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Conheça os encantos e histórias de uma infância do passado

26 de Janeiro de 2020 às 00:01

Rosalvo hoje tem 84 anos e ensina: “se dedique ao seu dom”. Crédito da foto: Luiz Setti (20/1/2020)

 

Você sabe como era a infância de antigamente, do que as crianças brincavam, como era a rotina delas? Hoje, o Cruzeirinho vai contar a história de um menino que nasceu numa época em que a grande maioria das ruas era de terra, algumas tinham paralelepípedo (umas pedras grandes, retangulares) e quase nenhuma rua de municípios do interior tinha asfalto. Naquele período -- estamos falando do ano 1936 --, não se imaginava que um dia existiria computador, muito menos internet. Não havia celular e poucos tinham telefone. A comunicação era feita por carta e se fosse algo urgente, mandava-se um telegrama. Como enviar telegrama é algo caro (sim, existe até hoje), era preciso resumir bem as palavras e escrever apenas o necessário. A frase tinha que ser muito menor do que uma postagem no Twitter, por exemplo, rede social que exige textos pequenos.

Uma traquinagem! Desenhos feitos na parede de casa. Crédito da foto: Reprodução

 

Naquele tempo, as pessoas andavam muito a pé e quando precisavam de transporte faziam uso de charrete e cavalo nas cidades pequenas, já nas maiores tinha bonde, um veículo movido a eletricidade e que se locomovia pelas principais ruas por meio de trilhos. Para viajar, era comum pegar trem. Pois então, o menino Rosalvo cresceu nesse contexto do Brasil, mas em uma cidade bem pequena, chamada Aporá, na Bahia.

As crianças adoravam brincar com seus cavalinhos de pau. Crédito da foto: Reprodução

 

Seus pés viviam descalços mesmo quando estava brincando fora da casa. Era assim com todas as crianças de antes. Hoje em dia, os pais não deixam muito ficar com os pés descalços, né? Naquela época, as pessoas usavam mais chinelo. Tênis e sapatos eram apenas para ir até a região central da cidade, à igreja ou a festas. Rosalvo conta que aos 4 anos de idade, gostava muito de brincar com o seu cavalinho de pau. Aos 5, já sabendo desenhar, costumava fazer traços de animais na terra. Passava um bom tempo caprichando nos bichinhos. “Ainda com 5 anos, teve uma vez que eu subi na mesa da sala. Ela ficava encostada na parece, perto da janela. Eu fiz isso para desenhar na parede. Fiz um desenho com flores e nunca apagaram”, lembra.

A terra também era usada para fazer desenhos de animais. Crédito da foto: Reprodução

 

Aos seis anos, o passatempo preferido de Rosalvo era estar em meio à natureza. Gostava tanto que criou uma mini horta. Plantou alguns alimentos, que cuidava com carinho para depois colher e levar pra dentro de casa, para ser preparado. Ele também curtia muito passear a cavalo e acompanhava o tio, quando ia até a feira vender porcos.

A criatividade era tanta que até mesmo plantas viravam tinta para pintar. Crédito da foto: Reprodução

 

Os anos foram passando e Rosalvo continuava gostando de desenhar e pintar. Por mais que se distraísse com outras atividades, a pintura não era deixada de lado. Ele lembra que aos 8 anos resolveu criar a própria tinta. Para isso, pegou folhas e frutos, juntou tudo num balde e começou a fazer. Não existe melhor satisfação do que algo feito por nós mesmos, não é?

Rosalvo gostava muito dessa vida, mas percebia que os garotos da cidade eram diferentes. Andavam bem vestidos, com os cabelos sempre cortados, por isso ficou feliz quando, já com 13 anos, a família se mudou para São Paulo. Moraram em várias cidades até chegarem a Sorocaba.

Aos 18 anos e recém-chegado no município, veio a ideia de aprender pintura. Mesmo sem ter dinheiro para pagar um curso, uma professora ensinou Rosalvo gratuitamente, durante dois meses. “Foi pouco tempo, mas aprendi bastante”, recorda.

As brincadeiras e atividades eram sempre em contato com a natureza. Crédito da foto: Reprodução

 

Por amar a pintura, ele se tornou pintor de paredes profissional e pintor letrista. Os desenhos viraram hobby. Pessoas que viam seus quadros acabavam gostando e comprando. Um dia, diante de uma oportunidade, Rosalvo teve a chance de se tornar um artista profissional. Ele conta que foi convidado para uma feira de exposições no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Teve também outra vez que ele foi a São Paulo levar sua arte, mas depois parou de participar desses eventos. O que ele curte mesmo é fazer seus quadros e deixar em casa, apenas para a família e os amigos apreciarem.

Passeios a cavalo também faziam parte da rotina de várias crianças. Crédito da foto: Reprodução

 

Hoje o menino Rosalvo Cardoso de Mattos está com 84 anos. Casado com a dona Cida, ele tem 7 filhos, 13 netos e um bisneto. Acostumado a ler o Cruzeirinho, Rosalvo tinha vontade de publicar seus desenhos para as crianças verem. E hoje seu sonho está sendo realizado. Todos os desenhos desta reportagem são dele e contam a história vivida em sua infância. Como Rosalvo quis compartilhar aqui com você, já que ele fez o desenho, que tal colaborar com essas criações e pintar? Aproveite pra deixar tudo bem colorido, tão bonito quanto foi a infância dele.

Com a sabedoria que adquiriu, Rosalvo deixa um conselho: “aproveite a infância e se você gostar de desenhar, se dedique ao seu dom, pois em tudo a gente tem de ter força de vontade, quem quer fazer algo, tem de correr atrás.” Bom domingo! (Daniela Jacinto)

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