Quando crescer
O assunto é educação financeira para fugir de endividamentos
Para evitar o endividamento das futuras gerações, o melhor lugar para ensinar é a sala de aula

O contato precoce com a educação financeira contribui para crianças e adolescentes tornarem-se adultos mais organizados e responsáveis. Assim, as futuras gerações têm menos chances de entrar para as estatísticas de endividamento. A avaliação é de um especialista ouvido pelo jornal Cruzeiro do Sul. Aliás, esse também seria o motivo para, desde 2020, a educação financeira fazer parte dos currículos dos ensino infantil e fundamental do país. A regra vale para escolas das redes pública e privada de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A BNCC define os conteúdos mínimos a serem ensinados em todas etapas escolares, da educação infantil ao ensino médio. Pelo documento, a educação financeira deve ser abordada de forma transversal nas instituições. Isto é, o tema tem de ser apresentado em várias aulas e projetos.
Em Sorocaba, a Secretaria da Educação (Sedu) informou que o assunto é apresentado em diversas situações e conteúdos curriculares, ao longo do período letivo. Existem algumas ações específicas que são realizadas. No segundo semestre do ano passado, ocorreu a Semana do Empreendedorismo do Sebrae em parceria com a rede municipal de ensino. Foram atendidas três unidades escolares, com aulas em período integral e voltadas a estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Participaram, inicialmente, alunos das escolas municipais “Prof. Amin Cassar”, “Jaci Dourado Matielli” e “Walter Carretero”. O projeto, além de abordar a educação financeira, ainda buscou desenvolver habilidades e competências empreendedoras.
Outra ação ocorreu em outubro de 2021, em referência à Semana da Educação Empreendedora, também contando com a participação do Sebrae, quando os professores foram instrumentalizados para trabalhar a educação financeira em sala de aula. Sendo que neste ano, com uma proposta semelhante, o trabalho foi realizado de forma on-line, de 21 a 25 de março com o tema “Empreendedorismo no Ensino Fundamental: Objetos de Aprendizagem”. Nesse caso, o objetito foi apresentar diferentes propostas pedagógicas aos professores, para que esses transmitam conhecimento aos alunos. A formação teve duração de 20 horas/aula e forneceu certificado aos docentes.
Entre as ações mais recentes, houve apresentação de teatro infantil para alunos de várias escolas da rede municipal, com o objetivo de ensinar as crianças, de uma forma lúdica, os princípios da educação financeira e como gerenciar o próprio dinheiro, formulando projetos e a realização de sonhos no futuro. No dia 15 de setembro, um trabalho de formação, dirigido aos vice-diretores do Ensino Fundamental da rede municipal. Além disso, a Sedu informou que adquiriu material didático do projeto ‘Banco Mais na Escola‘, para que o tema seja aprimorado em sala de aula regular. Contudo, o projeto ainda aguarda para ser implantado. “Houve ação do Ministério Público questionando essa aquisição e a Sedu, neste momento, aguarda decisão judicial para dar prosseguimento a esse importante projeto”, explicou a nota.
Superendividamento
Em agosto deste ano, o percentual de endividamento no País cresceu e atingiu 79% da população. Em relação a julho, quando o índice ficou em 78%, a alta foi de um ponto porcentual. Já no comparativo com o mesmo mês do ano passado (72,9%), a diferença alcança mais de seis pontos percentuais. Os dados são da mais recente Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Para o economista e professor da Universidade de Sorocaba (Uniso), Marcos Canhada, a educação financeira mostra-se primordial no Brasil. Segundo o especialista, mais do que um cenário alarmante, os dados revelam a falta de preparo dos brasileiros para lidar com as próprias finanças. Canhada diz que muitas pessoas não sabem gerir a própria vida financeira porque, ao longo da vida, não são habilitadas para isso. Assim, sem esse conhecimento, tendem a enfrentar problemas financeiros.
Por isso,o economista aponta que ensinar educação financeira nas escolas é uma das maneira mais eficazes para mudar esse quadro. Além de aprender a administrar o próprio dinheiro, ele considera essencial as crianças conhecerem os diversos aspectos econômicos, como inflação e juros. Neste sentido, vê a aprendizagem de conteúdos sobre a importância de poupar para o futuro como igualmente fundamental.
Segundo ele, esses conteúdos devem começar a ser ministrados desde os primeiros anos, pois, assim, os resultados serão melhores. Com toda essa base, os mais novos ficam propensos a crescer com maior disciplina e equilíbrio financeiro. “Com a preparação dos agentes transformadores, ao longo do tempo, os hábitos e comportamentos perante às finanças vão mudando e, a médio e longo prazo, vão haver menos inadimplentes. E esses dados (de endividamento e inadimplência) vão melhorar”, acredita.
Outro benefício citado pelo professor é o fato de as crianças e adolescentes replicarem os aprendizados em casa. De acordo com ele, ao transmitirem os seus conhecimentos para os pais ou responsáveis, os alunos podem ajudá-los a solucionar problemas das finanças familiares. Isso pode auxiliar, por exemplo, a família a sair do vermelho e, assim, mudar uma realidade desfavorável. Dessa maneira, o alcance e os resultados da educação financeira se ampliam. “É um processo que vai criando uma cadeia de informações e que precisa ser propagada”, fala. “É uma mudança cultural e isso se altera exatamente com a intensidade da informação e com a qualidade da formação”, completa.
Escolas particulares
De acordo com o Sindicato das Escolas Particulares o assunto já era abordado de diversas formas, mas com a BNCC, a educação financeira ficou mais evidente nos itinerários formativos que são aplicados nas matérias eletivas.
“A rede particular de ensino promove grandes projetos de envolvimento na comunidade escolar em datas importantes do ano letivo. Nas pesquisas e na elaboração dos trabalhos a serem apresentados realiza-se a interdisciplinaridade. Frequentemente, a educação financeira, que é competência da área da matemática, faz intercâmbios com empreendedorismo, filosofia, sociologia e projetos de vida” explica a entidade.
O jornal Cruzeiro do Sul questionou a Secretaria da Educação do Estado para saber se educação financeira já faz parte dos currículos das redes estadual, mas não recebeu a resposta até o fechamento desta edição. (Vinicius Camargo)