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Pais e educadores precisam sinalizar limites para a educação das crianças

30 de Maio de 2019 às 23:59

Pais e educadores precisam sinalizar limites A palestra reuniu pais e educadores no auditório do Colégio Politécnico de Sorocaba. Crédito da foto: Fábio Rogério

O que cabe à escola e o que cabe à família na educação das crianças é um tema complexo, que sempre gera reflexões. Valores, comportamento e respeito são alguns dos aprendizados adquiridos em casa. A escola, além de ter a missão de passar conteúdos essenciais para uma boa formação intelectual, também complementa a tarefa dos pais. Mas “complementa”, não cabendo a ela a responsabilidade que compete à base familiar. É o que frisou a psicóloga e psicoterapeuta Amira Lahan durante a palestra “A importância dos limites na educação das crianças”, realizada no Colégio Politécnico de Sorocaba.

Amira, que atuou durante 25 anos em escolas, afirma que a unidade escolar acaba sendo coadjuvante na educação das crianças na medida em que endossa, complementa, amplia e reflete valores que a própria família desenvolve.

A indisciplina, de acordo com a profissional, é inerente ao ser humano. “Faz parte da inteligência, mas é preciso saber que tudo eu posso, mas nem tudo eu devo, nem tudo é permitido, principalmente quando a gente pensa em coletividade -- e uma sala de aula é um lugar coletivo, é uma oportunidade que a escola oferece, num determinado período, para experimentar aquilo que foi ensinado em casa.”

De acordo com Amira, não existe um modelo a ser seguido pelas escolas. Toda equipe deveria estar preparada para as demandas relacionadas a comportamentos. “Desde o porteiro até a direção, deve haver uma coerência entre todos”, diz. Ela acredita que pelo fato das escolas seguirem um padrão ainda muito antigo, isso cria resistência por parte dos estudantes e enquanto a escola não se atualizar, será preciso contar com a ajuda dos pais nesse sentido da indisciplina.

Pais e educadores precisam sinalizar limites A psicóloga e psicoterapeuta Amira Lahan. Crédito da foto: Fábio Rogério

De seu lado, o professor precisa se manter firme, fazer combinados para desenvolver um compromisso nas crianças, como a proibição do uso do celular na sala de aula, entre outras atitudes. “Se não for cumprido, o professor deve parar e conversar, mas no sentido de acolher e não de recriminar a criança”, enfatiza a psicóloga.

Já aos pais cabe ensinar que existem limites, mas para isso é preciso estarem aptos e os requisitos são ter autocontrole, ter bom senso e dar o exemplo. Amira enfatiza que os pais precisam ter clareza de que os limites e deveres impostos aos filhos não são apenas para satisfazer seus respectivos egos.

Os pais também devem ensinar que os direitos são iguais para todos, mostrar que existem outras pessoas no mundo e a criança precisa saber que não deve haver privilégios para este ou aquele, e que a cada direito corresponde um dever. “Cabe aos pais dizerem sim quando possível e não quando necessário, mostrar que algumas coisas podem ser feitas e outras não. Se quer brincar, tudo bem, mas depois do dever.”

A psicóloga afirma que a criança que não convive com limites desenvolve egocentrismo, dificuldade de aceitar regras, desrespeito, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, baixo rendimento escolar e falta de persistência. Isso também gera agressão, marginalização, vulnerabilidade às drogas e sentimento de inferioridade. No entanto, para impor limites, não precisa bater. “A criança não tem defesa, nem física e nem emocional. Quando apanha, se torna um adulto vulnerável a maus tratos.”

Amira lembra que autoridade é inerente ao papel dos pais, porém autoridade é diferente de autoritarismo. Não é obrigar a criança a se comportar de determinada maneira e pronto. “Devem explicar o motivo das coisas, os filhos precisam compreender o por quê algo está sendo limitado a eles.”

Ao ver a criança se comportando mal, os pais devem ser firmes e deixar claro que não aceitam esse comportamento. Não devem castigar, mas fazer assumir a consequência dos seus atos. Amira dá um conselho às famílias: adiem a satisfação de seus filhos. “Isso ajuda a ter resistência à frustração, a desenvolver a capacidade de aguentar o não. Criança que não vivencia o limite terá dificuldade de aguentar lá pra frente.”

Ainda conforme a psicóloga, os pais devem ter cuidado com o que falam para os filhos na primeira infância. “Quando for criticar, critique o ato, não a pessoa, não rotule. Cuidado com o que você diz e como diz, além disso, não espere que seu filho se comporte além da idade dele.”

Por fim, Amira deixa um recado: “pais, não deleguem a educação dos seus filhos.” (Daniela Jacinto)

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