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Rotary promove debates sobre qualidade, tecnologia, violência e aprendizagem

03 de Maio de 2019 às 00:58

Rotary promove debates sobre qualidade, tecnologia, violência e aprendizagem O evento integra o movimento Roda do Aprendizado, do Rotary Club Sorocaba Alvorada. Crédito da foto: Divulgação

O maior problema de violência na escola, no âmbito do Estado de São Paulo, está concentrado na capital e na Grande São Paulo e isso é fruto não de problemas das escolas, mas da alta concentração urbana na periferia, marcada por condições subumanas de existência.

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A avaliação é do educador, diretor de escola e empreendedor educacional Arthur Fonseca Filho. Segundo ele, a agressão que acontece na sala de aula, no campo de futebol ou na rua, é uma característica “deste momento de passagem” e nas comunidades mais socialmente frágeis estes comportamentos tendem a explodir nos ambientes fora da casa: “E a escola pode ser esse momento.” Arthur diz que os casos mais “dolorosos” aparecem mais e fazem crer que haveria uma situação de “caos universal em todas as escolas”: “Não é a minha impressão do que acontece.”

Essa e outras questões do ensino relacionadas com a sociedade foram o alvo das discussões num encontro com Arthur, realizado na segunda-feira no Centro de Referência em Educação, em Sorocaba. A configuração do encontro simulou uma roda de conversa. No centro, Arthur respondeu a perguntas sobre educação e suas complexidades, numa sociedade marcada por fenômenos de grande impacto como tecnologia, violência, democracia e políticas públicas para o ensino.

O público avaliado em 100 pessoas é composto de educadores, estudantes de pedagogia, comunidade em geral. O evento, promovido pelo Rotary Club Sorocaba Alvorada, integra o movimento Roda do Aprendizado, iniciativa do Rotary com convidados que são autoridades do terceiro setor e lideranças das redes pública e particular de ensino.

Escola como unidade

As perguntas do público traduziram preocupações com as várias questões levantadas. A discussão sobre a violência partiu de uma pergunta do público que quis saber a que Arthur atribui a atitude de alunos que chegam ao extremo de agredir o professor. Como resposta, Arthur citou restrições nos modelos de ensino adotados pela rede estadual paulista: “Eu não acho os melhores.” E identificou relações entre eles e a violência.

O professor citou, como exemplos de problemas, a descaracterização da escola em comparação com perfis de antigamente: “Como é que vive o professor que atua nas escolas da periferia? Quanto tempo este professor fica naquela escola?”. Arthur lembrou que nas periferias há casos de lançamentos de conjuntos habitacionais que mudam de uma hora para outra o cenário de uma escola, sem previsibilidade, com quase três mil crianças. Recordou que, antigamente, havia escolas que se consolidaram como unidades de ensino de ampla referência e a permanência do corpo docente tinha papel importante na construção dessa identidade. Citou, como exemplos em Sorocaba, o Estadão (Escola Júlio Prestes de Albuquerque) e o Getúlio Vargas, ambos na avenida Eugênio Salerno.

O que houve nos anos recentes, na sua avaliação, foi uma descaracterização da escola enquanto unidade: “Não há escola se não houver permanência do corpo docente, tanto na escola pública quanto privada.” Ele entende que a mudança de parte do corpo docente a cada ano prejudica a identidade da escola.

Arthur Fonseca também opinou que a violência tem relação com o fato de o espaço escolar não ser tratado como espaço de determinada comunidade onde está localizada. Não vê como saída a opção de colocar mais polícia, mais limite e instrumentos de punição. “O maior problema da escola brasileira não é a violência, o maior problema é que nós temos poucos resultados de aprendizagem naquilo que é mais importante para a escola”, conclui.

Desconstruir mitos

Rotary promove debates sobre qualidade, tecnologia, violência e aprendizagem Arthur Fonseca destacou a importância da permanência dos professores nas escolas. Crédito da foto: Ednilson Jodar Lopes / Arquivo JCS (21/2/2019)

Arthur desmitificou, durante o encontro, o conceito de que a escola particular seria melhor do que a escola pública. Segundo ele, é preciso avaliar essa tese com “muito cuidado”, porque há casos de escolas privadas que são ruins e escolas públicas boas. E há muita coisa que não se presta e que acham que poderia ser levada da escola particular para a pública. O caminho, na sua análise, é desenvolver projetos e melhorias de gestão em aspectos curriculares da escola pública usando os recursos da sociedade e que podem estar na escola pública, entre as que quiserem participar: “É obrigação da instituição educacional contribuir para que todos os alunos tenham um nível de aprendizagem maior.”

Uso do celular

Como lidar com o uso do celular e ao mesmo tempo fazer com que o aluno se interesse pelo conteúdo da sala de aula foi outra abordagem feita por Arthur. Ele admitiu que “não há atividade humana que prescinda hoje da tecnologia”, mas argumenta que os modelos de sucesso educacional no mundo mostram que não foi o uso intensivo da tecnologia que levou aos resultados positivos. Ele lembrou que na escola que dirige o uso do celular é proibido em sala de aula. Na sua visão, não é possível atividade educacional quando alguém está distraído com redes sociais e jogos digitais. E admite também que sem acesso à internet não há quem faça pesquisa.

Modelo de férias

A adoção de quatro etapas de férias pelo governo estadual para 2020 foi outra questão debatida. Arthur disse que quando se tem uma cultura escolar “arraigada” é preciso conversar com os pais. E defende a necessidade da construção de um plano de trabalho compatível com a proposta de mudança.

Sobre essa decisão, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou, no dia 26 de abril, mudança no calendário escolar da rede estadual de ensino a partir de 2020. Alunos e professores das escolas estaduais terão quatro períodos de férias: uma semana em abril, duas semanas em julho, uma semana em outubro, 30 dias entre dezembro e janeiro. Artur considera que pura e simplesmente mudar o regime de férias pode levar a uma situação em que as aulas serão prejudicadas nos meses de férias de uma semana e em uma quinzena de julho. (Carlos Araújo)

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