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João Alvarenga

Afogado em senhas

Entrar em pânico só piora as coisas, porque parece que a tecnologia sempre tem razão

25 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ILUSTRAÇÃO: LUITZZ TERRA)

João Alvarenga

Tudo hoje gira em torno dos famosos aplicativos. De repente, isso virou uma febre. Resultado: os aparelhos não dão conta de baixar tantos aplicativos, pois estão abarrotados desse tipo de serviço que as empresas oferecem para, em tese, facilitar a vida dos usuários. Até aí, tudo bem. O problema, mesmo, é a danada da senha, pois todas as ações digitais giram em torno delas. Aí, a memória vai pro espaço, também pudera, é senha pra tudo! Pra comprar, pra vender, cancelar, ativar ou desativar bens e serviços. Tem senha até para reclamar das senhas.

Ou seja, a sociedade do século 21 está afogada em senhas e, se a cabeça não guarda os números, a qualidade de vida é afetada, pois aquilo que acenava com o fácil acesso às maravilhas do mundo digital, em pouco tempo, tornou-se uma tortura pra muita gente, principalmente para idosos e negacionistas do mundo virtual.

Exagerados à parte, as senhas se tornaram a estrela do momento e, quando alguém se esquece da sequência numérica para acessar até mesmo a conta de e-mail, o mundo trava. Emperra tudo e, nessas horas, bate aquele nervosismo que não ajuda em nada. Entrar em pânico só piora as coisas, porque parece que a tecnologia sempre tem razão. E, embora todo mundo saiba que, se errar a sequência três vezes, o cartão será bloqueado, os números sempre dão nó no cérebro, exatamente no momento em que nada pode falhar.

Assim, como se já não bastassem os números das contas bancárias, (cartões de débito e crédito), do PIX, agora, as clínicas passaram a exigir os tokens, sistema numérico enviado pelos planos de saúde, via torpedo, para validar consultas. No fundo, é mais uma burocracia (no país das burocracias), criada para infernizar a vida de quem alimentava a ilusão de que passaria a vida ausente do mundo virtual. Logo, cada vez mais, o cidadão depende do celular, pois é praticamente impossível sair de casa sem ele; afinal, o que antes era um simples telefone, nos dias atuais, é passaporte para a cidadania virtual.

João Alvarenga é professor de redação e cronista