Metodologia Montessori é alternativa para a educação infantil
Desde 1910, quando chegou ao Brasil pelas mãos da educadora Joana Falce Scalco, a metodologia Montessori de ensino vem ganhando cada vez mais espaço. Crédito da foto: Pixabay
Desde 1910, quando chegou ao Brasil pelas mãos da educadora Joana Falce Scalco, a metodologia Montessori de ensino vem ganhando cada vez mais espaço. Hoje, são 35 escolas que se declaram montessorianas no país. Originalmente, o método foi desenvolvido pela educadora italiana Maria Montessori, em meados do século XX, e, desde então, já conquistou centenas de famílias ao redor do mundo, incluindo os papais e mamães de crianças que se tornaram personalidades influentes, como os fundadores do Google, Larry Page e Sergei Brin; o fundador da Amazon, Jeffrey Bezos; e o co-fundador da Wikipedia, Jimy Walves.
Popularmente conhecida pelos quartos decorados com móveis e objetos ao alcance dos pequenos, a metodologia de ensino Montessori se sustenta por seis pilares educacionais: a autoeducação, o conhecimento como ciência, a educação cósmica, o ambiente preparado, o adulto preparado e a criança equilibrada. O método busca criar um cenário de aprendizado que propicie o desenvolvimento da autonomia através desse conjunto de elementos, de modo a formar cidadãos independentes, criativos, confiantes e protagonistas de ações de mudanças.
“Todo esse processo de desenvolvimento necessita de contextos adequados para que as crianças atinjam o melhor de suas potencialidades”, afirma Edimara de Lima, membro da Comissão Científica da Organização Montessori do Brasil. Para ela, para que esse objetivo seja alcançado, é essencial que as escolas acolham as diferenças e individualidades de cada criança, para que se construa um ambiente mais produtivo.
Mais do que aprender brincando
É bastante comum que o método seja definido como uma forma de “aprender brincando”, porém, para os educadores da área, não se trata exatamente disso. Segundo Pamela Mescollotto, 29, diretora da escola Cantinho da Criança, de fato as crianças
aprendem na prática, com base em materiais concretos, mas esses materiais são itens de trabalhos, específicos para cada finalidade. “Nós reforçamos sempre com as crianças a funcionalidade de cada material, para que não sejam confundidos com simples brinquedos”, ela explica.
Através dos materiais sensoriais, as crianças experimentam em sala de aula atividades que buscam afinar a coordenação motora, trabalhar a manipulação de formas e dimensões e desenvolver a organização e a responsabilidade em relação ao meio ambiente e as pessoas ao redor. Todos os materiais devem estar ao alcance da criança, para que a escolha pelas atividades esteja sob seu controle. Mescollotto observa que muitos pais apresentam resistência quanto a esse aspecto. “A preocupação maior dos pais em relação à preparação do ambiente é com a segurança. Eles têm medo que a criança se machuque. Mas, quando defendemos o acesso aos materiais, não estamos falando de todos objetos da casa; o que aparenta risco deve ser mantido longe do alcance das crianças”, diz a diretora.
O método destaca ainda a importância da socialização. Assim, as escolas de linha Montessori são organizadas em turmas que contemplam crianças de idades distintas. Elas dividem o ambiente de aprendizado e realizam as atividades observando umas às outras. Porém, ainda que o ambiente seja compartilhado, cada material disponível em sala de aula é único, o que permite que apenas uma criança manuseie cada atividade por vez, de modo que seja possível exercitar a paciência e a gentileza.
Para Sibelle Dumpierre, mãe do pequeno Breno, 2 anos, essa condição é positiva. “De início, ele não conseguia interagir com outras crianças, por ser filho único. Hoje, oito meses depois de ser matriculado em uma escola Montessori, ele nos conta de suas brincadeiras com os colegas.”
Autonomia e o papel do educador
Apesar de estimular a habilidade de autodisciplina, a proposta pedagógica não anula a função do professor como responsável por manter a ordem e garantir o melhor aproveitamento do tempo e do espaço em sala de aula. Para Lima, oferecer possibilidades de escolha é o principal papel do educador nesse cenário. “O professor é o guia. Ele pode orientar a criança, despertando o interesse pelas atividades ou instruir em relação à utilização de determinados materiais da maneira correta”, complementa
Mescollotto. A partir daí, a escolha pelas atividades e o período que passarão dedicadas a cada operação são decisões das próprias crianças.
Essa autonomia proposta pelo método Montessori também é um frequente alvo de críticas, já que, para alguns, a liberdade oferecida é interpretada como falta de imposição de limites, o que pode atrapalhar o processo de educação. Para a mãe do Breno, essa também foi uma preocupação no início: “Meu medo era de que ele não aprendesse. Como os professores exercem o respeito ao tempo de cada criança, pensei que ele fosse demorar para aprender e fazer amigos. Eu me assustei com essa liberdade”, conta, mas reconhece que, no caso de Breno, os resultados são visíveis: “Ele adora nos ajudar a preparar os alimentos, reconhece todas as letras do alfabeto, usa os talheres com destreza. Um dia, ao fazer uma omelete, eu notei meu filho puxar uma cadeira, pegar o recipiente, quebrar o ovo e dizer: ‘Deixa comigo, mamãe. Eu faço!’ A partir de então, passei a prestar mais atenção e vi que ele não precisa da minha intervenção para tudo. Ele tenta fazer e quando vê que não consegue, admite e pede ajuda. Em poucos meses, ele ficou muito independente”. (Flávia Nardelli Lopes Rosa - Agênia Focs)
[irp posts="181218" ]