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'Soft skills': Problemas transformados em soluções inovadoras

19 de Setembro de 2019 às 21:20

O que existe de mais avançado no mundo não pode ser encontrado do lado de fora Samuel Oliveira saiu do norte de Minas Gerais e ganhou o mundo com dedicação, foco e desenvolvimento emocional para decisões acertadas. Crédito da foto: Fábio Rogério (19/9/2019)

Eles são parceiros da Agência Espacial Norte-americana (Nasa) e estão desenvolvendo um projeto de ocupação de Marte. Só por esse exemplo é possível perceber o nível de acesso à ciência e tecnologia que a Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens) proporciona a seus estudantes. Esse centro universitário é um smart campus, uma cidade inteligente em que tudo está conectado por meio da tecnologia.

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Além disso, a unidade é equipada com laboratórios de excelência, que envolvem inovação e empreendedorismo, onde são trabalhados temas como realidade virtual, inteligência artificial, jogos digitais, robótica, enfim, a lista é extensa. No entanto, quando perguntado sobre qual é o maior diferencial para o ensino nesse ambiente, a resposta surpreende: o desenvolvimento das competências socioemocionais.

Sim, é o que hoje existe de mais avançado numa instituição de ensino, tanto é que Harvard -- uma das mais prestigiadas universidades do mundo, situada nos Estados Unidos -- tem cursos específicos para trabalhar o tema.

Eliney Sabino, coordenador dos cursos de tecnologia da Facens, fala sobre a importância de preparar o aluno para que tenha habilidade de transformar problemas em soluções inovadoras. “Ajudar alguém a ser assim, isso é complexo”, diz. “Tem pessoas com dificuldade em trabalhar em grupo, em conviver com diferenças econômicas, religiosas, políticas, de valores”, observa.

As “soft skills”, como são chamadas as habilidades comportamentais, estão diretamente ligadas à forma de se relacionar com as pessoas. Para isso, é preciso desenvolver a comunicação, a ética, a empatia, os pensamentos criativo e crítico, a liderança, a tomada de decisão, a resiliência e a capacidade de resolução de conflitos, entre outros.

O que existe de mais avançado no mundo não pode ser encontrado do lado de fora Eliney Sabino trabalha para habilitar os alunos a transformar problemas em soluções inovadoras. Crédito da foto: Fábio Rogério (19/9/2019)

Escolhas acertadas

Samuel Oliveira, recém-formado em engenharia mecatrônica pela Facens, acredita que se deu bem em sua trajetória acadêmica por conta de algumas habilidades que desenvolveu. Ele faz questão de contar um pouco sobre sua vida para que as pessoas entendam o contexto em que vivia e o que conseguiu ao longo dos anos.

Tudo isso, acredita, deve-se não apenas ao fato de ter estudado, mas ter desenvolvido algumas “soft skills” para saber fazer escolhas acertadas. “Sou do norte de Minas Gerais, morava no sertão mesmo. Quando pequeno, adorava os Power Rangers e só sabia uma coisa: que queria trabalhar com robô”, conta.

Em nenhum momento de sua vida, Samuel imaginava onde iria chegar. A única perspectiva que tinha, para além do que sua família poderia sonhar, é que ia fazer uma faculdade. Estudioso, não se considerava o melhor da turma, mas acabou conseguindo boa nota na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesse dia, tudo mudou.

Com a classificação obtida, ele ganhou bolsa de estudos e foi assim que encontrou Sorocaba, durante uma pesquisa na internet sobre onde poderia aprender robótica. Samuel não tinha lugar para ficar, não sabia como iria conseguir dinheiro para se manter, só que daria um jeito de estudar. Os pais o trouxeram numa viagem de 24 horas seguidas, de carro. Conseguiu abrigo na casa de um pastor e começou os estudos.

Deu para perceber que dentro dele já estavam habilidades como iniciativa, tomada de decisão, comunicação, resiliência e capacidade de resolução de conflitos. Se fosse apenas a boa nota do Enem, ele continuaria em casa.

O que existe de mais avançado no mundo não pode ser encontrado do lado de fora Durante dois anos os alunos da Facens se dedicaram à simulação de ida à Lua e agora estudam as condições de Marte. Crédito da foto: Fábio Rogério (19/9/2019)

Durante a graduação, Samuel se dedicou ao desenvolvimento de carro elétrico, trabalho interdisciplinar que envolve diversas áreas da engenharia. Conseguiu um estágio remunerado e estava se mantendo quando novamente surgiu uma oportunidade e, outra vez, teve de tomar uma decisão. Continuar o estágio na empresa multinacional, onde poderia ser efetivado, ou abraçar a bolsa de 100% que tinha acabado de ganhar para estudar na Espanha.

Aquele menino de Jaíba, que nunca tinha saído da cidade, optou por conhecer o mundo. Na Espanha, quando tinha horas vagas, aproveitava para ir a outros países. “Na época muita gente achou que era loucura o que eu estava fazendo, mas aconteceu que nenhum estagiário foi efetivado e quando voltei, acabei sendo contratado justamente pela minha experiência internacional”, comenta.

Samuel lembra que tinha aluno que era o melhor da faculdade, mas não foi inserido no mercado de trabalho, justamente por falta das competências socioemocionais. “Tem gente que não sabe trabalhar em grupo, não consegue se comunicar, não é capaz de tirar suas ideias do papel”, diz.

Outro destaque de sua trajetória foi ter sido um dos representantes do Brasil em assembleia na ONU, em Nova York, sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O processo de seleção reuniu cerca de 10 mil participantes. No final deste mês, Samuel irá para a África, representar o Brasil novamente em evento da ONU. Depois que voltar, será a hora de arrumar as malas de forma mais definitiva, para uma estadia longa. Samuel conseguiu mais uma bolsa e largará o emprego para fazer mestrado em robótica na Flórida (EUA).

Projeto em parceria com a Nasa estuda a colonização de Marte

No início desta reportagem foi citado o projeto de Marte. Por seu caráter inovador, vale detalhar um pouco mais sobre ele. A professora Andréa Braga, coordenadora do curso de Engenharia da Computação na Facens, é responsável por seu desenvolvimento com os alunos. Ela lembra que a parceria com a Nasa começou em 2016 e ressalta que trata-se de “um trabalho colaborativo”. Durante dois anos, os alunos do centro universitário se dedicaram à simulação de ida à Lua e agora desenvolvem um projeto de colonização de Marte.

O que existe de mais avançado no mundo não pode ser encontrado do lado de fora Andréa Braga. Crédito da foto: Fábio Rogério (19/9/2019)

Durante as pesquisas, eles afirmam que para concretizar a ocupação, pensaram inicialmente em garantir recursos básicos como água e oxigênio. Descobriram que em Marte tem água dissolvida em perclorato de cálcio -- então criaram uma mina de exploração, com o objetivo de retirar essa água para transformar em oxigênio.

Na superfície de Marte também tem um lago congelado, outra fonte de água. A partir daí, avaliaram os habitats. Para essa base de Marte, os estudantes pensaram em implantar sala de controle, academia, sala de despressurização, e ainda fazer estufa onde os habitantes poderão inclusive ter plantação. “É uma simulação, mas quanto mais real, mais chance de sucesso”, diz a professora.

Andréa explica que são necessários sete meses para chegar a Marte em um ônibus espacial. No meio do caminho tem a Lua, que será usada como uma parada de apoio para chegar a Marte -- um local que dá para abastecer para prosseguir.

Os estudantes afirmam que existem planos do homem chegar a Marte em 2028 e começar a povoar em 2030. Mas para retornar, só seria possível depois de dois anos. Isso se tiver combustível. “É necessário que os planetas Terra e Marte estejam em posições específicas e isso ocorre a cada dois anos.” De acordo com os alunos, eles ainda estão estudando a questão do combustível, pois não daria para voltar.

Durante a entrevista, Andréa revelou que foi aos Estados Unidos este ano e a Nasa pediu para a Facens ficar responsável pelo software DOM, usado pelas instituições de ensino de diversos países que são parceiras da Nasa. “Então a Facens irá coordenar todas as equipes do mundo”, diz, orgulhosa. (Daniela Jacinto)

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