E hoje é dia 15
Professor é um profissional encantador
Os olhos vocacionados brilham quando falam de seus alunos e dos desafios e conquistas em sala de aula
“Eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja dar aula”. A fala é de Arthur Augusto Paes de Moraes, de 34 anos, professor de educação física do Colégio Politécnico, mantido pela Fundação Ubaldino do Amaral (FUA). A declaração retrata a paixão dele pela profissão. Moraes está entre os milhares de profissionais sorocabanos responsáveis por formar todos os outros.
Professor há 14 anos, Moraes percebeu a sua vocação ainda na infância, pois sempre gostou de praticar esportes e do ambiente escolar. A certeza sobre a educação física veio no terceiro ano do ensino médio, durante uma orientação vocacional. Já a confirmação de que a sala de aula era o seu lugar, ocorreu na faculdade. “Logo no primeiro semestre, consegui estágio em uma escola. Lá, eu tive a certeza que o eu queria era ser professor de educação física”, contou. "Nem passou pela minha cabeça trabalhar em outra área, como academia', complementou.
Para o docente do Politécnico, a melhor parte da profissão é contribuir para transformar a vida dos alunos, por meio do processo de ensino-aprendizagem. E os resultados do seu trabalho e esforço são vistos na prática. “Tive uma experiência com os sétimos anos, em que comecei a ensinar basquete. Um aluno se apaixonou pela modalidade e começou a buscar conhecimento (sobre o esporte) e treinar fora da escola”, citou.
Segundo o professor, a recompensa do seu esforço não vem em forma de prêmios, mas, sim, em reconhecimento. Ele mesmo conseguiu o emprego no colégio por conta de reconhecimento. “O Politécnico estava precisando de um segundo professor de educação física. Uma mãe de um aluno da escola onde eu trabalhava me indicou para a direção do Poli e falou: ‘tem um professor que mudou a vida do meu filho’”, relatou. “Os alunos reconhecem que o professor está ali para ajudá-lo, percebem que preparamos as aulas com amor e queremos o bem deles”, completou.
O educador também aprende com os estudantes, pois é uma relação de troca. De acordo com Moraes, os alunos têm muito a contribuir e alguns ensinamentos surpreendem. “Um menino de 4 anos me ensinou como eu poderia chamar um colega dele que tem uma dificuldade específica. Ele falou: tio, se você fizer dessa forma, ele escuta. Eu fiz e realmente aconteceu”, comentou.
Além disso, as crianças e adolescentes o incentivam a oferecer o seu máximo e buscar a melhor versão de si. Isso influencia diretamente na qualidade e no resultado do trabalho, bem como favorece o aprendizado dos alunos. “Eles sempre nos ensinam a estar nos reinventando, para passar atividades significativas. Isso nos motiva a estudar e a estar em constante evolução”, disse.
Desistir também nunca passou pela cabeça de Mírian Daniele dos Santos Arruda, de 33 anos, professora do ensino fundamental I na rede municipal. Lecionar sempre foi um sonho de Mírian. Ela é professora há 11 anos.
Para a educadora, o papel do docente se estende para fora da sala de aula. Além de preparar os alunos teoricamente, o profissional ajuda a formá-los enquanto seres humanos. “Nós, professores, somos mediadores e instruímos os alunos no educar. Quando eu paro para observar a beleza que é a formação de um ser humano, o simples acaba sendo extraordinário”, disse.
“O professor, muitas vezes, conhece a realidade de cada estudante. Assim, também torna-se um ombro amigo”, disse Mírian. Ela considera que o educador, enquanto figura fundamental, faz “muita” diferença na vida do aluno como um todo.
E essas mudanças são observadas no dia a dia, em gestos corriqueiros. “É perceptível em todos os momentos de troca, em conversas e brincadeiras. Eles partilham desde acontecimentos rotineiros até grandes sonhos e medos”, mencionou. “É uma grande responsabilidade e meus alunos sabem que podem contar comigo”, acrescentou. (Vinicius Camargo)
Desvalorização ainda atrapalha
“Os professores ainda enfrentam uma série de desvalorizações”. A avaliação é de Magda Souza, integrante da coordenação da Subsede Sorocaba do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp).
Um dos problemas é o econômico. Magda diz que a remuneração do educador brasileiro é insuficiente para o seu próprio sustento. “O salário é muito aquém daquilo que o professor precisa para ter uma vida digna”, frisou. “A renda baixa também impede o profissional de se manter atualizado.
A formação do professor vai além dos bancos escolares e livros didáticos. É construída, igualmente, por meio do repertório cultural obtido em idas a museus, shows e teatros, por exemplo. Só que, com essa desvalorização econômica, essa possibilidade fica muito restrita”, disse.
A questão financeira afeta o plano de carreira. “O educador inicia na área sem saber qual será a sua trajetória até a aposentadoria. Isso porque não há planejamentos de futuro profissional definidos”, avaliou Magda.
Outra dificuldade é no campo social, atrelado ao valor dado pela sociedade ao professor e se traduz por meio da violência constante contra a categoria -- um reflexo do contexto social. “A escola não é uma ilha.
Quem está nela vive na sociedade e está sob a constituição que a democracia estabelece. Se a escola está mais violenta é porque a sociedade está mais violenta”, disse Magda. Para ela, tudo isso gera desinteresse das novas gerações pela profissão, reforçando, assim, a sua desvalorização.
Hoje, o Brasil tem alguns recursos para tentar melhorar a educação e, consequentemente, ajudar o professor, como o Plano Nacional de Educação (PNE). Porém, segundo Magda, devido às adversidades ainda existentes, só o PNE não é suficiente.
“Valorizar a educação não é algo que dá para acontecer só no plano da retórica. Valorização profissional significa recursos para educação, para pagar educadores, para escolas”, exemplificou. (Vinicius Camargo)
Há mais mulheres lecionando
As redes municipal e estadual de ensino de Sorocaba somam, juntas, 6.417 professores, segundo dados da Secretaria Municipal da Educação (Sedu) e da pasta estadual. Na municipal, há 2.517 educadores e na estadual, 3.900.
Em ambas as redes, a maioria dos profissionais é mulher, com 5.169 (80%), ante 1.248 homens (19%). Nas instituições municipais, com 2.369 representantes, o público feminino corresponde a 94% do total de professores. Já o contingente masculino, por sua vez, é de 148 (aproximadamente 6%). Nas unidades estaduais, as mulheres também lideram, sendo 2.800 (71%), contra 1.100 homens (28%).
Os educadores das escolas municipais têm idade média de 43 anos, com, aproximadamente, dez anos de atuação. Em relação aos docentes estaduais, a faixa etária média é de 45 anos, com média de 15 anos de experiência.
Para atuar como professor de educação básica (PEB I), exige-se curso normal superior, com habilitações em educação infantil. Outra opção é curso de licenciatura em pedagogia, com habilitação em educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental.
Para PEB II - arte, ciências físicas e biológicas, geografia, história, inglês, língua portuguesa e matemática, é obrigatório curso superior de licenciatura específica de graduação plena. Para lecionar educação física, demanda curso superior de licenciatura específica de graduação plena e registro no conselho de classe.
Na rede estadual, o docente deve ser possui diploma em licenciatura plena na disciplina de atuação. Para os anos iniciais do ensino fundamental, especificamente, o requisito é formação em pedagogia.
O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp) -- Regional Sorocaba, responsável pela rede privada, não informou o número de profissionais que atual na rede particular. Sabe-se que há mais mulheres do que homens lecionando e que a idade média é de 40 anos. De acordo com o sindicato, geralmente, eles têm graduação e especialização, e alguns são mestres e doutores. (Vinicius Camargo)
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