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Opinião: educação, um tesouro a descobrir

17 de Setembro de 2018 às 17:00

Gláuci Mora

Foto: Acervo pessoal

Tempo esgotado! Não há como pensarmos em uma educação transformadora de vida, se não refletirmos sobre a escola, que é uma das mais importantes instituições produzidas e estruturadas pelas sociedades e cultura humana.

Nesse sentido, mais do que acumular conhecimento acadêmico, o importante é estar preparado de fato para a vida. Para dar conta da missão que os tempos impõem, o ser humano deve ser capaz de organizar-se em torno de quatro grandes eixos/pilares da educação, propostos por Jacques Delors (presidente da Comissão Internacional sobre Educação para o Século 21 e autor do relatório para a Unesco “Educação, um tesouro a descobrir”): aprender a ser; aprender a conviver; aprender a fazer; aprender a aprender.

Eis por onde nosso jovem deve saber caminhar como protagonista, motivado ao ser e ao conviver em plena harmonia em sociedade, cônscio do estar no mundo e por ele ser corresponsável, autoconhecedor de si mesmo em uma redundância necessária! Autoconhecer-se é o pilar para outros pilares da vida humana, para um projeto de vida.

Nesse sentido, uma das saídas para reconectar o indivíduo ao mundo onde vive, passa pelo desenvolvimento de competências socioemocionais. Nesse processo, tanto crianças como adultos aprendem a colocar em prática as melhores atitudes e habilidades para controlar emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira responsável, entre outros. Vale também refletir sobre os pressupostos de Moran sobre os saberes necessários à educação do futuro, em que o autor ressalta que o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a mola da pesquisa filosófica ou científica. Ele pondera ainda que a faculdade de raciocinar pode ser diminuída, ou mesmo destruída, pelo déficit de emoção.

Assim, busquemos em toadas harmônicas (políticas públicas e educacionais), uma escola que eduque em direitos humanos, em um processo de humanização, de caráter humano de sua identidade ontológica, porque a escola já não funciona mais de outra forma, há tempos!

A pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas e divulgada pela Revista Ensino Superior aponta que várias são as causas da evasão escolar no ensino médio, mas o que nos chama a atenção é a razão de os jovens evadirem. Dos 100% evadidos, 83% saíram da escola por falta de interesse e disseram que não querem frequentá-la. Apenas 27% justificaram a falta de renda.

Dessa forma, muitos desses jovens, pertencentes a comunidades vulneráveis, não se interessam pelas experiências que vivenciam na escola por não considerarem significativas e prazerosas.

Vale lembrar outros fatores interferentes nessas decisões de evasão, como por exemplo, a falta de perspectiva profissional e, pior, a falta de emprego! Valendo-se da ideia de que o ser humano constitui-se pela capacidade de escolher metas para guiar sua trajetória de vida, o “educar para transformar a vida” implica na consideração e validação de projetos de vida.

Apenas com um olhar inovador e inclusivo a questões centrais do processo educativo (o que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativas e como avaliar o aprendizado) ocorrerá a continuidade/conclusão da educação básica com uma experiência sentida e orientada para o ser e pertencer ao mundo em sociedade.

Sem dúvida, a educação é um tesouro a descobrir, a se emancipar do olhar disciplinar longe do mundo e da vida!

Gláuci H. Mora é mestre em Psicologia e Educação pela USP, orientadora educacional do ensino médio no Colégio Uirapuru e professora na Faculdade Prof. Wlademir dos Santos (WlaSan)