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Crianças contam como é a rotina de quem mora no circo

24 de Setembro de 2018 às 07:59

Eles moram no circo Com uma vida cheia de mudanças, as crianças circenses moram em trailers e usam o picadeiro como espaço para brincar. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Imagina o quintal da sua casa ser um picadeiro, as brincadeiras contarem com malabares e palhaçadas, e você não ter de ir sempre para a mesma escola. Além disso, de tempos em tempos ter a oportunidade de viajar e conhecer diferentes cidades. Uma verdadeira vida de aventuras, né? Pois essa é a rotina de crianças que pertencem a famílias circenses. A maior expectativa delas é o momento de se tornarem artistas e poderem se apresentar para o público.

Eles moram no circo Eliceu ensaia malabares e quer ser um grande artista. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Eliceu Cauã Moreira da Silva, de 10 anos, conta que viver no circo é bem legal. Principalmente porque dá para ensaiar malabares com o seu pai. “Sabe, eu moro num ônibus e posso ir a muitos lugares interessantes e descobrir a história de outros países”, comenta . Eliceu lembra que a única coisa triste é quando deixa amigos nas cidades por onde passa, porque sente saudade. “Só é triste quando perco um amigo, mas quando encontro um outro novo acho bem legal. Estou acostumado a fazer amizades e também a perder”, afirma.

Eles moram no circo Hany também quer ser artista, mas por enquanto se dedica aos estudos. Crédito da foto: Erick Pinheiro

No entanto, a lembrança que guarda com mais carinho é de uma professora que conheceu em Franco da Rocha, uma cidade do interior de São Paulo, e nesse caso não foi ele que parou de frequentar aquela escola, mas sim a professora. “Ela teve de deixar a escola por problemas com a garganta”, lamenta. Fora essa parte da saudade, Eliceu curte muito a rotina que leva. O que mais quer na sua vida, revela, é começar a trabalhar no circo. “Não vejo a hora”, disse.

Eles moram no circo Isabella pensa em fazer os números com os tecidos. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Por falar em atuar no circo, esse é o desejo de todas as crianças que moram ali com suas famílias. Como são pequenas, no momento dedicam-se apenas aos estudos, mas já fazem planos. Isabella Rocha Pepino, 7 anos, e Hany Silva, 8 anos, pretendem fazer tecido. A mais novinha da turma, Bruna Sepuveda Stankowich, 4 anos, quer ser de tudo um pouco: trapezista, bailarina, malabarista, palhacinha, gorila e até mesmo arriscaria a fazer o Globo da Morte, quando o desafio é com motos.

Eles moram no circo Bruna quer ser de tudo um pouco; já Anita também pensa em ser atriz. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Eduardo Henrique Moreira da Silva, 8 anos, afirma que ainda está indeciso entre ser do circo e fazer malabares e rola (equilíbrio nas latas) ou jogador de futebol. Sua irmã, Júlia Moreira da Silva, 7 anos, pretende se dedicar ao trapézio. Júlia revela que uma das coisas de circo que já aprendeu é espacar e tem números que gosta de treinar num colchão. Eliceu, que já deu depoimento no início da reportagem, é o irmão mais velho de Eduardo e Júlia, e disse que pretende ser o maior artista de malabares que existe. Já Anita Rosemberg Silva Santos, 11 anos, afirma que está indecisa entre trabalhar com força capilar (aquele número que puxa pelos cabelos) ou ser atriz de TV. “Sou muito nova ainda para escolher. Estou decidindo, mas até lá terei bastante tempo”, diz.

Eles moram no circo Júlia quer se dedicar ao trapézio. Eduardo gosta do circo, mas também de futebol. Crédito da foto: Erick Pinheiro

E se você acha que as crianças de circo só brincam de coisas de circo, se engana. Elas são como todas as outras: as meninas brincam de mamãe e filhinha, de escolinha e pega-pega. Já os meninos gostam de brincar principalmente de Vingadores. É o que disseram Eliceu e seu irmão, o Eduardo.

Palhaçadas são com ele mesmo!

Eles moram no circo Marlon contou que se diverte muito sendo palhaço. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Pensar em circo sem palhaço não dá né? Esse é um dos números mais engraçados! A gente ri muito, mas sabia que eles também se divertem com suas próprias palhaçadas? É o que disse Marlon Stankowich Júnior, de 13 anos.

Filho do proprietário do Circo Stankowich, Júnior é exceção entre os demais, porque desde cedo queria muito se apresentar e o pai acabou deixando, mesmo assim faz coisas leves. “Me divirto quando jogo pipoca no público”, ri, acrescentando que curte muito fazer o palhaço e também ficar no som. Ele afirma que começou a atuar no circo aos 7 anos porque sentia grande vontade de ser artista. Desde cedo já imitava os números e não via a hora de estar no picadeiro.

Escolas e seus ritmos de aula

Ser de circo tem seu lado bom, mas como tudo na vida também existe a parte ruim. Quando o assunto é escola, podem surgir algumas situações um pouco difíceis. Como vivem viajando, é lei as escolas abrirem vagas em qualquer período do ano para crianças do circo. No entanto, elas precisam se adaptar ao ritmo de cada instituição. A trupe do Circo Stankowich, por exemplo, conta com dez membros, entre crianças e adolescentes, em idade escolar.

O que acontece é que às vezes estudam com uma turma que está mais avançada nas matérias, depois podem cair com outra turma que está mais atrasada. O pai do Marlon conta que já aconteceu isso com o filho, de precisar pagar aula de reforço para ele porque numa escola do Rio de Janeiro a turma estava mais à frente.

De cidade em cidade

Quando a conversa foi sobre as viagens que fazem e as cidades que conhecem, foi curioso que ao perguntar sobre o lugar que mais gostaram, a maioria se disse apaixonada por Franco da Rocha. O que deu para perceber é que as crianças não têm na memória algo relacionado à beleza das cidades por onde passaram, mas sim às relações afetivas construídas, e Franco da Rocha venceu nesse quesito. Apenas Isabella citou Indaiatuba, mas também pelo mesmo motivo. “Por causa dos professores e amigos”, disse.

Outra questão abordada foi se conhecem o município onde nasceram. A única que disse visitar com frequência a terra natal é Anita. “Nasci em São Paulo, no Tatuapé, e vou sempre porque minha família mora lá. Meu pai, minha avó...”, comenta.

Todas as crianças falaram também que fazem bastante amizade com quem é de outro circo, inclusive no dia que a reportagem foi conversar com elas, ia ter uma super festa de aniversário, com banda e DJ, e presença de artistas de outros circos.

Até outubro

O Circo Stankowich -- e as crianças ouvidas nessa reportagem -- ficam em Sorocaba até o dia 14 de outubro. A Unidade Pink está situada na avenida Dom Aguirre, 2.800, ao lado da Honda Caiuás. Os espetáculos podem ser vistos de terça a sexta-feira, às 20h30; e aos sábados, domingos e feriados às 15h30, 18h e 20h30. No Facebook do circo tem uma promoção e é preciso apresentar o impresso da página para ter desconto, aí os ingressos para as cadeiras laterais custam R$ 15 (adultos e crianças) e R$ 20 para as cadeiras centrais.

 

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