O obstetra Sérgio Borges Balsamo lamenta a pouca atenção dispensada ao paciente atualmente. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Outro que está preocupado com o comprometimento da relação médico/paciente é o ginecologista e obstetra Sérgio Borges Balsamo. Na profissão desde 1962, ele afirma que “na medicina dos tempos atuais há muito aparelho e pouco contato com as pessoas”.

O médico conta que antes era feita a anamnese -- entrevista realizada pelo profissional de saúde com o objetivo de descobrir o ponto inicial no diagnóstico de uma doença. “Sondávamos o início e a evolução da doença. Investíamos tempo para descobrir o problema”, lembra. “Hoje, pouca gente põe a mão no paciente.”

O cirurgião pediátrico Wilson Campagnone se orgulha de ser médico e poder cuidar das pessoas. - DIVULGAÇÃO
O cirurgião pediátrico Wilson Campagnone se orgulha de ser médico e poder cuidar das pessoas. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Formado em 1977, o cirurgião pediátrico Wilson Olegário Campagnone, diretor distrital da Associação Paulista de Medicina, afirma que a profissão vive tempos de muita tecnologia e pouco carinho. Já para a reumatologista Mariana Ortega Perez, 37, a medicina dos dias atuais exige “eterna reinvenção”.

A reumatologista Mariana Ortega Perez diz que a medicina exige eterna reinvenção. - DIVULGAÇÃO
A reumatologista Mariana Ortega Perez diz que a medicina exige eterna reinvenção. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Mariana Ortega usa a profissão para fazer a diferença na vida das pessoas. É isso que a motiva a trabalhar, de forma incansável, todos os dias. Wilson Campagnone pensa da mesma forma que a colega de profissão. “Me orgulho muito de ser médico e poder cuidar da vida das pessoas. Pena que o tempo passa rápido demais.” “A medicina foi de suma importância do ponto de vista assistencial e científico”, completa Mariana Ortega. (Ana Cláudia Martins)

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