Para aprender Matemática, é preciso errar e praticar
Jo Boaler é diretora acadêmica do YouCubed, curso on-line aberto de ensino e aprendizado de Matemática. Crédito da foto: Divulgação
No que se refere à Matemática, o Brasil está 75 anos atrasado em relação à média educacional dos países desenvolvidos. E o que é preciso fazer para avançar nessa área? Os professores devem permitir que seus alunos errem. “O ensino tem sido o mesmo por muitos anos, a ideia de que os estudantes entreguem tudo 100% correto não é uma boa atividade cerebral”, diz a pesquisadora norte-americana Jo Boaler, da Universidade de Stanford.
Conforme Jo, as pessoas devem abandonar a ideia de que se nasce com um “cérebro matemático” ou não. O que faz aprender mesmo é ter a liberdade para praticar. A pesquisadora veio ao Brasil, juntamente com a colega de trabalho Cathy Williams, para compartilhar as principais bases de estudo do programa Mentalidades Matemáticas, do qual são idealizadoras.
As pesquisadoras participaram, nos dias 18 e 19 de setembro, do II Seminário Mentalidades Matemáticas no Espaço Immensità, em São Paulo. O evento foi realizado pelo Instituto Sidarta e Itaú Social, com patrocínio da Fundação Lemann e apoio do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). A reportagem do Educare ouviu Jo para trazer um pouco do tema aos leitores.
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Jo Boaler é diretora acadêmica do YouCubed, curso on-line aberto de ensino e aprendizado de Matemática. Premiada com excelência pela Fundação Marie Curie, atuou como professora em escolas secundárias londrinas e tornou-se pesquisadora na King’s College, em Londres. Autora de nove livros, é consultora do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e integra o conselho de revisão do currículo do estado da Califórnia.
Segundo ela, há muitas evidências de que todas as vezes que se aprende algo, novos caminhos são desenvolvidos no cérebro, ou novas conexões neurais são feitas. “E todas as vezes que aprendemos, construímos a Matemática no cérebro”, afirma. “A neurociência mostra que o melhor momento para o cérebro é quando cometemos erros, é o momento em que nosso cérebro está mais ativo e em crescimento, ele quer que as pessoas se esforcem e cometam erros”, completa.
Em seu best-seller “Mentalidades Matemáticas -- estimulando o potencial dos estudantes por meio da matemática criativa, das mensagens inspiradoras e do ensino inovador”, Jo compartilha exemplos de pessoas que, quando eram crianças, tinham dificuldade em aprender a disciplina e, com o tempo, perceberam que tinham altos índices de aprendizado em Matemática.
“E sabemos que, quando as pessoas acreditam que não conseguem aprender Matemática, seus cérebros se fecham. Então, ter alunos que sabem que podem aprender qualquer coisa, é muito importante”, ressalta.
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Conforme Jo, é preciso mudar o modo de ensinar. “É possível aprender tudo, o cérebro está sempre em fase de crescimento. Mas quando ensinamos Matemática com a intenção de reparar algo, com respostas certas e erradas, com uma única maneira de conseguir chegar ao resultado, os alunos não conseguem ver como podem crescer no aprendizado.”
Para desenvolver a Matemática, reforça, é preciso errar. Seu trabalho consiste em mostrar aos estudantes que os erros são muito bons, que o esforço é ótimo. “Isso é libertador para eles, e faz com que tentem solucionar mais os problemas, e que persistam mais.”
De acordo com a pesquisadora, três fatos na neurociência são extremamente importantes para validar a possibilidade de aprendizagem: o cérebro está sempre crescendo e em desenvolvimento; a evidência de que o esforço e o fato de cometer erros são muito importantes; a evidência ao redor da conexão cerebral e como o cérebro trabalha de formas diferentes quando o assunto é Matemática.
Há duas semanas, foi publicada na página Educare uma reportagem em que diversas pessoas deram depoimentos sobre suas dificuldades com a Matemática devido a traumas originados nos anos iniciais de estudos, ou seja, no ensino fundamental.
Jo foi questionada se a falha seria, então, na formação dos professores, durante as faculdades de Pedagogia e como analisa a questão. “Muitos professores do ensino fundamental têm um processo de ensino traumático, então eles ensinam como aprenderam. Para muitos foi dito sobre ‘cérebro matemático’, e isso é falso”, conclui. (Daniela Jacinto)
Serviço
Jo e Cathy são fundadoras do YouCubed, plataforma de Matemática que conta com mais de 30 milhões de acessos no mundo. O Instituto Sidarta é co-criador do projeto no Brasil, em parceria com Itaú Social. Interessados em aprender mais por meio desse sistema podem acessar o site do YouCubed.