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Base curricular gera polêmica entre professores

03 de Agosto de 2018 às 15:22

Professores do ensino médio reclamam da falta de espaço para que pudessem expressar suas opiniões. Crédito da foto: Marcos Santos / USP Imagens

No Dia D de discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ocorrido nesta quinta-feira (2) por orientação da Secretaria de Estado da Educação, professores da rede estadual se manifestaram contra a proposta e fizeram abaixo-assinado. A reportagem conversou com diversos profissionais, cada um de uma escola da cidade, e a resposta foi que o governo passou um documento pronto, sem de fato ouvir os educadores.

Um professor de química disse que o documento serviu apenas para poder comunicar sobre o que vai acontecer. "Ou o que já está acontecendo, não é?", disse. As perguntas propostas no texto eram para pedir opinião com relação a conteúdos já definidos. Não entraram aí nada relacionado a discutir se o ensino médio deve ou não ter 40% destinado ao ensino à distância (EaD), ou se concordam que pessoas "de notório saber" assumam aulas, entre outros pontos que os professores consideram importante serem discutidos.

"O Estado de São Paulo já tem um material que é usado pela Secretaria da Educação há 11 anos, então temos uma grade curricular definida. Essas habilidades e competências que pediram para 213avaliarmos, já são contempladas", acrescenta o professor. "O documento não permite opinar ou tampouco intervir na BNCC. Em hipótese alguma dá essa abertura para o professor ter autonomia de influenciar ou decidir sobre a mudança."

O professor de química ainda comenta que na escola onde trabalha todos os professores se reuniram para falar sobre o assunto. "Não aprovamos, justificamos e fizemos abaixo-assinado. Sei de escola que nem fez a discussão e de outras que o diretor impôs. Na nossa, conversamos a respeito e decidimos desse modo."

Uma professora de história também disse que não foi bem uma discussão. "Foi só um aceite. Tínhamos de responder um questionário e entregar. Mandaram só para falar que consultaram os professores. Vários colegas não aceitaram e fizeram um abaixo-assinado. Não estamos de acordo não", comentou. O abaixo-assinado que fizeram foi aquele orientado pelo sindicato da categoria, a Apeoesp. "É um golpe na educação. A coisa já está pronta e não vão mexer em nada", ressaltou.

Professores da Educação para Jovens e Adultos (EJA), também receberam o documento, mas não teve muita polêmica. Uma professora de sociologia que trabalha nessa área comentou que pode ser por não trabalharem diretamente com os adolescentes e por isso o clima foi outro. "O documento abordou as áreas do conhecimento e nós participamos. Respondemos questionários, os quais falavam sobre as competências e habilidades que acreditávamos serem pertinentes para o ensino médio em cada área do conhecimento", disse.

Conforme ela, apesar da participação ter sido tranquila, existem muitas dúvidas ainda quanto à real eficácia do projeto, que são enfrentadas para além da parte pedagógica, mas que influenciam na mesma. "Vivemos uma realidade difícil ainda em muitas escolas quanto à infraestrutura elementar para o funcionamento, como banheiros, cozinha, etc. Há uma grande complexidade quanto à realidade educacional como o insucesso estudantil, a evasão e outros problemas da escola. O poder público que tem que ter vontade política e realmente investir na educação como um todo", comentou.

Já um docente de sociologia de outra escola disse que os educadores fizeram um trabalho com os alunos anteriormente, avisando sobre o Dia D e explicando mais sobre a BNCC. "Falamos como será e também colocamos as consequências dessa mudança no ensino, porque os afetará diretamente."

Ontem foi a vez dos professores conversarem sobre o tema entre si. "Não encontrei nenhum professor onde trabalho, que esteja de acordo com a Base. Fizemos um documento para expressar nossa indignação e rejeição à proposta. A grande maioria dos alunos também se posicionou contra", disse. Ainda de acordo com esse docente, a iniciativa foi em conjunto e nenhum deles tinham conhecimento da orientação da Apeoesp. "Rejeitamos após conhecermos o documento mesmo".

Iniciativa

A iniciativa do governo, em fazer o "Dia D de discussão sobre a BNCC do ensino médio" com os professores, partiu do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), com apoio do Ministério da Educação (MEC). Conforme a presidente do Consed, Cecilia Motta, secretária de Educação do Mato Grosso do Sul, o objetivo da ação foi realizar uma grande consulta pública sobre a Base e receber sugestões de melhorias. "Vamos perguntar aos professores se as competências e habilidades presentes na proposta tem clareza e pertinência. Também queremos saber se eles enxergam a presença de todos os componentes nessas habilidades", comentou, ao anunciar a ação. Esta, no entanto, foi contestada por duas entidades representantes da categoria, a Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp) e a Apeoesp, que é o sindicato dos professores.

O Dia D foi promovido nas próprias escolas e, conforme a secretaria da Educação do Estado de São Paulo, cada unidade de ensino deveria reunir o corpo docente do ensino médio para a realização de cinco atividades. A principal delas era o preenchimento do formulário de avaliação da BNCC. Nesse momento, de acordo com a atividade proposta, os professores seriam divididos por áreas de conhecimento, para analisar as competências e habilidades da sua área.

Saiba mais informações sobre a Base em basenacionalcomum.mec.gov.br. Se quiser conhecer a proposta enviada aos professores, acesse aqui.

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