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Curso de Medicina da PUC campus Sorocaba recebe nota máxima em avaliação do MEC

29 de Junho de 2019 às 11:57

Maria Helena Senger: conquista inédita para o curso de Medicina. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Um currículo que já pertence ao século 22. Essa é a constatação dos avaliadores do Ministério da Educação (MEC) a respeito do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) campus Sorocaba, que conquistou a nota máxima -- 5 -- no Conceito Final de Curso, obtida por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).  O curso, que sempre foi elogiado pela qualidade do ensino e, ao longo dos anos, projetou o nome da cidade para os mais variados lugares, atraindo estudantes de todo o País e também do exterior, se consolida como um dos melhores do Brasil. Isso acontece no momento que se completam 70 anos de sua criação, em Sorocaba, a primeira cidade do interior do Brasil a ter Medicina.

A avaliação foi realizada in loco, por técnicos do Ministério, nos dias 28 e 29 de maio, focando especificamente em três dimensões do curso: Organização didático-pedagógica, Infraestrutura e Corpo docente. Para chegar ao resultado, os avaliadores realizaram reuniões com coordenação, direção, alunos e professores dos cursos. Visitaram laboratórios, biblioteca, salas de aula e os locais de estágio.

Durante a análise, foram atribuídas a cada item notas até 5, o que deu origem ao chamado “Conceito Final Contínuo”. Esse conceito gera o “Conceito Final Faixa”, que é um número inteiro, sendo 5 o maior possível. No caso da PUC de Sorocaba, o “Conceito Final Contínuo” obtido foi 4,89 -- resultado da média das notas --, consequentemente, o “Conceito Final Faixa” foi 5, a nota máxima.

O professor doutor Luiz Ferraz de Sampaio Neto, diretor da faculdade, afirma que fez uma assembleia para contar sobre a nota para o corpo docente, alunos e a coordenação do curso, tamanha a felicidade. “A nota anterior era 3.79 e foi para 4.89. Fico muito orgulhoso”, comenta. Tudo isso foi possível, lembra o diretor, porque foi um trabalho desenvolvido em grupo, com profissionais comprometidos, desde reitoria até todo o corpo de funcionários.

Luiz Ferraz de Sampaio Neto: orgulho da avaliação da faculdade. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Feliz com o resultado, a professora doutora Maria Helena Senger, coordenadora do curso, afirma que entre as observações feitas, os avaliadores disseram ainda que todas as inovações curriculares, juntamente ao internato de três anos, permitem uma formação exemplar dos estudantes. “É uma conquista enorme, inédita para o nosso curso de Medicina. É a coroação de um trabalho que estamos realizando há 13 anos. O novo projeto pedagógico tem uma linha mais moderna. O que fazemos é realmente muito inovador, porque não temos mais disciplinas, são módulos integrados”, afirma. “Nada supera a gente ser avaliado por quem não é da casa, desde que seja feito com lisura, como aconteceu com a gente. A sensação que deu é que fomos referendados, não só para a faculdade, mas para Sorocaba, para todos os pacientes, etc. A gente quer que a cidade se orgulhe do curso que recebeu há tantos anos.”

Na nota “Conceito Final Contínuo”, o curso perdeu alguns pontos em itens que já se imaginava que poderiam ser melhorados, como na infraestrutura. “Foi considerada adequada, mas o MEC apontou que precisa de modernização para acompanhar o projeto pedagógico”, diz Maria Helena.

Segundo Maria Helena, o que motivou a mudança curricular foi que a comunidade acadêmica não queria mais do mesmo. Por isso, a renovação proposta foi abraçada pelos professores e alunos e superou as expectativas. Um dos aspectos da inovação é que logo no primeiro ano os estudantes de Medicina já têm práticas. Outra novidade é o currículo em espiral, em que o aluno revê matérias ao longo de todo o período do curso, em variados contextos. Já o internato (que é o estágio) dura três anos, ou seja, um ano a mais que os outros cursos de Medicina.

Também está havendo uma preocupação maior com o paciente, o ser humano que está precisando de tratamento. “Temos conteúdos de antropologia, saúde mental, ética e espaços reservados para que os alunos façam reflexão sobre a prática médica, analisem o que poderiam ter feito melhor do ponto de vista técnico e humanitário, com o paciente.”

Maria Helena cita que os estudantes atendem pacientes de Sorocaba e região com as mais diferentes necessidades. “Temos estágio no Lar São Vicente de Paulo, na Apae, no CIM Mulher... Fazem atendimento e têm contato com as mais variadas histórias de vida”, disse, acrescentando que os alunos estão tendo um olhar mais atencioso, desenvolvendo esse lado do cuidado.

As atividades práticas do curso de Medicina são realizadas principalmente no Conjunto Hospitalar de Sorocaba, constituído de três hospitais dentro do campus (Hospital Santa Lucinda da PUC-SP e Hospitais Regional e Leonor Mendes de Barros, ambos do Estado) onde são feitos procedimentos médicos de alta complexidade como cirurgia bariátrica, neurocirurgias, transplantes renal e de córnea.

Ainda há atendimentos na rede municipal de saúde, compreendendo as seis UBSs que possuem Estratégia de Saúde da Família (ESF), o Centro de Saúde-Escola e o Ambulatório Geral e de Especialidades. Os estudantes, sempre amparados pelo corpo docente, também estão no Novo Regional. Há parceria inclusive com Votorantim, por meio da Secretaria Municipal da Saúde.

Método desafiador

“Desde pequena, dizia que queria ser médica. Sempre foquei nisso. Quando entrei na faculdade, vi que era o que eu esperava mesmo”, afirma Natália Ferreira Caneto, 22 anos, aluna do 3º ano de Medicina e presidente do Centro Acadêmico Vital Brazil.  Conforme ela, como a metodologia da PUC em Sorocaba é a Problem-based Learning (PBL) -- em português, Aprendizagem baseada em Problemas (ou Projetos), ou seja, é ativa e bastante diferente, existem algumas dificuldades. “Mas a faculdade vai ensinando a lidar com o método e a cada ano que passa, a gente vai percebendo como o método é efetivo, como de fato a gente aprende na prática”, comenta.

Natália Ferreira Caneto é aluna do 3º ano de Medicina. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Natália conta que por esse sistema de ensino, desde o primeiro ano, os estudantes começam a ir em hospitais, UBSs... “Claro que fazendo coisas que condizem com as nossas limitações. Primeiro conhecemos o funcionamento dos lugares, depois aprendemos como um atendimento de saúde da família é organizado. Quando acumulamos bagagem, aí começamos a atender, mas já vamos entrando no cenário, nos ambientando ao contato com os pacientes. É grande o crescimento que isso nos causa.”

Nesse método, a todo momento, os alunos retomam algum aprendizado. “Fazemos estudos em grupo. Somos divididos em dez pessoas e temos acompanhamento de um tutor. Todos se ajudam e tendo um grupo diversificado, podemos ver as coisas de formas diferentes, em profundidades diferentes, então isso complementa o estudo.” Outra vantagem do método, diz a estudante, é a oportunidade de ver a necessidade do paciente na prática. “Aí vemos a necessidade de buscar conhecimento e fica mais prazeroso estudar, você se sente mais motivado. É pesado, difícil, mas você sente prazer, ainda mais quando gosta do curso.”

Quando chega o momento do internato (estágio), os estudantes começam a se deparar com casos mais complexos, envolvendo todas as áreas essenciais da Medicina. “Quando acaba, aí é iniciada a residência, que é algo mais específico. É uma vida de estudos, que só compensa pelo prazer que a gente sente em cuidar do outro”, afirma.

Como os alunos da faculdade têm porta aberta para estudos em alguns hospitais e UBSs, eles acabam experimentando diversos tipos de atendimento. “Eu prefiro as UBSs primeiro por ser a porta de entrada do sistema de saúde, o que deveria ser mais valorizado. É um espaço onde você percebe que o pouco que você pode oferecer pode ser muito para a pessoa”, afirma, exemplificando que às vezes o que paciente precisa é ser ouvido, conversar. “Ouvir a pessoa faz uma grande diferença para a vida dela, acho isso extremamente gratificante. Há um grande movimento na Medicina para relembrar que somos humanos. Nossa faculdade tem um curso muito bom. A nota do MEC é bem adequada ao que a gente vive aqui.”

Desde a primeira turma

O médico pediatra Edgard Steffen, 88 anos, é um dos cinco alunos da primeira turma da faculdade de Medicina da PUC que estão vivos. Natural de Indaiatuba, veio a Sorocaba para estudar e, como muitos, acabou se estabelecendo na cidade. Ele lembra que após a autorização para o funcionamento do curso, o corpo docente escolhido preferiu esperar um ano para começar, afim de preparar o material didático. “Todo o material que consultávamos ou usávamos era novíssimo”, recorda.

O médico pediatra Edgard Steffen foi aluno da 1ª turma da faculdade de Medicina da PUC. Crédito da foto: Emídio Marques

Edgard recorda que foram abertas 50 vagas para o primeiro vestibular, mas entraram apenas 24 estudantes. “Sobraram vagas e foi feita uma segunda época. Aí entrou um aluno a mais e precisou de autorização do MEC para o curso funcionar com 51 estudantes.” O médico afirma que para se ter ideia de como o curso foi estruturado e rigoroso, dos 51 alunos, formaram-se apenas 36 na primeira turma. “Ou você estudava e enfrentava as provas ou poderia ser reprovado e isto aconteceu. Na verdade terminamos com 39 porque vieram alunos transferidos de outras cidades depois.”

Teve gente que entrou com Edgard, mas se formou na quinta turma. “Era dedicação total, não podia ter emprego e nada porque as aulas começavam 7h na segunda-feira, oito horas de aula por dia, às vezes um pouco mais, e terminavam às 17h de sábado”, lembra.

Para Edgard, a PUC realmente levou a docência da profissão a sério. “Fico muito feliz que isto se manteve. Tenho duas netas que se formaram recentemente e soube que mudou o sistema de ensino, que hoje a faculdade usa um sistema em que o aluno entra e já começa a resolver problemas sob a tutela de algum docente. A nota do MEC, agora, mostra que o sistema, mesmo tendo mudado, continua funcionando.”

O médico cita que a faculdade de Medicina formou grandes especialistas (veja alguns deles no quadro) e também teve grandes didatas. “Entre eles o Jair Xavier Guimarães, professor de Infectologia. Ele dava aulas tão bem articuladas que aquilo que ensinava em um ano, no ano seguinte a gente ainda usava direto os métodos”, recorda.

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Conforme Edgard, era uma época que só podia pedir exames depois de formular uma hipótese e ter uma dúvida. “Não como hoje, que primeiro você faz uma bateria de exames para depois tentar encontrar a solução. Hoje, se você não pedir exames e cometer erro, está sujeito a ser processado por má prática da profissão”, afirma, acrescentando que por isso que há um excesso de exames. “O progresso da Medicina levou a isso. Tem crescido demais o conhecimento científico, médico, biológico, e os diagnósticos vão se aperfeiçoando. Por causa disso, hoje você não consegue, em seis anos de curso, fazer com que o médico conheça tudo, então a especialização é tendência”, diz.

O problema, na opinião de Edgard, é que continua uma grande carência de médicos generalistas. “O SUS ou o atendimento familiar tem de contar com um profissional que conheça as bases da Medicina, que saiba formular diagnósticos e gere o mínimo de encaminhamentos. Eu sempre digo que em 80% dos casos, você pode resolver tudo na rede básica. Do que resta, 15% teria de passar por especialidade e apenas 5% para alta complexidade.”

Um pouco de história

A Faculdade de Medicina de Sorocaba foi incorporada à PUC-SP em 1970. Crédito da foto: Erick Pinheiro

A Faculdade de Medicina de Sorocaba foi incorporada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1970. Até então era mantida pela Fundação Sorocaba. A partir disso, o nome passou a ser Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FCMS-PUC).

A FCMS-PUC conta com os cursos de graduação em Medicina e Enfermagem, programas de residência médica e de aprimoramento de estudos, mestrado profissional e cursos de extensão. Atualmente, o corpo docente conta com 183 professores sendo 86 doutores, 69 mestres e 28 especialistas. A instituição já formou, durante todo o tempo de existência, 5.164 profissionais.

Ex-alunos notáveis

A PUC já formou diversos profissionais de sucesso. Crédito da foto: Emídio Marques

Entre os muitos alunos que passaram pela instituição e que se tornaram muito reconhecidos em suas profissões, destacam-se:

Rosana Maria Paiva dos Anjos - Foi a primeira médica no Brasil a receitar o coquetel do HIV para uma criança, então só indicado a adultos. A menina começou a tomar o coquetel, em 1996, com 9 anos de idade. Teve carga viral indetectável e virou símbolo da luta contra a doença.

Diltor Vladimir Araujo Opromolla - Pesquisador Emérito do Instituto Lauro de Souza Lima de Bauru. Em 2004, recebeu homenagem do Ministério da Saúde pela contribuição dada ao País e ao mundo para a descoberta da cura da hanseníase.

Ming Liao Tao - Não chegou a exercer a profissão. Se tornou referência no mundo da moda, tendo trabalhado com nomes como Reynaldo Gianecchini, Anna Hickmann e Fernanda Lima na década de 1990. Proprietária da Ming Management, empresa renomada exportação de modelos brasileiros, aos 45 anos assumiu a identidade transexual e atualmente é engajada nas discussões sobre identidade de gênero e sexualidade.

José Ben-Hur de Escobar Ferraz Neto - Em 2009 foi indicado pelo ranking do anuário Análise-Saúde como um dos mais admirados por colegas brasileiros na sua especialidade. Livre Docente pela USP. É responsável pelo Programa de Transplantes de Órgãos do Hospital Israelita Albert Einstein. (Daniela Jacinto)

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