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Vanessa Marconato Negrão

Você já teve medo do escuro? Eu já. Quando era criança e morava no sítio, meus pais tinham que manter uma lâmpada da casa acessa quando eu ia dormir.

Não tinha acordo. Não adiantava argumentar, dizer que se eu fechasse os olhos já ficaria escuro -- e que não faria diferença nenhuma a luz acesa. Minha paúra era tanta que minha mãe, cansada de tentar me convencer, me presenteou com um abajur com estrelinhas.

O abajur passou a ser meu companheiro inseparável. Com ele eu conseguia ler antes de dormir e me sentir segura a noite toda. Até o dia em que eu acordei de madrugada e vi na parede, ao meu lado, um casal gorducho de lagartixas. Claro, buscavam os insetos que a luz do abajur atraia. Pra mim, mil vezes escuro que lagartixa. Foi aí que eu passei a apagar a luz antes de dormir.

O personagem desse livro não tem exatamente esse medo todo de escuro que eu tinha, mas também não nutre muita simpatia pelo breu da noite. Lucas vive numa casa grande e sombria, com um teto que range, janelas frias e onde o escuro se esconde no porão.

Assustador né? Que nada! Lucas todos os dias vai visitar o escuro. Abre a porta e confere se ele ainda está lá -- e lhe dá oi. Já o escuro só visita Lucas à noite, quando o sol vai embora, ele espalha sua sombra pela casa. Até que um dia o menino decide ir até o quarto do escuro. Em vez de dar oi do alto da escada ele vai até lá, conferir de perto onde é que o escuro mora.

As ilustrações do genial Jon Klassen brincam com os recortes de claro e escuro e deixam o livro ainda mais cheio de mistérios. Lemony Snicket, o autor, nos dá um final surpreendente. As crianças amam, admiram-se a cada página virada, com olhos arregalados. “O escuro” é editado no Brasil pela Companhia das Letrinhas.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil