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Ponte de Sorocaba é considerada o marco do tropeirismo no Brasil

18 de Agosto de 2018 às 10:00

Ponte da rua 15 de Novembro nos dias atuais. Crédito da foto: Fábio Rogério

Quando passamos por uma ponte, nem sempre damos a devida atenção ou importância a ela, mas é o que nos ajuda a chegar de um lado a outro. Em Sorocaba, mais do que isso, uma das nossas pontes é considerada o marco do tropeirismo no Brasil. Estamos falando da ponte Francisco Dell’Osso, que liga a rua 15 de Novembro com as avenidas São Paulo e Coronel Nogueira Padilha, lá no centro da cidade.

Para você entender o motivo que tornou essa ponte tão importante é preciso explicar um pouco mais sobre o tropeirismo. Quem ajudou a reportagem nessa tarefa foi José Rubens Incao, pesquisador da história e diretor da Biblioteca Infantil de Sorocaba. Zé Rubens, como é conhecido, nos emprestou o Almanaque Tropeiro, produzido por historiadores e escritores da Academia Sorocabana de Letras. Então, esta reportagem é também baseada nos dados desse material, já feito para crianças.

José Rubens Incao. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Conforme o Almanaque, a profissão do tropeiro era vender mulas e burros, conhecidos como muares. Estes animais são mais resistentes do que os cavalos -- por isso são melhores para aguentar as cargas -- e foram o principal meio de transporte no Brasil, num período que não existia carro, ônibus, metrô, caminhão... Eles levavam ouro de Minas Gerais, algodão e café de São Paulo, feijão, açúcar, sal, galinhas, cartas, encomendas...

Nesse segundo ciclo econômico vivenciado pela cidade, Sorocaba se destacou nacionalmente porque aqui tinha uma grande feira de comércio de muares e, além disso, vinha gente de todo o Brasil comprar animais aqui.

“A cidade se transformava em uma grande festa, tinha circo de cavalinhos, músicos artesãos...”, lembra Zé Rubens.

Era tanto animal sendo negociado que o governo criou o Registro de Animais, um tipo de pedágio que cobrava impostos por cada animal que passasse... pela ponte!

Era assim: as tropas chegavam pela avenida General Carneiro, atravessavam o centro da cidade em direção à rua 15 de Novembro, passavam pela ponte onde tinha o Registro de Animais para pagar ou conferir os impostos, e seguiam pela avenida São Paulo, passavam pela avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes (a da Prefeitura), e seguiam pela estrada de Aparecidinha, rumo a São Paulo.

Sorocaba nessa época ficou famosa também pelo artesanato que produzia e vendia durante as feiras, como selas, arreios, botas e redes feitas em teares de madeira.

Ponte da rua 15 de Novembro quando os tropeiros passavam pela cidade. Ela foi retratada, nessa pintura, pelo artista Ettore Marangoni. Crédito da foto: Reprodução

Casa tropa viajava com centenas de animais

O período do tropeirismo começou em 1733 e se estendeu até 1897. Essa data foi estabelecida por ter sido o ano da última feira de muares em Sorocaba, mas como na história nada é tão fixo, até 1950 ainda vinham tropas para a cidade, comenta Zé Rubens.

Os tropeiros sorocabanos iam buscar os muares no sul do país, Uruguai e Argentina. A viagem demorava mais de três meses e na volta eles traziam entre 700 e 800 animais para vender. Como a viagem era longa, iam parando pelo caminho. Assim é que os sorocabanos fundaram muitas cidades!

Vinícius tem curiosidade de saber mais sobre a história. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Consegue imaginar como era a vida dos tropeiros? Era muito difícil, pois eles ficavam bastante tempo longe da família. Para viajar, eles vestiam calça, camisa, lenço, colocavam chapéu para se proteger do sol e da chuva, usavam um cinto de couro com vários bolsos (conhecido como guaiaca), para guardar dinheiro e colocavam botas.

Nos dias de chuva e frio, usavam uma capa. Para se alimentar, consumiam feijão tropeiro, pois não estragava, já que consiste na mistura de carne seca ao feijão. Mas nem tudo era só trabalho. Nas horas de folga, o tropeiro gostava de tocar viola, cantar, jogar cartas e dançar. Era uma dança só para homens.

Casarão de Brigadeiro Tobias

O ciclo do tropeirismo está mais presente na memória dos cidadãos sorocabanos porque todos os anos é realizada a Semana do Tropeiro para lembrar dessa história. Também porque o município mantém um museu sobre o tema, no Casarão de Brigadeiro Tobias.

Luana gostou de saber sobre as roupas dos tropeiros. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Luana de Fátima Machado, 8 anos, conta que já foi até o local e gostou muito. “Lá eu vi a roupa que os tropeiros usavam, também tinham selas e miniaturas que mostravam como era a feira que eles realizavam em Sorocaba”, lembra Luana, acrescentando que ali ficou sabendo que os tropeiros de Sorocaba usavam facão que era feito na Fábrica de Ipanema, e as pessoas de outras cidades usavam espadas.

“Lá eu soube da importância das mulas no desenvolvimento de Sorocaba. O que achei mais interessante saber foi sobre a roupa que usavam e que o feijão tropeiro era feito na estrada.”

Já Vinícius Henrique Souza Corrêa, 10 anos, nunca foi ao Casarão, mas um dia gostaria de conhecer. Ele disse que gosta de saber sobre história, mas onde estuda também não falaram muito sobre o tema na sua sala de aula. Ele ficou encantado ao conhecer um pouco sobre Sorocaba, durante conversa com a reportagem. Seu irmão mais velho, o Gustavo, de 11 anos, que estuda na mesma escola de Vinícius, já teve aula sobre a história de Sorocaba e lembrou de Cristóvão Pereira de Abreu. “Foi ele quem deu início ao tropeirismo. Sorocaba era lugar de passagem das mulas e o tropeirismo foi uma fonte lucrativa para a cidade”, comenta.

Gustavo já estudou sobre o tropeirismo na escola. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Outros pontos, além da ponte

Além da ponte, alguns locais de Sorocaba lembram os tropeiros como o Monumento ao Tropeiro (estátua) na praça ao lado da Santa Casa e o largo do Canhão, que tem esse formato por causa das tropas que se aglomeravam ali e depois se afunilavam para passar pela ponte. “As nossas ruas tortas foram feitas pelas mulas”, lembra Zé Rubens.

Se você reparar bem, tem placas vermelhas espalhadas pela cidade com os dizeres “Caminho das Tropas”. Essas placas sinalizam por onde os muares passavam. Outro local que merece ser citado é a Capela do Divino Espírito Santo, que fica no Jardim São Paulo. Ela foi construída pelos tropeiros em 1883.

Bonecos de mulas e burros feitos pelo artista Júlio César Collaço. Crédito da foto: Divulgação

Exposição permanente

Gostou de saber um pouco sobre os tropeiros? Se quiser conhecer mais detalhes, no Casarão de Brigadeiro Tobias existe uma exposição permanente sobre o tema. Lá também funciona o Centro Nacional de Estudos do Tropeirismo. Aliás, a mostra é resultado de parceria entre o Centro de Estudos e a Prefeitura de Sorocaba.

Os visitantes são recebidos pela diretora e pesquisadora da história Sonia Nanci Paes e o voluntário e pesquisador Álvaro Augusto Antunes de Assis, que emprestou seu acervo para a exposição e também faz a monitoria.

O Casarão está aberto para visitas de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e fica na rua Antônio Fratti, s/n, no bairro de Brigadeiro Tobias. Para grupos, o agendamento deve ser feito pelo telefone (15) 3236-6856.

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